No meio da controvérsia sobre o fechamento de São Januário após uma nova audiência no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), o Vasco publicou uma declaração nas redes sociais criticando essa decisão como sendo “excludente e discriminatória” e destacou a importância do clube em questões sociais relevantes. O time vascaíno não recebe sua torcida no estádio desde 22/6, quando perdeu para o Goiás.
Com a campanha “#AbramSãoJanuário”, a diretoria do clube tirou uma foto com uma faixa em forma de protesto no gramado do estádio, que pode receber jogos do Brasileirão, mas, de acordo com a decisão judicial, sem torcedores.
Confira o “Documento pela Justiça e Dignidade”
Em um país onde o racismo estrutural e outras formas de injustiça estão enraizados, o futebol surge não apenas como um reflexo da sociedade, mas também como um espaço de transformação. O Vasco da Gama, com seus 125 anos de lutas e resistência, enfrenta mais uma adversidade que vai além das quatro linhas do campo: a negação do direito de receber vascaínos e vascaínas em nossa casa, São Januário, um estádio quase centenário que é símbolo do futebol popular em nosso país, onde ocorre a perfeita convergência entre o clube e seu povo.
Essa proibição, baseada em alegações discriminatórias, que apontam a localização em uma área popular, a violência e as dificuldades de acesso como justificativas, é seletiva e discriminatória. Ignora-se, nesse contexto, que outros estádios de clubes da Série A permanecem abertos, mesmo quando enfrentaram recentemente problemas de segurança mais graves, inclusive no Rio de Janeiro.
O Vasco da Gama, que em 1924 se recusou a dispensar atletas negros e de origens humildes para participar de competições, vê nessa interdição um eco daquelas épocas sombrias. A proibição também prejudica as comunidades da Barreira do Vasco, do Tuiuti e do Arará, que fazem parte indissociável da identidade vascaína e cuja saúde econômica e social está ligada à vida do clube. Temos muito orgulho de estar enraizados em uma área popular da zona norte da cidade.
Isso não é apenas um golpe contra a grandeza esportiva do Vasco, mas também um ataque à sua importância social e histórica. A injustiça cometida nesses tempos estranhos leva o Vasco da Gama a lutar para jogar no Maracanã, um estádio público onde nossa história é admirada e onde nossos torcedores têm o direito de nos ver em ação.
Estamos enfrentando uma incrível situação, na qual querem impedir o Vasco de jogar em suas duas casas (São Januário e Maracanã), impondo ao clube uma desigualdade esportiva nunca antes vista no Brasil. O Vasco é o único clube, entre os 20 que disputam a principal competição nacional, impedido de jogar em seu estádio, junto com sua torcida, por uma decisão que extrapola os aspectos esportivos e os regulamentos da competição.
O Vasco entra nessa luta de peito aberto. Faz parte de nossa essência enfrentar, e não fugir, dos desafios. Temos confiança de que o Poder Judiciário corrigirá essa discriminação, respeitando os princípios de igualdade e justiça que devem guiar nossa sociedade. Também confiamos no Ministério Público, com quem sempre fomos parceiros na busca por atender melhor nossos torcedores.
O Vasco da Gama, sua torcida e a Barreira do Vasco permanecem unidos: nosso estádio pode estar fechado, mas nosso espírito e nossa voz nunca serão silenciados.
Nossa luta continua. Somos e sempre seremos parte fundamental para uma sociedade mais justa e igualitária. O fechamento de São Januário é um ataque à nossa casa, à nossa essência e a tudo em que acreditamos. Cabe a essa geração de vascaínos, espalhados pelo Brasil e pelo mundo, honrar o legado de nossos fundadores e caminhar juntos em defesa de nosso estádio, de nossas comunidades e de nossos princípios. Essa não é apenas uma causa do Vasco, mas de todos os esportistas e da sociedade como um todo.”
Fonte: O Dia