O Vasco emitiu um comunicado nesta sexta-feira sobre a suspensão da Arbitragem na FGV, informação divulgada pelo site ge na quinta-feira. O clube explicou que a medida foi tomada para proporcionar “tranquilidade na negociação de um possível acordo referente à saída definitiva da 777 do quadro societário da SAF”. Confira a nota completa abaixo.
“A 777 não existe mais hoje”, declarou Felipe Carregal, do Vasco.
A ação faz parte do diálogo estabelecido pelo Vasco com a A-CAP, seguradora que assumiu o controle da 777 Partners. Conforme informado pelo clube, a seguradora americana demonstrou ser a proprietária dos ativos no futebol da 777 após as disputas judiciais envolvendo o antigo sócio do Vasco.
Em entrevista ao ge – leia na íntegra a seguir -, o vice-presidente jurídico do clube demonstrou confiança na relação com a seguradora responsável pelo controle da empresa, visando a um acordo nos próximos 90 dias. Além disso, afirmou que a A-CAP age de maneira que “não visa obter lucro, mas sim ressarcir minimamente os prejuízos causados pela 777 à A-CAP”, afirmou Felipe Carregal Sztajnbok, vice-jurídico do Vasco.
Confira o comunicado do Vasco desta sexta e, em seguida, a entrevista completa com o dirigente vascaíno.
Comunicado do Vasco:
“Com o intuito de esclarecer a suspensão da arbitragem realizada na Câmara de Arbitragem da FGV por 90 dias, o Club de Regatas Vasco da Gama informa que tal deliberação foi tomada para permitir a negociação de um possível acordo envolvendo a saída definitiva da 777 do quadro societário da SAF.
Também destacamos que, conforme nos foi informado pela A-CAP e comprovado pelos documentos compartilhados até o momento, os ativos de futebol da 777 Partners foram separados das demais disputas judiciais enfrentadas pela empresa globalmente e, atualmente, estão sob controle exclusivo da A-CAP.
O Vasco da Gama aceitou a sugestão de suspensão proposta pela A-CAP com o intuito de demonstrar a intenção de buscar uma solução que atenda aos interesses do clube na proteção de seu patrimônio, evitando perdas, desvalorizações e prejuízos.
Se não for alcançado um entendimento com a A-CAP ou se houver alguma alteração no cenário atual de controle dos ativos de futebol da 777, a arbitragem e o processo judicial serão retomados, sem que haja prejuízos aos direitos do Vasco da Gama ou às decisões obtidas perante o Poder Judiciário.
O Club de Regatas Vasco da Gama mantém o controle da VascoSAF, conforme liminar concedida, e permanece dedicado à missão de preservar os valores da história e da marca Vasco da Gama, influenciando, dessa forma, todo o departamento de futebol. Podemos vencer, perder, empatar, mas não abrimos mão de nossa atuação.”
Entrevista do vice-jurídico do Vasco ao ge
ge: Em que estágio se encontra o Vasco nesse processo de venda do futebol? É adequado realizar a venda nesse período de 90 dias de suspensão da ação?
Felipe Carregal Sztajnbok: – A suspensão é recente. Ela surgiu a partir das negociações realizadas com a A-CAP e culminou nessa interrupção. Foi uma solicitação deles, que nós consideramos pertinente. A venda em 90 dias é viável. Entretanto, não podemos afirmar com certeza. A suspensão é comum do ponto de vista processual. Todas as etapas anteriores continuam válidas. O processo está suspenso, mas a decisão do judiciário permanece em vigor. A suspensão por 90 dias requisitada pela A-CAP é justificada para que eles possam avaliar a situação e fazer uma avaliação detalhada para compreender o cenário.
– Se um acordo será alcançado ou não, é uma visão futurista, impossível de prever. O que posso dizer é que a A-CAP chegou ao Brasil com uma postura muito mais transparente em relação à 777. Muito mais objetiva. Essa possibilidade existe, mas dependerá das próximas etapas desse trabalho que será realizado nos próximos 90 dias.
A 777 também enfrenta outras ações judiciais, de outros credores, como a Leanderhall que a processa em Nova York. Eles podem reivindicar os ativos do futebol da 777?
– Estamos sob acordo de confidencialidade com a A-CAP, por isso não posso dar muitos detalhes. No entanto, de forma cautelosa, solicitamos toda a documentação disponível para comprovar os poderes da A-CAP sobre os ativos. Essa documentação está sendo fornecida. Já recebemos uma parte e o material recebido até o momento comprova que a A-CAP efetivamente controla os ativos do futebol da 777. Estamos aguardando mais documentos. Até o momento, as informações recebidas indicam que os ativos estão protegidos da decisão judicial em Nova York, tornando possível para a A-CAP, se necessário, negociar esses ativos. Já recebemos inclusive uma orientação legal deles. Estamos avaliando. Esses 90 dias servem também para aprofundar essa questão. Até o momento, com base nas informações que possuímos, tudo indica que a A-CAP é a controladora desses ativos.
Passaram-se mais de dois meses desde a decisão judicial. O desfecho esperado seguia por esse caminho?
– Na coletiva que realizamos, tomamos uma decisão difícil, embasada em fortes indícios de situações desfavoráveis envolvendo a 777. Curiosamente, a última comunicação que enviamos para a 777 tratava justamente sobre a A-CAP. Notificamos informando que tínhamos conhecimento de que eles não mais controlavam o futebol. Isso impactava diretamente não só nos contratos, mas em nosso relacionamento. Naquela época, eles negaram. Essa foi a última comunicação formal que tivemos antes da ação. Hoje, recebemos a A-CAP no Brasil e eles comprovaram efetivamente que estão no controle. Isso nos tranquiliza em relação à forma como atuamos, baseando-nos nas informações do momento, agora confirmadas na prática. Estamos muito confiantes nisso. Tudo o que investigamos na época, que apontava em uma direção, hoje temos certeza de que estávamos corretos.
– A maior vantagem dessa ação é proporcionar à VascoSAF e ao próprio clube associativo uma sensação de segurança para atravessar esse período de negociação. A segurança jurídica que conquistamos, fruto de uma ação audaciosa – não do ponto de vista jurídico, pois estávamos bastante seguros nesse sentido -, mas audaciosa do ponto de vista macro, da SAF, considerando que esperávamos contestações devido à lei da SAF, investimentos no Brasil, tudo isso foi avaliado. Hoje, percebemos que a ação trouxe segurança para o Vasco. As preocupações passadas sobre insegurança jurídica, hoje, na prática, demonstram que trouxemos segurança jurídica para atravessar esse momento turbulento da forma mais segura possível para o Vasco e para a Vasco SAF.
O prazo de 90 dias pode ser prorrogado?
– A prorrogação é possível, assim como a antecipação em 30, 45 dias, caso julguemos necessário, se, por exemplo, não for possível avançar em uma negociação, podemos adiantar a retomada das ações. Estabelecemos 90 dias como prazo, mas não há impedimentos para prorrogar ou adiantar o retorno das ações. Isso cabe às partes envolvidas.
Vocês estimam os valores dessa venda?
– Até o momento, não. Acredito que a própria A-CAP não possui uma noção exata do valor. A 777 não existe mais. Não temos contato com a 777, apenas com a A-CAP, e acredito que esses 90 dias – esta também foi a justificativa da A-CAP para sugerir a suspensão – são para compreender a situação e, se necessário, chegar a um acordo sobre o valor do ativo. A A-CAP foi muito transparente, “não estamos interessados em lucrar. Nossa meta é minimamente compensar os danos causados pela 777 à A-CAP”.
O Vasco está em contato com os outros clubes adquiridos pela 777. Há chances de uma venda em multiclubes?
– Não discutimos sobre isso. Não temos interesse nisso. O Vasco é um caso particular, especialmente devido à ação que tomamos. O Vasco se diferencia dos demais clubes, a negociação com o Vasco é completamente distinta dos outros clubes, justamente porque hoje o Vasco está em uma posição mais confortável devido à ação que empreendemos.
O Vasco está mais atento à escolha de novos parceiros após o caso 777?
– Com certeza. Estamos trabalhando nisso. Nós, vascaínos, o mercado do futebol, todos nós estamos impactados pelo caso 777 e isso, com certeza, será considerado. Sem dúvida. Nem o Vasco, nem qualquer outro clube no Brasil passará por algo semelhante novamente.
Fonte: ge