Os dirigentes dos clubes foram abordados por executivos da empresa Livemode, que assessora o Forte Futebol nas questões da liga. Foi sugerido a eles que não assinassem o contrato definitivo com a Globo sem antes ouvir a proposta do outro lado.
As conversas ocorreram na semana passada, tanto de forma individual quanto com a presença do Corinthians e do Santos simultaneamente. Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol, que possui parceria comercial com a Livemode, também está envolvido nas negociações.
A diretoria liderada por Augusto Melo, recentemente empossado presidente do Corinthians, foi a primeira a negociar. Com a proposta da Globo em mãos, os corintianos explicaram aos representantes do Forte Futebol que precisam de uma garantia de receita mínima para fazer a mudança.
A proposta apresentada não inclui uma garantia convencional, mas sim um mecanismo chamado de “colchão”.
No esquema do “colchão”, o Corinthians teria assegurado um determinado montante da verba proveniente da televisão. Assim, se a quantia arrecadada por todos os clubes ficasse aquém do desejado, o Timão teria a sua parte garantida, tendo um impacto financeiro nos demais times. Na batalha entre os blocos, que se arrasta há mais de um ano, o Forte Futebol se opôs veementemente à garantia mínima nessas condições, em especial em favor do Flamengo.
Por outro lado, no conceito de “colchão”, a XP Investimentos se compromete a conceder um empréstimo de R$ 100 milhões para o Corinthians e R$ 65 milhões para o Santos — um empréstimo comum como qualquer outro. A diferença é que esses dois clubes teriam valores mínimos estabelecidos para as receitas provenientes da transmissão.
Caso o Corinthians termine em 10º lugar no Brasileirão de 2025, por exemplo, a receita garantida seria de R$ 200 milhões. Se a audiência dos jogos do Corinthians for menor do que o esperado — o que influencia a divisão do dinheiro no sistema do Forte Futebol —, e isso levar a uma destinação de R$ 180 milhões, por exemplo.
Nesse cenário, a diferença de R$ 20 milhões seria abatida da dívida que o Corinthians teria com a XP. Como o valor seria perdoado, o dinheiro não seria considerado uma receita direta para o clube, mas representaria uma economia no pagamento da dívida. O resultado prático seria o mesmo.
Libra | Forte Futebol | Grupo União |
ABC | América-MG | Botafogo |
Atlético-MG | Athletico-PR | Coritiba |
Bahia | Atlético-GO | Cruzeiro |
Brusque | Avaí | Vasco |
Corinthians | Ceará | |
Flamengo | Chapecoense | |
Grêmio | CRB | |
Guarani | Criciúma | |
Ituano | CSA | |
Mirassol | Cuiabá | |
Novorizontino | Figueirense | |
Palmeiras | Fluminense | |
Paysandu | Fortaleza | |
Ponte Preta | Goiás | |
Red Bull Bragantino | Inter | |
Sampaio Corrêa | Juventude | |
Santos | Londrina | |
São Paulo | Operário | |
Vitória | Sport | |
Tombense | ||
Vila Nova |
A diretoria comandada por Marcelo Teixeira, também recém-eleito para presidir o Santos, teve reuniões subsequentes e também recebeu uma proposta nos mesmos moldes. O clube receberia um empréstimo da XP e contaria com o “colchão” para suavizar, no caso de sua receita proveniente da divisão da transmissão do Brasileiro ficar abaixo do estabelecido em contrato.
No caso do Santos, há uma preocupação adicional em relação à temporada de 2024. A situação financeira do Peixe é delicada, agravada pelo rebaixamento para a Série B e a ausência na Copa do Brasil. Os dirigentes perceberam que podem solicitar um pagamento adicional já para este ano.
Geralmente, os clubes que são rebaixados para a segunda divisão têm duas opções: receber o valor fixo do contrato da Série B, em torno de R$ 10 milhões, ou depender da quantidade de assinantes do pay-per-view da Globo, um número variável e incerto. Desejado por Libra e Forte Futebol, na disputa entre blocos, o Santos quer uma exceção e receber um valor adicional em 2024.
Embora sejam pressionados por representantes de ambos os lados, Corinthians e Santos ainda não decidiram qual caminho seguir — permanecer na Libra e fechar com a Globo ou migrar para o Forte e entrar neste contrato com os investidores.
E a Libra?
Caso optem por mudar de lado, o Corinthians e o Santos não se juntarão formalmente ao Forte Futebol, mas se unirão ao acordo entre Forte e União para comercializar seus direitos de mídia junto aos clubes desses blocos. Neste caso, a Libra seria impactada negativamente, inclusive financeiramente, uma vez que a proposta atualmente em mãos, da Globo, seria reduzida.
No esboço do contrato enviado pela emissora aos clubes, está previsto um desconto de 11% caso haja menos de nove clubes na primeira divisão, considerando apenas os membros da Libra, e de outros 10% na ausência de Flamengo, Corinthians, Palmeiras e São Paulo.
Sem a dupla paulista, a Libra não atenderia a ambos os critérios. O valor descontado da oferta de R$ 1,3 bilhão por ano seria de R$ 273 milhões, o que a deixaria próxima de R$ 1 bilhão anual.
Atualmente, Corinthians e Santos têm potencial para causar um grande impacto na Libra, na negociação dos direitos de transmissão e na rivalidade com os blocos opostos. Os motivos que levaram a dupla a considerar a proposta do outro lado são principalmente financeiros, mas não apenas isso.
Tanto Augusto Melo quanto Marcelo Teixeira acabam de assumir as presidências dos clubes, que enfrentam uma crise financeira, e ambos têm muitas dúvidas sobre as decisões e ações de seus antecessores — respectivamente, Duilio Monteiro Alves e Andres Rueda.
Além disso, as pessoas designadas pelos presidentes para lidar com o assunto se sentiram desrespeitadas pelo tratamento recebido na Libra. Na reunião em que decidiram continuar negociando com a Globo, realizada há duas semanas, Rozallah Santoro, diretor financeiro do Corinthians, e Norberto Gonçalves, diretor financeiro do Santos, foram tratados com aspereza pelos colegas.
Corintianos e santistas são conscientes de que, por entrarem recentemente em uma negociação que vem se desenrolando há meses, podem causar desconforto aos demais membros com pedidos de modificações. Contudo, ambas as diretorias não querem fechar negócio sem uma avaliação criteriosa.
Foi a combinação de interesses financeiros e pessoais que levou os representantes de Augusto Melo e Marcelo Teixeira às reuniões com os mediadores do Forte Futebol.
Em detalhes
Os empréstimos propostos a Corinthians e Santos pela XP são, respectivamente, de R$ 100 milhões e R$ 65 milhões. O prazo para quitação é de cinco anos, com parcelas anuais a serem pagas no final de cada ano. A taxa de juros é de CDI mais 5% — a taxa utilizada por instituições financeiras para transações, acrescida de 5% ao ano.
Dado o cenário de dificuldades financeiras enfrentado pelos dois clubes, com muitas dívidas e receitas comprometidas com garantias de outros empréstimos, entende-se que as condições desse novo empréstimo são desafiadoras de serem obtidas no mercado financeiro com outras instituições. E ainda há o “colchão” para garantir uma receita específica a partir de 2025.
Fonte: ge