“Sem cannabis, o Vasco não ganha”. Provavelmente você já ouviu ou leu essa frase, que se tornou viral nas redes sociais e nas arquibancadas de São Januário nos últimos dois anos. No entanto, a Vasconha, que popularizou a música, não quer ser apenas um meme. Pelo contrário, o grupo, que enfatiza que é uma empresa e uma marca, e não uma torcida organizada, quer aproveitar sua viralização para reforçar o aspecto social e inclusivo do Vasco e sua torcida.
Vasconha disponibiliza abafadores para crianças autistas usarem em jogos do Vasco (Foto: Gabriel Rodrigues/Trivela)
Por meio de ações sociais, a Vasconha tem apoiado financeiramente e dado visibilidade a instituições dedicadas a crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), lares para idosos e associações de moradores próximas a São Januário.
No entanto, o enfoque principal da Vasconha está nas ações voltadas para crianças com autismo e as próprias crianças vascaínas no espectro autista. Em colaboração com o Autistas da Colina, um grupo de pais e familiares de crianças com TEA que são torcedores do Vasco, a Vasconha vende em sua loja, localizada a cerca de 100 metros da entrada principal de São Januário, um adesivo que une os dois grupos. Todo o valor arrecadado é destinado ao apoio às crianças e a outras ações sociais da empresa.
Com esses valores em mente, no último mês de agosto, a Vasconha também passou a oferecer gratuitamente o empréstimo de dez abafadores de ouvido para crianças autistas e com outras deficiências durante os jogos do Vasco em São Januário. Para pegar emprestado o equipamento, os pais ou responsáveis só precisam assinar um termo e devolvê-lo até uma hora após o jogo.
“O Vasco é um time inclusivo e não poderíamos ser diferentes. Aqui temos ações sociais para crianças com autismo, lar de idosos, associações de moradores do bairro Barreira do Vasco e adjacências. Também realizamos várias ações cotidianas aqui nos jogos. Uma ação principal que recebe bastante atenção e conscientiza as pessoas sobre nossas causas é o uso do abafador de ouvido”, disse André Maio à Trivela.
Vale destacar que São Januário possui um camarote destinado a torcedores com TEA. O local foi inaugurado em abril, e o Vasco foi o primeiro clube do Rio de Janeiro a ter um espaço com essa finalidade.
Vasconha disponibiliza abafadores para crianças autistas (Foto: Divulgação/Autistas da Colina)
Experiência pessoal e defesa do uso medicinal da cannabis
O engajamento na luta e no apoio às crianças com autismo começou por meio da experiência pessoal de André, um dos quatro sócios da empresa. Como pai de uma criança com autismo, ele viu na Vasconha uma oportunidade de unir suas duas paixões para o bem.
“Eu sou pai de uma criança com autismo. Então, trouxe um pouco do que vivencio dentro da minha casa para tentar ajudar outras pessoas, junto com o meu outro amor, que é o Vasco da Gama”, disse André.
A ciência tem estudado os efeitos da cannabis medicinal em pessoas com TEA há várias décadas. Ainda que de forma inicial e com algumas incertezas, pesquisas mostram que o uso de canabinoides pode melhorar alguns dos sintomas relacionados ao autismo, principalmente em termos de comportamento e cognição.
Por essa razão, e também devido à experiência pessoal de André, a Vasconha também está engajada na divulgação da ideia do uso medicinal da maconha. Na loja, próxima a São Januário, as pessoas podem encontrar folhetos e panfletos sobre o assunto.
“Meu filho usa CBD (canabidiol) há vários anos. Ele tem 11 anos e foi diagnosticado há algum tempo. Ele faz esse tratamento, com prescrição médica, registro da Anvisa e acompanhamento da Polícia Federal, tudo dentro da legalidade, para garantir que nada de ruim aconteça e para que ele possa receber o melhor tratamento possível. Por isso, lutamos pela maconha medicinal, pois temos provas de que ela tem um efeito muito bom nas crianças e traz resultados significativos”, comentou André.
“Falamos muito da terapia com maconha medicinal. Sabemos que a luta pela legalização recreativa é outra coisa. Nossa luta também é pelo lado medicinal, dentro das leis. Através disso, buscamos mais abertura, utilizando a internet e outros meios de comunicação para disseminar essas ideias”, completou o sócio da Vasconha.
Vasconha também luta pelo uso da maconha medicinal (Foto: Gabriel Rodrigues/Trivela)
Como é a loja da Vasconha
A loja, que também abriga um bar da Vasconha, está localizada em uma ladeira que termina praticamente em frente à entrada principal de São Januário. É lá, na Rua Ferreira de Araújo, que a marca distribui os abafadores para crianças autistas e também vende seus produtos.
Como André faz questão de ressaltar, a Vasconha não é uma torcida organizada, mas sim uma empresa e uma marca de roupas de rua e surfwear.
Além de roupas, bonés, chapéus e adesivos, a loja também comercializa itens personalizados de tabacaria, como sedas, piteiras, dichavadores e isqueiros. Também é possível comprar chocolates e cervejas com sabor e aroma de maconha, mas que não contêm canabinoides e, é claro, não são ilegais.
Além do bar, a loja da Vasconha vende roupas, bonés e produtos de tabacaria (Foto: Gabriel Rodrigues/Trivela)
No bar/loja, muitos torcedores aproveitam o famoso “pré-jogo” de São Januário. Enquanto uma parede exibe uma televisão transmitindo programas esportivos e jogos de futebol, outra possui um quadro com um documento emoldurado.
Em maio deste ano, a Vasconha foi um dos grupos que recebeu na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro uma “moção de louvor e reconhecimento” por sua luta contra a proibição. A homenagem foi concedida pela vereadora Luciana Boiteux (PSOL).
O reconhecimento pelo trabalho da Vasconha não se limita à Câmara de Vereadores e aos torcedores do Vasco. O grupo faz questão de fortalecer os laços com as comunidades vizinhas a São Januário.
“Devido às questões sociais que abordamos, especialmente na Barreira do Vasco, temos uma ótima aceitação e as famílias nos veem como uma referência de boa vizinhança.
Fonte: Trivela