Na última matéria da série especial dos 25 anos da conquista da Libertadores, vamos relembrar algumas histórias contadas por quem participou daquela campanha, como Antônio Lopes, Felipe, Mauro Galvão, Luizão e Donizete, mostrando que a partida contra o Barcelona, em Guaiaquil, não foi tão simples e que a boa relação entre boa parte daquele grupo continua até os dias de hoje, mesmo duas décadas após aquele título.
A “batalha” no Equador
Depois de eliminar o River Plate na Argentina, o clima de euforia tomou conta dos torcedores, mas os jogadores e a comissão técnica sabiam que ainda tinham um adversário forte pela frente. E o confronto contra o Barcelona (EQU) não foi tão fácil como parece. Principalmente devido aos obstáculos fora de campo, onde os equatorianos fizeram de tudo para atrapalhar.
– Nós enfrentamos problemas desde o momento em que chegamos em Guaiaquil. Eles criaram uma imagem para os torcedores e a imprensa de lá, alegando que tinham sido tratados de forma desrespeitosa aqui, talvez para justificar a derrota. No aeroporto e no hotel, o barulho era insuportável. Eles atrapalharam nosso treino na véspera, mas nós já sabíamos de tudo isso. Era a única forma deles conseguirem vencer. Como capitão, reuni a equipe e entramos em campo ainda mais concentrados. No estádio, o vestiário estava cheio de fumaça e tinta para atrapalhar. No campo, eles atiravam pedras. Nós nos aquecemos no corredor do estádio – conta Mauro Galvão.
Para o lateral-esquerdo Felipe, que era um dos jogadores mais jovens daquele elenco, a confusão criada pelos equatorianos apenas motivou o Vasco, que tinha um time mais forte e qualificado, além da vantagem confortável construída no primeiro jogo, em São Januário.
– Chegamos ao Equador e já encontramos uma grande confusão no aeroporto, tivemos muita dificuldade para sair, sendo escoltados pelo exército, com soldados armados dentro do ônibus que nos levou para o hotel. Entramos pela porta lateral. O Barcelona sabia que nosso time era tecnicamente superior e se utilizou dessas artimanhas para nos desestabilizar. Felizmente, ou infelizmente, no futebol isso é comum para desestabilizar o adversário. Nós tínhamos uma grande vantagem e isso apenas nos motivou ainda mais – explica Felipe.
Após o jogo, foi só comemoração. Com a sensação de missão cumprida, os jogadores celebraram a conquista e festejaram durante dias. Na volta ao Rio, houve um desfile em carro aberto, muita música e cerveja.
Válber: do Bloco de Carnaval a herói nas oitavas de final
Rígido, Antônio Lopes não dava folga aos jogadores durante o Carnaval. No entanto, alguns deles davam um jeito de aproveitar a festa. E o coringa daquele time, Válber, não escondeu seu envolvimento, comparecendo a um treino vestido de mulher:
– Houve um treino durante o Carnaval, pouco antes do início da Libertadores. Lopes não deu folga e só faltava o Válber. O treinador disse que o treino só começaria quando ele chegasse, e foi isso que aconteceu. Mas ele apareceu pilotando aquela moto verde (Kawasaki Ninja) através do portão de São Januário, vestido como uma mulher. Usando um fio dental. Todo mundo riu muito, ele era maluco – conta o volante Fabrício Carvalho.
– Ele chegou usando cinta liga. Vindo diretamente do Metropolitan. Válber era um maluco. Era um treino matinal. Eu estava na festa com ele. Eu sempre cheguei no horário, enquanto ele gostava de se atrasar – conta Luizão, rindo.
O Vasco teve uma primeira fase complicada e avançou com a pior campanha. Nas oitavas, enfrentou o Cruzeiro, campeão do ano anterior. No primeiro jogo, o Vasco venceu por 2 a 1 em São Januário. Antes da partida de volta, Lopes perdeu vários jogadores após um jogo contra o Friburguense, pelo Campeonato Carioca: Luisinho, com uma fratura no crânio; Juninho, torção no tornozelo; Ramon, lesão no joelho; e Luizão, com oito pontos na boca após receber uma cotovelada. Além de Odvan e Alex Pinho, que foram vetados. Após conversar com o supervisor Isaías Tinoco, Lopes tomou uma decisão:
– Válber havia faltado a um treino e acabou ficando fora da partida. Eu relutei, mas acabei aceitando a opinião de Isaías na época. Ele era responsável por lidar com os problemas fora de campo e a equipe realmente precisava do Válber, que era um jogador muito bom. Ele, Nelson e Nasa tiveram uma excelente atuação contra o Cruzeiro em Minas Gerais, seguramos o 0 a 0 e avançamos para as quartas de final.
Pantera X Odvan
No dia anterior a um jogo que o Vasco disputou fora de casa, o zagueiro Odvan, conhecido por sua força física, quase deixou Donizete fora da partida. E de uma forma bem diferente do que qualquer torcedor poderia imaginar, como relata o próprio Pantera:
– Nós estávamos concentrados juntos. Eu tinha o hábito de dormir como vim ao mundo. E ele também. No meio da noite, eu acordei e fui ao banheiro. Para não atrapalhá-lo, não acendi a luz e nem puxei a descarga. O problema foi que o “negão” acordou exatamente na mesma hora. Na hora em que voltei, ele estava indo. Nós esbarramos um no outro. Joelho com joelho, cabeça com cabeça… foi bem desagradável. Meu joelho inchou e precisei receber tratamento médico. Por pouco eu não fiquei fora do jogo. Odvan até batia na concentração (risos).
Grupo mantém contato
Passados vinte e cinco anos, aquele grupo que fez história de 1997 a 2000 ainda mantém contato. Muitos jogadores daquela geração vitoriosa ainda residem no Rio de Janeiro, então costumam se reunir sempre que possível. E, com aqueles que moram mais distante, o uso do Whatsapp e da internet facilita a comunicação.
– Temos um grupo dos campeões da Libertadores. Mantemos essa comunicação. Eu estou sempre em Ribeirão Preto com o Mauricinho. Vou encontrando a galera. Nosso time era muito unido. Era uma combinação de jogadores mais experientes com os mais jovens, e você pode perceber que nunca houve nenhuma briga. Nós simplesmente queríamos vencer. Tínhamos uma grande equipe de apoio. Com Lopes, Alcir, Isaías, Bebeto de Oliveira, os roupeiros, médicos, era como uma família. Sinto muitas saudades – conta Luizão.
Fonte: Site Oficial do Vasco