O Vasco completa neste sábado um ano da transferência do futebol para a 777 Partners. Em 2 de setembro de 2022, o grupo americano acertou a compra de 70% da SAF e assumiu o controle das operações, em um negócio estimado pelo clube em R$ 1,4 bilhão.
Esses são os contas do Vasco: por contrato, o clube vai receber R$ 700 milhões em investimento até 2026. Além disso, a empresa se comprometeu a assumir até R$ 700 milhões da dívida do clube. Por isso os R$ 1,4 bilhão.
As cifras são altas, mas foi um primeiro ano conturbado. Dentro e fora de campo. Dentro das quatro linhas, o Vasco conseguiu um suado acesso, mas teve seu pior começo na história do Campeonato Brasileiro. Nos bastidores, críticas públicas entre clube e SAF e mudança de liderança na empresa.
Mais de R$ 300 milhões para o futebol em 2023
Mas não faltou investimento. O ge apurou que o futebol tem um orçamento de mais de R$ 300 milhões na atual temporada. A previsão, no entanto, é que o valor injetado na pasta em 2023 ultrapasse esse número até dezembro. Os recursos estão sendo usados em contratações, salários, melhorias no CT, logística, campo e todas as operações que envolvem o futebol. De longe, é o maior orçamento da história do clube.
Atraso salarial se tornou coisa do passado no clube, que ampliou os benefícios aos funcionários e cumpriu todas as promessas nesse sentido. Os compromissos com empresários e clubes com os quais negociou jogadores, por outro lado, afetam a imagem do clube no mercado.
Apenas neste ano foram realizadas 26 contratações – dessas, pelo menos três foram parar na corte da Fifa por falta de pagamento: Léo Jardim (Lille), Puma Rodríguez (Nacional) e Capasso (Atlético Tucumán). Dez jogadores tiveram os direitos econômicos adquiridos, que custaram quase R$ 120 milhões aos cofres da SAF.
Além da compra de 10 atletas, o acordo com Payet exigiu um investimento maior por parte do Vasco. Entre salários e ganhos adicionais, o francês recebe cerca de R$ 1,2 milhão por mês, o maior salário do clube.
Para esse investimento, assim como aconteceu no caso de Vegetti, foram liberados em uma reunião de emergência do Conselho de Administração cerca de R$ 15 milhões adicionais para contratar reforços, devido à situação do time no Campeonato Brasileiro – o Vasco está na zona de rebaixamento desde a sétima rodada.
Os números foram aumentados graças às receitas. O Vasco não divulga os valores, mas espera ter a maior receita de sua história em 2023, aumentada, entre outras coisas, pelas vendas de jogadores (cerca de R$ 115 milhões) e pelo aumento nos valores de seu patrocínio principal (recebe mais de R$ 20 milhões da PixBet) – ambas arrecadações nunca antes vistas na história do Vasco.
Investimento discreto no CT
O CT Moacyr Barbosa passou por melhorias, mas ainda está longe do ideal. Antes prioritário para a 777 Partners, a reforma e ampliação do centro de treinamentos ainda não têm data para serem colocadas em prática pela SAF. Isso porque o Vasco enfrenta problemas para regularizar o terreno na Cidade de Deus e está estudando a possibilidade de buscar outro CT caso não consiga uma solução junto à Prefeitura do Rio.
A prioridade, no entanto, continua sendo regularizar a situação do CT Moacyr Barbosa e buscar todas as opções antes de partir para uma nova alternativa. Até o momento, já houve um pequeno investimento no local.
O CT recebeu melhorias, mas não passou por grandes obras estruturais. O estacionamento foi asfaltado, a academia foi aumentada, os campos estão em boas condições, há uma nova identidade visual. Entretanto, um ano depois, ainda não houve o investimento pesado que se esperava quando a 777 assumiu o Vasco.
Situação semelhante ocorre no CT de Caxias, onde a base treina, cujo terreno pertence ao Governo Federal. Muito pouco foi feito no local até o momento.
Bastidores agitados e mudança de comando
Esse foi um primeiro ano bastante agitado nos bastidores do Vasco, com desgaste na relação entre clube e SAF em determinado momento e troca do CEO.
Luiz Mello enfrentava oposição de dirigentes do Vasco desde antes de assumir como CEO da SAF, e a notícia de que ele assumiria a posição mais importante do futebol não foi bem recebida pelos representantes da associação. Houve uma trégua entre boas atuações no Campeonato Carioca e um bom começo no Brasileirão (com vitória sobre o Atlético-MG na estreia e empate com o Palmeiras depois), mas a relação nunca foi totalmente pacífica.
Também houve atritos na relação do CEO com Paulo Bracks, diretor esportivo – embora nunca tenham admitido publicamente. Mello, o homem responsável por liberar ou não investimentos, por exemplo, era visto como inflexível em relação às finanças, apesar do Vasco ter recebido o maior orçamento de sua história. Sua ligação com o Flamengo, do qual era sócio-torcedor, prejudicou ainda mais sua imagem com a torcida – ele relatou em entrevista ao ge em junho que recebia ameaças de morte.
No mês passado, a 777 anunciou uma mudança no comando: Luiz Mello iniciou a transição para trabalhar na sede da empresa na Flórida, nos Estados Unidos, e deixou seu cargo para que Lúcio Barbosa, ex-diretor financeiro, assumisse interinamente. A mudança serviu principalmente para acalmar os ânimos no clube.
Pouco futebol
O início da gestão da 777 no futebol do Vasco foi marcado por uma conquista importante: em novembro, na última rodada da Série B, o time conquistou o acesso com vitória sobre o Ituano fora de casa. O elenco foi completamente formado com recursos da associação, porém.
Maurício Barbieri foi o escolhido para comandar a equipe e fez uma campanha dentro do esperado no Campeonato Carioca, com classificação para as semifinais e algumas boas apresentações, especialmente contra equipes menores. A partir da Copa do Brasil, porém, as coisas começaram a dar errado.
Nos mata-matas, o Vasco não teve problemas para eliminar o modesto Trem-AP na primeira fase, mas foi eliminado pelo ABC na segunda fase, jogando em São Januário – e, dessa forma, deixou de arrecadar alguns milhões em premiações. Um vexame.
Para piorar, o Vasco teve o pior começo de Brasileirão de todos os tempos este ano. Perdeu seis jogos seguidos e, na sétima rodada, entrou na zona de rebaixamento, de onde não saiu desde então. No momento, está em 18º lugar, a cinco pontos de distância do primeiro time fora da zona de rebaixamento e com um jogo a menos que a maioria dos adversários.
Barbieri foi demitido após a derrota para o Goiás em São Januário, partida que terminou com episódios de violência e causou todos esses problemas relacionados ao estádio, incluindo a proibição de público e a briga com o judiciário. Com a chegada do técnico argentino Ramón Díaz e a contratação de reforços, como Medel, Paulinho, Vegetti e Payet, o clube vem mostrando sinais de recuperação no campeonato e vislumbra o futuro com um pouco mais de esperança.
Fonte: ge