Que jovem declinaria de uma proposta do renomado clube italiano? O desejo de atuar na Europa somado à oferta da Inter, que prometia remunerar Alberoni 100 vezes mais do que recebia no Vasco, motivaram a mudança do jogador do Brasil para a Itália. No entanto, sua carreira não decolou como todos esperavam.
A ausência de orientação nos primeiros anos como atleta profissional acabou prejudicando o percurso de Alberoni, que passou por várias equipes ao redor do mundo e, posteriormente, em 2006, realizou o sonho de defender o Vasco profissionalmente. Foram 14 clubes em 11 anos. O portal ge encontrou o ex-meio-campista, que atualmente coordena projetos sociais em Niterói e atua como agente de jogadores.
De Chico a Alberoni
Francisco Terra Alberoni, revelado na safra de 1984 do Vasco, tinha a vantagem de possuir cidadania italiana. Isso o destacava precocemente para o exterior e acabou influenciando sua trajetória. Desde cedo, seu nome foi alterado para Alberoni. Chico deu lugar a Alberoni nos primeiros anos de formação.
– Sempre fui chamado de Chico, e o apelido mudou para Alberoni devido à possibilidade de transferência para o exterior. Quem me acompanhou desde a infância me conhece como Chico, porém, os que chegaram depois passaram a me chamar de Alberoni. Essa nomenclatura surgiu em minha primeira convocação para a seleção de base. A equipe da CBF disse: “A partir de agora, não é mais Chico, mas Alberoni” – comentou o ex-jogador ao ge, complementando:
– Apenas compreendi mais tarde que, devido ao meu passaporte italiano e minha relação com a comunidade europeia, o nome Alberoni fazia mais sentido para esse mercado. Em uma possível transferência, eu não ocuparia a vaga de um estrangeiro, ampliando minhas chances. A partir desse momento, todas as referências e transmissões passaram a adotar o nome Alberoni. Fiquei contente, pois valorizo muito minha família e acabei carregando o sobrenome com orgulho.
Foi na seleção brasileira que o jovem jogador do Vasco ganhou destaque como uma joia. Aos 17 anos, era titular na seleção de base e uma das grandes promessas ao lado de Diego, do Santos. Com a camisa cruzmaltina, sua geração conquistou títulos nas competições de base. Morais, Wescley, Coutinho e Anderson eram outros talentos daquela safra que geravam altas expectativas.
– Ficamos quatro anos invictos. Os resultados nos credenciaram junto ao clube e abriram portas nas seleções de base. A seleção me tornou uma promessa não somente no Vasco, mas no futebol carioca e brasileiro.
– Nunca busquei tanto o destaque. Atuava como volante, meio-campista defensivo, porém gostava de avançar, finalizar, arriscar chutes. Poucos volantes são canhotos. Fui campeão do Sul-Americano em 2001, disputei o Mundial em seguida e acredito que essa foi a oportunidade de consolidar o rótulo de promessa vascaína. Marcando três gols nesse Sul-Americano, retornei ao Vasco valorizado. Comecei a materializar meu potencial. A experiência internacional com a seleção foi enriquecedora e me deu visibilidade.
Arrivederci, Vasco!
Enquanto seus companheiros ascenderam ao time principal e atuaram sob o comando de Antônio Lopes, Alberoni deixou o Vasco sem ter estreado pela equipe principal. De origem modesta e determinado a realizar o sonho da família, aceitou a oferta da Inter de Milão, que não honrou o combinado.
– Naquela época, não contava com um empresário, talvez tenha faltado orientação. Foi uma decisão tomada em conjunto com minha família. Possivelmente, as pessoas pensam que eu era um problema (risos). A situação poderia ter sido diferente, mas não me arrependo das decisões tomadas. Dificilmente um jovem recusaria a chance de ir para a Inter de Milão naquela época. A proposta girava em torno de 5 mil euros mensais, o que equivalia a quase R$ 20 mil à época. No Vasco, recebia um valor próximo ao salário mínimo de 2002, que era R$ 200. Ao chegar lá, a realidade foi outra.
– Morava com dois australianos, um brasileiro e dois nigerianos, incluindo Oba Oba Martins. Recebi uma correspondência, que se revelou ser meu contrato. Um vínculo de quatro anos, com remuneração equivalente ao salário mínimo italiano, que na época era de 700 euros. Comecei a ficar apreensivo. Em Milão, enfrentando o clima frio, custo de vida elevado, a Coca-Cola cara, as ligações para a namorada também onerosas. Apesar de contar com apoio familiar, o que mais me abalou foi o descumprimento das promessas. Tudo ocorreu de forma obscura. Por sorte, esses contratempo não afetaram meu desempenho dentro de campo.


Alberoni treinava na equipe B da Inter. A habilidade técnica do volante, oriundo do futebol brasileiro, o permitiu atuar com desenvoltura como camisa 10 quando requisitado pelo treinador. No time principal, convivia e aprendia com jogadores como Crespo, Batistuta, Materazzi, Di Biagio, Toldo… Ele e o nigeriano Oba Oba Martins eram frequentemente utilizados pelo técnico Héctor Cúper.
– Com a saída de Adriano e Ronaldo, acabei enfrentando dificuldades. Não havia brasileiros em minha época, e essa lacuna dificultou a adaptação. Após um ano nessa situação, pensei: “Não é viável, vou retornar”. O desencanto com a vivência na Itália era grande, já não confiava mais em ninguém.
Convívio com Messi e rotatividade entre clubes
Após deixar a Inter, Alberoni passou a viver uma vida nômade. Entre 2004 e 2006, transitou por três países e seis clubes distintos: Bahia, Barcelona B (Espanha) – onde treinou com Messi -, Independiente (Argentina) – onde dividiu treinos com Agüero -, Paraná, Avaí e UD Leiria (Portugal). Jogou pouco nesse período.
– Retornei ao Brasil, estabeleci vínculo com meu primeiro empresário, que me acompanhou por muitos anos. Houve um desentendimento entre ele e o presidente do Bahia naquela época, permaneci por lá por alguns meses e logo segui para o Barcelona. Lá, já me conheciam devido à seleção brasileira e não hesitaram quando meu agente os ofereceu meus serviços.
– Todavia, um imprevisto surgiu, e ele não formalizou o contrato no prazo estipulado. Participei de parte da pré-temporada com Messi, que estava em transição para o time principal. Naquele momento, tomei uma decisão drástica: se o contrato não fosse assinado até determinada data, iria para o Independiente, da Argentina, que havia feito uma proposta para minha família. Acredito que faltou um planejamento de carreira adequado para mim. Em Leiria, Independiente e Barcelona, estive presente, porém não joguei devido a problemas extracampo. As promessas não foram cumpridas.
No repertório de Romário
Em 2006, Alberoni retornou ao Vasco para realizar o sonho de vestir profissionalmente a camisa do clube de coração. Sob o comando de Renato Gaúcho, conviveu com Romário, com quem estabeleceu um vínculo eterno após uma determinada assistência.
– Faço parte do livro e do DVD dos mil gols de Romário. Ele menciona todas as assistências, e uma delas foi um passe que lhe dei no Carioca de 2006, contra o América, no Estádio Edson Passos. Mais um sonho realizado, pois quando eu era criança, via Romário atuar. Posteriormente, pude jogar ao seu lado.
Finalista da Copa do Brasil de 2006 e participante do Brasileirão, o Vasco precisou rodar o elenco ao longo da temporada. Alberoni atuou como reserva, porém teve chances em várias partidas.
– O ano de 2006 representou a concretização de mais um sonho. Renato Gaúcho estava consolidando sua carreira como treinador, um profissional excepcional, capaz de se conectar genuinamente com os jogadores. Recebi diversas oportunidades devido à extensa agenda de jogos. Marquei um gol pela equipe profissional, que, na verdade, foi um lance curioso. Eu ia cruzar, a bola desviou e entrou. Ninguém comemorou, exceto eu que saí para celebrar, e nos registros, o gol foi creditado a mim (risos).
O referido gol permanece na memória do Vasco. Tal feito se deu porque Alberoni garantiu a última vitória do clube sobre o Grêmio atuando na casa do adversário gaúcho (vídeo abaixo). Desde maio de 2006, a equipe carioca não vence no Sul.
No ano seguinte, Alberoni deixou o Vasco e seguiu circulando por diferentes equipes. Defendeu Las Palmas (Espanha), Botafogo, Novo Hamburgo, Duque de Caxias, Slavia (Bulgária) e ASA, onde encerrou a carreira aos 28 anos em 2012. Embora tivesse acertado com o River-PI, que anunciou sua contratação para a temporada de 2013, dores no joelho direito após um amistoso o obrigaram a encerrar a trajetória como jogador profissional.
Entretanto, o Vasco permaneceu presente na vida da antiga promessa. Alberoni comparece aos jogos do clube