Finalmente, o Vasco demonstrou sua força em casa no Brasileirão. Com a vitória sobre o Grêmio na última rodada, até mesmo os vascaínos mais pessimistas começaram a acreditar minimamente na possibilidade de escapar do rebaixamento. Agora, esses mesmos torcedores estão ansiosos para retornar à Colina Histórica, que permanece interditada pela Justiça do Rio por tempo indeterminado.
O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) já autorizou o Vasco a receber público em São Januário, mas uma decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) impede isso. Além disso, o caso ainda será julgado. Por isso, o Lance! elaborou uma linha do tempo opinativa com base nos documentos aos quais a reportagem teve acesso, nas histórias e nas decisões.
Exclusão e Preconceito
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) enviou um ofício no qual um discurso preconceituoso e elitista foi reforçado pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ). No documento, a Justiça afirma que “todo o complexo é rodeado pela comunidade da barreira do vasco, de onde frequentemente ocorrem sons de disparos de armas de fogo provenientes do tráfico de drogas lá instalado, o que causa uma sensação de insegurança ao chegar e sair do estádio”.
Ao contrário do que as autoridades afirmam, a reportagem do Lance! acompanha e cobre os jogos do Vasco, principalmente de forma presencial, nos jogos em casa, e nunca testemunhou “violência ou insegurança” devido às comunidades do Arará, Barreira do Vasco e Tuiuti. Pelo contrário, as redondezas proporcionam um ambiente descontraído antes dos jogos, onde os vascaínos podem “conversar e tomar uma cerveja gelada”. O clube repudiou essa manifestação do Judiciário (relembre aqui).
Relatórios da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros
A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro e o Corpo de Bombeiros autorizaram a realização da partida entre Vasco e Goiás em São Januário. Além disso, é importante ressaltar que o estádio foi aprovado na inspeção anual em 29 de maio, ou seja, 24 dias antes do jogo.
Relatório da brigada de incêndio
O relatório emitido pela Brigada de Incêndio indicou que apenas 25% das ocorrências foram decorrentes da confusão após o jogo entre Vasco e Goiás.
Associação de moradores da Barreira do Vasco
A Associação de Moradores da Barreira do Vasco emitiu uma nota repudiando as “falas preconceituosas” e as “manifestações elitistas” contra a comunidade. Além disso, a interdição de São Januário está causando “prejuízos imediatos a todos os estabelecimentos locais”.
Em contato com comerciantes locais, a reportagem do Lance! descobriu que o lucro não é mais o mesmo nos dias de jogos, e muitos dependem dessa fonte de renda para sustentar a si próprios e às suas famílias. A situação financeira desses trabalhadores é diretamente afetada.
Mulheres e crianças
O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) autorizou a presença de mulheres, crianças e pessoas de qualquer idade e gênero com deficiência visual, surdez, cadeirantes, autistas e outros portadores de necessidades especiais em outro estádio durante os jogos do Vasco. No entanto, uma nova decisão da Justiça do Rio foi desfavorável ao clube e impediu a abertura dos portões de São Januário.
A desembargadora mencionou a confusão durante o confronto entre Sport e ABC, argumentando que “seria irresponsável concluir que é impossível que mulheres ou pessoas com certos tipos de deficiência provoquem tumultos ou entrem em confronto violento com torcedores do time adversário”.
Parecer técnico
O Vasco contratou a Dra. Marina Tranchitella, especialista em gestão do esporte, para elaborar um parecer técnico sobre a estrutura de segurança e solicitou recomendações para “aperfeiçoar a estrutura de segurança e integridade física dos usuários, visitantes, prestadores de serviços e, principalmente, do público espectador de eventos esportivos”.
A especialista confirmou os argumentos do Vasco e afirmou que documentos e imagens mostram que o clube não negligenciou em nenhum momento a segurança da operação. Além disso, a doutora afirmou que o uso de câmeras mostrou que a atuação da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) “causou pânico nos torcedores, resultando em movimentos desordenados do público, aumentando o risco da situação já existente e prejudicando a todos indiscriminadamente”.
Marina Tranchitella considera ilógico culpar o Vasco. Por fim, a especialista ressaltou que “embora possam ser adotadas medidas para aprimorar a estrutura de segurança e integridade física dos usuários, visitantes, prestadores de serviços e, principalmente, do público espectador de eventos esportivos, o Vasco da Gama SAF possui os laudos técnicos emitidos pelos órgãos e autoridades responsáveis pela vistoria das condições de segurança necessárias para a realização de jogos em São Januário”.
Vila Belmiro
Após a derrota do Santos, foi especulado que algo parecido poderia ocorrer em São Januário se o Vasco perdesse para o Goiás. O incidente na Colina Histórica foi de menor gravidade e magnitude. No entanto, o Santos só foi punido pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), ao contrário do Vasco.
Para piorar, o Santos conseguiu reduzir a pena. Como resultado, o clube poderá abrir os portões da Vila Belmiro para receber os torcedores já no jogo contra o Grêmio.
Enquanto aguarda o julgamento do processo, o Vasco está tentando jogar no Maracanã. O clube enviou um pedido aos administradores do estádio para poder utilizá-lo na partida contra o Atlético-MG, pela 20ª rodada do Campeonato Brasileiro. O Consórcio tem até quinta-feira para responder ao Vasco.
São Januário não tem sido um trunfo para o Vasco neste Brasileirão. No entanto, a vitória sobre o Grêmio pode ser o começo de uma reviravolta na equipe comandada por Ramón Díaz. Agora é a hora ideal para restabelecer a harmonia entre a torcida e o time na Colina Histórica.
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