A revenda poderia ser uma possibilidade, mas nunca deveria significar perder o controle acionário do Vasco para outros, tratando-se assim de preservar a essência do clube.
Manter o controle majoritário do Vasco traz desafios, gera desgaste e uma pressão constante, além de críticas sobre resultados e desempenho.
Anunciar ao mercado que o Vasco está à venda sem garantir a manutenção do controle acionário não é uma tarefa simples, já que isso afugenta potenciais interessados. O Athletico-PR pode ter uma visão, mas o Vasco não pode se dar a esse luxo. O Corinthians, que enfrenta uma dívida de 2,3 bilhões, pode ter essa perspectiva, mas o Vasco não.
Os pensamentos de Jorge Salgado em 2022 são conceitualmente semelhantes aos do atual presidente. A dívida aumentou? Pois é.
A irresponsabilidade de muitos, tanto nos conselhos quanto na mídia, levou a esse cenário. Eles disseram que era a única saída e, como consequência, a dívida cresceu em mais de 300 milhões de reais, com a implementação da SAF e reclassificações de contas.
O Vasco não é gerido em busca de soluções para reduzir seus problemas; há uma tendência de transferir esses problemas a outros, permanecendo na zona de conforto enquanto apontam dedos, quando na verdade todos os dedos estão apontados para o mesmo grupo do MUV, que, em 13 dos últimos 16 anos, esteve no comando do clube, aumentando dívidas, terceirizando o que podia e se tornando o alvo de críticas do maior rival, sempre na esperança de uma solução mágica ou de uma austeridade cega, sem jamais apresentar resultados no campo que demonstrem a superioridade do clube sobre os rivais em termos de vitórias, taças e títulos. Isso foi feito em um período de três anos, mas custou caro; houve desgaste, pressão, trabalho duro, críticas e os resultados nunca mais foram repetidos.
É necessário enxergar a diferença entre um Vasco que, até a ascensão do MUV ao poder em julho de 2008, tinha a menor dívida entre os grandes do Rio e o Vasco que, após seis anos e cinco meses de dificuldades institucionais, conseguiu novamente se destacar no futebol carioca (como mostram resultados e títulos conquistados), reduzindo sua dívida total (algo que nenhuma gestão do MUV ou seus sucessores conseguiram), recuperando seu patrimônio e sua base, além de levar o clube à Libertadores.
Desde 2018, conquistaram apenas uma taça (de 1º lugar) em competições oficiais e nenhum título de campeonato.
A dívida, que alcançou quase 700 milhões de reais sob a gestão do MUV (688 milhões), foi reduzida (segundo as contas dos diretores que o sucederam) para 645 milhões, enquanto o Conselho Deliberativo fala em 589 milhões.
Ninguém jamais questionou como o Vasco chegou a essa situação, considerando que era um clube sem crédito no final de 2014, sem certidões, dependente de receitas futuras das cotas de TV adiantadas, sem patrocinadores e com salários atrasados, além de ser apenas um terceiro colocado na Série B, sem ter liderado nenhuma rodada do campeonato, sendo considerado a quarta força do futebol carioca.
O discurso cego, uma mistura de ódio a alguém e desdém ao clube, que muitos alegavam amar, revelou-se tão verdadeiro quanto uma nota falsa. Quando a oportunidade de se entregar foi oferecida em 2022, muitos a aceitaram com entusiasmo.
Para muitos, as consequências disso pouco importaram. A ordem é repetir a dose, no método de tentativa e erro (mais cautela, mais transparência etc.), trazendo cada vez mais a percepção de que o gigante que é o Vasco se tornou um mero coadjuvante, pois muitos veem o clube como inviável, incapaz de lutar e se recuperar, ainda que provas em contrário tenham surgido ao longo do tempo, como em 2019, no que diz respeito ao sócio-torcedor. Apesar de saberem do potencial para gerar receitas futuras, o Vasco continua sendo, verdadeiramente, um dos cinco gigantes do futebol brasileiro, com uma torcida gigantesca (aliás, é o único dos cinco que está à venda).
O Vasco deve conduzir seu destino e ignorar esse pensamento é quase um ato de descrença no próprio clube, o que seria ilógico para quem deseja liderá-lo.
Não se iludam achando que a ideia de revenda com entrega do controle acionário é bem vista pela torcida, pois essa não é a sua real opinião.
A lógica é que, desde que o clube recuperou o controle acionário, nunca foi firme em garantir essa condição, permitindo que surgissem especulações sobre o contrário.
Ou seja, o Vasco não se posicionou no mercado como o dono de seu destino e aceitou o discurso daqueles que veem o Corinthians, com 2,3 bilhões de dívida, como viável, enquanto consideram o Vasco, com 1,1 bilhão, como inviável.
O Vasco é dos vascaínos, e qualquer ataque a isso, por 30, 300, ou 3.000.000.000 de moedas, nada mais é do que uma tentativa de vender a essência do Vasco – como já fizeram Jorge Salgado e seus apoiadores, seja de forma direta ou indireta, independentemente de como essa essência seja vendida.
Sérgio Frias
Fonte: Casaca