Um dos estádios mais antigos e emblemáticos do país, São Januário vive um período de quietude. Sob interdição judicial a pedido do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro desde o jogo contra o Goiás, em 22 de junho, o estádio do Vasco teve seu pedido para a presença de mulheres, crianças e pessoas com deficiência negado pela desembargadora Renata Machado Cotta às vésperas do confronto contra o Grêmio, neste domingo, pelo Campeonato Brasileiro.
“… seria irresponsável concluir pela impossibilidade total de que mulheres ou pessoas portadoras de alguns tipos de deficiência provoquem tumulto ou enfrentem violentamente torcedores do time adversário”, diz um trecho da sentença recente, apesar da tentativa do Vasco de liberar o estádio para a próxima partida.
A equipe jurídica do Vasco atuou em duas frentes para liberar o estádio. Ao ter acesso aos autos dos processos, tanto no Superior Tribunal de Justiça Desportiva quanto no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, a reportagem do ge revelou que o clube anexou relatórios de segurança antes do jogo contra o Goiás e também após todos os problemas do jogo de 22 de junho.
Esses relatórios incluem um parecer de segurança emitido pelo Batalhão Especializado de Policiamento em Estádios em junho, um mês antes de Vasco 0 x 1 Goiás, e também uma carta da Associação de Moradores da Barreira do Vasco, que criticou a interdição do estádio e expressou descontentamento em relação à localização de São Januário, na zona norte do Rio de Janeiro.
A declaração, assinada pela presidente da associação Vânia Rodrigues, não mencionou diretamente o relato do juiz plantonista Marcello Rubioli, que embasou o pedido do promotor do Ministério Público Rodrigo Terra para interditar o histórico estádio vascaíno.
“… transformou-se em um verdadeiro campo de batalha, demonstrando a total incapacidade da organização esportiva de operar eventos esportivos, bem como a completa falta de estrutura do estádio, falta de estrutura essa que representa um risco real para a integridade física de jogadores, árbitros e torcedores do bem (sic), assim como para policiais, guardas municipais e stewards”, dizia um trecho do relato do juiz, que acrescentou:
“Para contextualizar a total falta de condições de operação do local, desde a área externa até a interna, percebe-se (sic) que todo o complexo está cercado pela comunidade da Barreira do Vasco, de onde frequentemente são ouvidos tiros vindos do tráfico de drogas lá instalado, o que gera um clima de insegurança ao chegar e sair do estádio. São ruas estreitas, sem saídas alternativas, que sempre ficam lotadas de torcedores embriagados antes de entrar no estádio”.
Destacando a importância dos jogos do Vasco para a comunidade, a proximidade com o clube e as baixas taxas de criminalidade na região, a presidente da Associação de Moradores da Barreira do Vasco protestou contra as declarações preconceituosas dirigidas à Barreira do Vasco:
“… somos punidos sem sermos ouvidos com base em uma visão deturpada que trata da mesma forma todas as comunidades do Rio de Janeiro… a interdição injustificada do estádio de São Januário causa prejuízos imediatos a todo o nosso comércio local… por meio desta, repudiamos as manifestações elitistas de pessoas que sequer conhecem a nossa realidade…”, diz parte da nota.
Corregedoria investiga policial que disparou na torcida
Vale ressaltar que um dos relatórios de segurança – de 29 de maio – faz observações sobre as dificuldades naturais de segurança enfrentadas na realização de grandes jogos do Vasco em São Januário. Devido à localização geográfica do bairro de São Cristóvão, hoje conhecido como Vasco da Gama, com ruas estreitas ao redor e, é claro, devido às condições antiquadas das instalações de um estádio com poucas reformas estruturais em quase 100 anos.
“O estádio possui uma estrutura antiga e os arredores são incompatíveis com a magnitude de alguns jogos realizados nele. Essas características exigem um enorme esforço da Polícia Militar para garantir a segurança dos torcedores”, diz um trecho do relatório do BEPE, de maio. O Batalhão recomenda, há algum tempo, que não sejam realizados clássicos cariocas no estádio e condiciona a presença de torcidas visitantes a 5% da capacidade total de São Januário – que atualmente tem uma lotação de aproximadamente 22 mil pessoas.
O clube também anexou em sua defesa um tipo de prontuário de feridos no dia do jogo contra o Goiás, com oito atendimentos sem gravidade – alguns deles por inhalamento de gás de pimenta utilizado pela Polícia Militar. Além disso, o Vasco enfatizou que realizou reuniões prévias com autoridades estaduais responsáveis pela segurança no estádio, inclusive em uma carta enviada ao BEPE e ao Ministério Público, incluindo um ofício ao promotor Rodrigo Terra, que respondeu em 3 de maio que “não possui uma lista dos torcedores impedidos de frequentar eventos esportivos”.
Fonte: Globo Esporte
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