Para Rildo, o mundo do futebol foi recompensador. Ele passou 14 anos no esporte, defendendo times como Santos, Corinthians, Coritiba e Vasco. Aos 34 anos, ele deixa o profissionalismo com a sensação de que conseguiu melhorar sua vida e transformar uma realidade que parecia mais difícil.
Até os 20 anos, Rildo não passou pelas categorias de base. Ele até jogou uma Copa São Bernardo, mas seu verdadeiro destaque foi na várzea, na Copa Kaiser (hoje Copa Pioneer, que teve sua final com 30 mil espectadores no último domingo, no Allianz Parque) jogando pelo Noroeste da Vila Formosa.
Convidado a fazer um teste no Fernandópolis, um time do interior de São Paulo, ele foi aprovado e abandonou o trabalho como panfleteiro e entregador de pizza, que durava mais de 12 horas por dia.
“Eu entregava folhetos nas casas, esses panfletos de supermercado, e ganhava R$ 10 por dia. Era das 5 da manhã às 5 da tarde entregando folhetos, depois pegava minha motocicleta e entregava pizza. Então posso dizer que sou muito grato por como as coisas aconteceram”, ressaltou Rildo em entrevista ao ge.
Atualmente, morando em um apartamento no bairro do Tatuapé, na zona leste da cidade de São Paulo, e com uma vida financeiramente estável, Rildo deseja aproveitar o tempo com sua filha Isabelly com tranquilidade.
“Não tenho do que reclamar do futebol. Tudo o que aconteceu, deveria acontecer. Sou uma pessoa realizada. Não sou um ex-jogador milionário, mas consegui comprar uma casa para minha mãe, fiz com que ela parasse de trabalhar e hoje temos uma vida estável. Não tenho nada do que reclamar”, afirmou.
Agora, nos fins de semana, Rildo jogará apenas por diversão em um time de sócios do Corinthians, seu time do coração, conquistando um título pelo clube e tendo o privilégio de frequentar o local como associado. E também não será raro encontrá-lo como torcedor em jogos na Neo Química Arena.
“Minha filha quase tem oito anos e passei toda a vida dela longe. Nos últimos times em que joguei, São Caetano e Taubaté, eu ia e voltava para São Paulo para ficar com ela. Agora, só estavam aparecendo coisas longe e com salários baixos. Recebi convites para jogar na várzea, mas tenho amigos que jogam lá e me falaram que há muita pressão, invadem os vestiários e não há segurança. Como já joguei com Leandro Castán e Cristian, vou jogar no time associativo do Corinthians”, revelou.
Passado no Corinthians e ação judicial contra o Vasco
A primeira grande oportunidade de Rildo surgiu no Vitória, em 2011. Depois, ele se destacou na Ponte Preta em 2013, durante a campanha do vice-campeonato da Sul-Americana naquele ano. Suas boas atuações levaram-no a ser emprestado para o Santos no ano seguinte.
“Meus melhores momentos foram na Ponte, no Santos e no Coritiba. No Santos, em 2014, tive minha melhor partida na semifinal da Copa do Brasil contra o Cruzeiro (empate por 3 a 3). Marquei um gol, dei uma assistência e sofri um pênalti, mas o Cruzeiro conseguiu se classificar. No Coritiba, tive um ótimo ano em 2017, quando fomos rebaixados. Nunca fui um grande goleador, mas tinha facilidade em criar jogadas, e nesse Campeonato Brasileiro fui o segundo artilheiro da equipe com seis gols e sofri nove pênaltis”, lembrou Rildo.
Depois de passar pela Ponte Preta e pelo Santos, mas antes de sua passagem pelo Coritiba, Rildo teve a oportunidade de jogar no Corinthians. Embora tenha conquistado um título brasileiro em 2015 e ter vivido experiências com estrelas do futebol, sua passagem pelo clube do coração foi frustrante devido às inúmeras lesões. Ao todo, foram apenas 22 jogos e dois gols marcados.
No Campeonato Brasileiro de 2015, Rildo teve uma chance com Tite, mas em um dos primeiros jogos, luxou o próprio ombro. No final daquele ano, quando parecia estar recuperado, foi internado devido a uma infecção generalizada. Em janeiro, foi diagnosticada uma inflamação no ombro causada por uma bactéria. O que seria um breve período de recuperação durou nove meses, durante os quais Rildo não pôde jogar.
“Tinha assinado um contrato de um ano e meio com o Corinthians. Na prática, perdi um ano e um mês devido às lesões. Tive que passar por seis cirurgias no ombro por causa da infecção, quatro delas para drenar pus. Passei o Natal internado e tomei antibióticos por seis meses”, contou.
“Quando voltei, acabei torcendo o tornozelo em um lance com o Edílson no treino. Fiquei fora por mais três meses. Foi muito difícil. Depois, joguei com o Edílson no Avaí e lembrávamos daquele lance, mas sem rancor, ele é um grande amigo. Só fiquei triste por ter perdido a oportunidade”, acrescentou.
A passagem de Rildo pelo Corinthians não foi satisfatória. Ele foi para o Coritiba, participou da campanha do título paranaense e, no Brasileirão, destacou-se apesar do rebaixamento da equipe. Em 2017, ele acertou com o Vasco da Gama para receber o maior salário que um entregador de folhetos jamais sonharia.
Ou pelo menos essa era a promessa feita a ele…
“No início, a experiência no Vasco foi boa, mas depois tive outra lesão, operei o mesmo ombro novamente, em um local diferente, mas o mesmo problema. Quando retornei, não recebi muitas chances do Alberto Valentim, então pedi para ir para a Chapecoense”, explicou.
“No Vasco, eu teria o maior salário da minha vida, somando com os pagamentos de imagem, seria cerca de R$ 185 mil. Mas lá era difícil receber, né? (risos). Sou grato ao clube. Quando saí, fiz um acordo para parcelar os valores em dez ou doze vezes, mas eles não pagaram nem a primeira parcela. Então, tive que entrar na justiça. Espero receber pelo meu trabalho algum dia”, desabafou.
A carreira de Rildo também inclui passagens por Avaí, Paysandu e pelo Daegu, da Coreia do Sul.
Fonte: ge