É necessário ponderar sobre a denúncia. Imaginemos que meu desejo seja lançar uma frota de veículos de jornalistas famosos. Eu próprio não possuo dinheiro algum, então recorro a um empréstimo com Martín Fernandez. Vou até Lédio Carmona e adquiro seu automóvel. Em seguida, vou ao banco e solicito outro empréstimo, utilizando o carro de Lédio como garantia de pagamento. Posteriormente, visito Marcelo Barreto e compro seu veículo.
Chega um momento em que minha ambição é tão grande que decido: é hora de adquirir o veículo de Gustavo Poli. Como é de se esperar, carros pertencentes a diretores da Globo têm um alto custo. A família de Poli precisa aprovar! Solicito mais um empréstimo e ofereço como garantia tudo o que possuo: o dinheiro de Martín, os carros de Lédio e Barreto. Qual é a complicação? Todos reclamam. Os ativos já haviam sido oferecidos como garantia anteriormente, daí a acusação de fraude.
No lugar de veículos, empresas do conglomerado norte-americano — incluindo clubes de futebol. Em vez de jornalistas, seguradoras e investidores. Se a 777 de fato conduziu o esquema, conforme alega a Leadenhall Capital, resta aguardar a apuração e o desfecho do caso nos tribunais dos Estados Unidos. Até o momento, pairam dúvidas sobre a postura que a 777 adotará diante de duas questões cruciais. A corporação manterá seus investimentos no futebol ou optará por vender seus ativos? E qual será sua conduta pública diante do panorama apresentado?
No mês de dezembro, intermediários trouxeram à alta cúpula da 777 sondagens de investidores interessados na aquisição do Vasco — e não, não se trata da Crefisa. Os americanos recusaram prontamente a proposta, pois ainda tinham interesse em permanecer no cenário futebolístico por mais tempo. Contudo, hoje, possivelmente, a conjuntura se alterou. A mídia estrangeira tem escrutinado o obscuro negócio do grupo, e a opinião pública brasileira deseja vê-lo responsabilizado pela insatisfatória performance no futebol.
Quanto à postura diante do público, é provável que a SAF opte pelo silêncio. Don Dransfield, executivo de alto escalão na estrutura corporativa, aprendeu no City Football Group, seu empregador anterior, a ignorar o clamor público até o desfecho final. Entretanto, é importante frisar que a 777 não é equiparada aos Emirados Árabes. A alegação de influência suave é menos danosa do que a acusação de fraude. Além disso, a oposição não se assemelha à que encontramos no Brasil, por parte das associações.
A 777 precisa cometer apenas um deslize para que o CRVG recupere sua posição no futebol. Seus dirigentes já estão se manifestando na imprensa, adotando um tom beligerante. Eles já contam com aliados entre advogados e especialistas jurídicos, aguardando por uma eventual falha. Também possuem o respaldo da torcida e de comunicadores. Uma série de indivíduos tem se aproveitado da credibilidade de Pedrinho para, de forma anônima e sem declarar suas intenções, intensificar a tensão. O torcedor vascaíno não tem um momento de tranquilidade. E, pelo visto, isso não mudará tão cedo.
Fonte: Rodrigo Capelo – Oglobo