Torcedoras denunciaram casos de abuso dentro dos estádios de futebol do Rio de Janeiro. Elas têm formado movimentos para combater o problema, mas exigem mais ações por parte dos clubes e entidades ligadas ao futebol para denunciar e punir os importunadores.
Uma das situações de importunação ocorreu na semana passada, no jogo entre Vasco e Coritiba, pelo campeonato brasileiro em São Januário.
A goleada de 5 a 1 e o encontro entre o time e a torcida não corresponderam às expectativas da torcedora.
“Eu estava caminhando, mexendo no celular e havia um homem vindo em minha direção. Quando ele se aproximou de mim, ele pressionou seu corpo contra o meu, contra a parede. E passou a mão em meu corpo. Naquele momento, eu perdi a reação, fiquei paralisada, sem saber o que fazer”, relatou.
“Uma das coisas que eu disse quando isso aconteceu foi: ‘Eu fui importunada em casa’. Eu estou no meu estádio, passei por isso no meu estádio”, acrescentou.
“Quando eu consegui reagir, olhei para ele e o chamei de repugnante. Porque foi uma situação repugnante. Eu me senti, sei lá, impotente, porque não pude fazer nada e tive que passar por aquilo”, disse a torcedora.
Estádio Engenhão
A torcedora do Botafogo Laís Dalla também conta que foi vítima de importunação, desta vez no Engenhão.
“O jogo começou e, em algum momento, comecei a sentir uma mão em minha cintura e um corpo encostar em mim. Pensei que fosse porque o estádio estava cheio e alguém havia esbarrado em mim, e estava tudo bem até então. Mas esse mesmo movimento se repetiu algumas vezes. Em certo momento, esse sujeito chegou ao meu ouvido e disse o seguinte: se o Botafogo fizesse um gol, ele me daria um beijo na boca”.
Ela relata que a importunação não parou por aí:
“Até que, em determinado momento, ele passou a mão por baixo da minha perna, por trás. Foi quando levei um susto e pulei do banco em direção aos meus amigos, e contei o que estava acontecendo.”
União contra a importunação
Devido aos casos de importunação nos estádios, grupos de torcedoras se uniram e levantaram a bandeira do combate à violência contra a mulher no futebol.
O coletivo “Vascaínas contra a importunação” distribui panfletos e adesivos para combater os abusos dentro e fora dos estádios. Mas elas querem mais.
“Falta muito apoio. Precisamos, porque não aguentamos mais. Acho que não há mais tempo a perder, não merecemos mais isso, não merecemos mais ouvir esses casos, não merecemos mais ouvir mulheres dizendo que só irão ao estádio com amigos, homens, maridos e namorados, para se sentirem mais protegidas”, diz Carina Schulte, representante do coletivo.
O que os clubes estão fazendo
Dois clubes cariocas estabeleceram parcerias para combater essas situações. O Botafogo instalou um posto dentro do Engenhão para receber denúncias de importunação, em parceria com a Secretaria Municipal da Mulher. Além disso, o clube buscou a Polícia Civil e estabeleceu uma parceria com agentes da Delegacia de Atendimento à Mulher.
O Vasco procurou a Polícia Civil e, desde março, o estádio de São Januário conta com policiais mulheres, nos dias de jogos, para registrar ocorrências de crimes relacionados a gênero.
Ambos os estádios têm agentes da Polícia Civil prontos para realizar boletins de ocorrência, se necessário.
“Já participamos da capacitação das equipes de segurança tanto de São Januário quanto do Estádio Nilton Santos, e há policiais da Deam nos Juizados dos Torcedores nesses estádios, exclusivamente para o atendimento de mulheres que forem vítimas de qualquer tipo de violência, seja física, moral, pessoal, dentro ou fora dos estádios”, explica a delegada Bárbara Lomba.
Uma lei de 2020 determina que os estádios devem promover campanhas educativas e não discriminatórias de combate à importunação e violência sexual, além de proporcionar formação contínua para funcionários e prestadores de serviços sobre o tema.
“É um absurdo. Não tenho espaço, não tenho liberdade, não posso andar no lugar que gosto sem medo de ser tocada, violada. É absurdo”, lamenta a torcedora vascaína que foi importunada.
O RJ1 solicitou posicionamentos do Flamengo e Fluminense sobre o assunto. O Fluminense informou que está estabelecendo uma parceria com a Prefeitura do Rio para criar campanhas de conscientização e incluir equipes especializadas dentro do Maracanã. O Flamengo, que também administra o Maracanã, ainda não enviou uma resposta.
O jornalista Edimilson Ávila afirmou que haverá uma reunião entre a Polícia Militar e o Maracanã no dia 21 para discutir como ampliar o atendimento às mulheres. Entre as medidas em discussão estão a criação de uma sala de acolhimento para vítimas de importunação, com agentes treinadas para isso.
Nesta quarta-feira (27), no jogo entre Fluminense e Internacional pela Libertadores, o atendimento para possíveis vítimas de importunação será realizado no Juizado do Torcedor, na base do Portão 3 do Maracanã.
Fonte: G1