Final do Campeonato Carioca Sub-20. Após perder o primeiro jogo por 2 a 1, o Vasco derrota o Flamengo por 1 a 0 no segundo jogo, levando a final para os pênaltis. Everton, jogador rubro-negro, erra a cobrança. Se o Vasco converter, será campeão. Ray vai para a bola e cobra de forma sutil.
Esse foi o desfecho do título carioca sub-20 do Vasco, conquistado em 15 de julho, em São Januário. Com calma e confiança, Ray, de 18 anos, converteu a última cobrança e garantiu a taça. Destaque das categorias de base vascaínas, o meio-campista teve o contrato renovado recentemente e já está sendo observado pela equipe profissional, tendo participado de alguns treinos nesta temporada.
– Estou muito feliz com esse momento, consegui renovar com o Vascão. Foi um mês abençoado, com gol do título. Nunca me senti tão bem no Vasco, é só o começo – afirmou o jovem em entrevista ao Globo Esporte.
– Eu já estava pensando em driblar o goleiro. No momento da disputa, observei se o goleiro estava se movimentando antes e, como eu era o último a bater, pude analisar. Quando o Flamengo errou o pênalti, já tinha em mente fazer a cobrança com sutileza e obtive sucesso. Gosto muito de improvisar. Me inspirei muito em jogadores como Ronaldinho Gaúcho, Neymar… Para mim, a essência do futebol brasileiro é justamente isso, buscar a improvisação e arriscar – complementou Ray.
O talento do meio-campista chama atenção na base do Vasco, porém nem sempre foi assim. Ray, natural de Natal, deixou o Rio Grande do Norte em 2016 com seu pai, Berg, com poucas condições, mas com o sonho de se tornar um jogador de futebol. O primeiro “não” veio do Flamengo e foi doloroso, especialmente pela maneira como aconteceu.
– Foi uma situação difícil que passamos, mas, graças a Deus, hoje posso sorrir ao falar disso. No começo, foi muito complicado. Quando cheguei ao Flamengo, havia uma comissão técnica, passei no teste e me disseram para me preparar para me mudar de Natal, mas, quando voltei, havia uma nova comissão técnica. Passei por outro período de avaliação e eles alegaram que eu era muito magro e me dispensaram – relatou Ray.
– Deixamos tudo para trás, vendemos a casa, o carro, tudo o que tínhamos. Quando passamos por isso, foi muito difícil, fiquei perdido, sem saber o que fazer. Não podia arrumar um trabalho, porque tinha que levá-lo para os treinos. Mudamos toda a nossa logística para vir aqui, questionei o Flamengo e disseram que não havia nada a ser feito. Conversei com meu filho e decidimos que iríamos ficar e tentar – acrescentou o pai do jovem.
Para viver na cidade do Rio de Janeiro, Berg trouxe sua esposa Clecia, madrasta de Ray. Ficou acordado que quem conseguisse um emprego primeiro trabalharia, enquanto o outro cuidaria do jovem jogador. E Berg passou a acompanhar o filho em todos os lugares. Ele conseguiu fazer treinos no Boavista e no Campo Grande, onde, com a ajuda do treinador Robinho, foi enviado para jogar no Vasco.
No entanto, Ray enfrentou mais desafios no clube de São Januário. Levou um tempo até conquistar seu espaço, esteve próximo de ser dispensado, mas tudo mudou quando chegou à categoria sub-17, onde se tornou uma das promessas do clube. A situação da família foi o que motivou o meio-campista a mudar de atitude.
– Foi principalmente uma questão de concentração e foco. Depois que chegamos ao Rio, passamos por muitas dificuldades e ficamos seis anos sem voltar a Natal. Minha madrasta é uma segunda mãe para mim, mas mãe é mãe e eu senti muita falta da minha durante esses seis anos – explicou Ray, continuando:
– Quando fui visitá-la, vi uma situação desagradável, a casa dela num lugar que eu não gostava, com animais na casa, e me senti muito mal. Houve um dia em que me afastei, comecei a chorar e falei: “Quando eu voltar para o Rio, vou mudar essa situação”. Voltei com uma mentalidade diferente, perguntei à nutricionista o que precisava fazer para melhorar. E assim foi, com a ajuda da minha família e dos meus empresários, decidi que queria mudar e disse que o sub-17 seria o meu ano.
E a vida de Ray realmente mudou. No sub-17, o meio-campista se tornou titular e participou de 27 partidas, marcando dois gols e dando duas assistências. Nesta temporada do sub-20, ele marcou quatro gols e deu uma assistência em 19 jogos. Na última terça-feira, ele renovou seu contrato com o Vasco até agosto de 2028 – a cláusula de rescisão é de 40 milhões de euros.
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Experiência nos treinamentos com o time profissional
– É sempre uma experiência muito boa treinar com o time profissional. É ótimo estar lá. A torcida pode ficar tranquila que, quando a oportunidade surgir, eu darei o meu melhor. Quero aproveitar ao máximo as chances que eu tiver, mas meu foco está no sub-20 no momento.
Sonho
– Meu maior sonho vestindo a camisa do Vasco é levar o clube à Libertadores, gostaria de proporcionar essa alegria para a torcida vascaína. Não é uma tarefa fácil, pois a camisa do Vasco pesa muito, mas nós vamos conseguir.
Referências
– Fui muito feliz e tive a oportunidade de treinar com o Nenê. Ele e o Alex Teixeira, eu gosto muito dos dois. O Nenê saiu, mas deixou um legado. Também sou amigo de todos os garotos, como o Andrey e o Marlon, quero trilhar o meu caminho no Vasco também.
Mudança de mentalidade
– Eu estava na lista de dispensa, Igor Guerra assumiu como treinador e disse que começaria tudo do zero, pois não conhecia ninguém. Eu pensei que seria a minha chance, então continuei focado, dormindo cedo e me alimentando bem. Joguei alguns amistosos pelo sub-17 como reserva, mas quando entrei, fui bem e ganhei oportunidades. Agarrei-as e não as soltei de jeito nenhum.
William Batista
– Agora temos a Copa do Brasil, e a preparação continua intensa para conquistarmos mais um título. William Batista é um treinador de alto nível, um dos melhores que eu já tive. Ele cobra todos da mesma forma, não importa se é titular ou reserva. Ele tem um jeito brincalhão, o que se encaixou perfeitamente para nós, e nós o abraçamos assim que ele chegou.
Trabalho mental
– Minha relação com meu pai não é apenas de pai e filho, mas também de amigos. Conversamos sobre tudo. O Vasco tem a psicóloga Larissa, que me ajuda muito, e meu pai também conversa muito comigo. Estou mentalmente bem e me sinto preparado para os próximos passos.
Títulos nas categorias de base
– No Vasco, buscamos constantemente conquistar títulos. Todos querem jogar no Vasco por causa disso, temos sempre chegado perto. O título do Carioca Sub-20 é mais uma conquista muito importante para a minha carreira.
Fonte: Globo Esporte
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