Durante uma entrevista concedida ao canal Fanático Vascaíno no fim do seu mandato, o ex-presidente Jorge Salgado mencionou como “dívidas ocultas” alguns processos que “ainda não foram julgados pela Justiça e não estão incluídos na dívida oficial”. Segundo apuração do ge, são esses valores próximos de decisão judicial ou em fase de execução que farão a dívida praticamente multiplicar por oito.
Na mesma entrevista realizada em maio do ano passado, Salgado destacou que “a expectativa é reduzirmos a participação de 30% para quitar parte das dívidas”. O ex-presidente e sua diretoria acordaram com a empresa 777 Partners a possibilidade de vender, por exemplo, 10% dos 30% ainda detidos pelo clube, visando arrecadar R$ 100 milhões e tentar amortizar a dívida em torno de R$ 200 milhões – levando em consideração um desconto de 50% nas negociações com cada credor.
Quais são essas dívidas?
Grande parte das dívidas possui origem antiga. Existem processos cíveis de alto valor, como o do escritório de advocacia Barreira de Oliveira, além de pendências trabalhistas envolvendo ex-treinadores e ex-jogadores – nomes como Dorival Júnior, Diego Souza, Éder Luís, Sandro Silva, entre outros, figuram nessa lista. O novo vice-presidente financeiro de Pedrinho, Sílvio Almeida, está contando com o auxílio de advogados para levantar todos os débitos.
Internamente, a diretoria considerou uma revisão significativa no saldo das dívidas judiciais e entendiam – com base em pareceres do Conselho Fiscal – que os valores apresentados no balanço de 2022 estavam subavaliados.
O ge tentou contato com o vice-presidente financeiro Sílvio Almeida, mas não obteve retorno, da mesma forma com o ex-presidente Jorge Salgado.
O contrato com a 777 prevê a possibilidade de emissão de debêntures conversíveis em ações para quitar as dívidas, porém dificilmente será adotado pela nova gestão de Pedrinho.
Antes mesmo da posse de Pedrinho em janeiro, a relação com a SAF do Vasco e com a sede americana da 777 Partners já não era das mais amistosas – recentemente, ocorreu a primeira reunião presencial em um clima pouco harmonioso. Existem iniciativas, ainda em estágio inicial, para realizar uma ação oposta, ou seja, adquirir de volta a participação acionária no futebol do clube.
Desacordo bancário
Outro ponto de discórdia com a SAF vascaína é um tema que não teve consenso nem mesmo com a gestão Salgado, que mantinha uma relação mais próxima com a 777. Informações obtidas pela nova direção do Vasco apontam que o clube possui uma dívida de R$ 25 milhões em uma conta bancária criada entre o CRVG e a Vasco da Gama SAF – tema abordado em reportagem do ge em dezembro de 2023.
Esse assunto é relevante também porque há um contrato prevendo a possibilidade de redução da participação societária do clube no futebol. A conta bancária foi criada para tratar do pagamento das dívidas de ambas as partes. Ou seja, se uma dívida da Vasco SAF fosse quitada pelo Vasco associativo, ela seria incluída nessa conta, e vice-versa.
– Estava estabelecido que se esse valor na conta ultrapassasse determinado montante, em torno de R$ 20 milhões, a Vasco SAF teria o direito, por exemplo, de solicitar a aquisição ou o pagamento por meio de ações – explicou Fábio Ganimi ao ge após reunião do Conselho Deliberativo no ano passado.
Nesta quinta-feira à noite, a sede da Lagoa sediará uma nova reunião do Conselho Deliberativo. O assunto não está na pauta – no ano anterior, a gestão Salgado aprovou as contas do balanço de 2022, apesar do parecer de rejeição do Conselho Fiscal.
A conta bancária é um tema que gera bastante discussão dentro do clube. Já houve sugestões de encaminhar o caso para uma câmara de arbitragem independente, porém, ainda não ocorreram avanços. É provável que o balanço do clube não inclua os cerca de R$ 25 milhões contabilizados nas demonstrações financeiras, pois espera contestar e discutir o tema com a SAF mais uma vez.
Fonte: ge