No dia 8 de julho de 2021, durante um treinamento comum no Vasco, Ricardo Graça, que havia competido no Pré-Olímpico com o Brasil em 2020, já havia desistido da possibilidade de ser chamado para os Jogos Olímpicos no Japão. Isso porque o zagueiro não estava na relação divulgada por André Jardine seis dias antes. A notificação de sua convocação, devido à lesão de Gabriel Magalhães, surpreendeu o jogador vascaíno.
– O preparador físico Daniel questionou se ainda havia chances de eu ser convocado, ao que respondi que não, pois a lista já tinha sido divulgada. Porém, percebi uma movimentação atípica, com a presença do presidente Jorge Salgado e membros da comissão técnica se comunicando… Eu não sabia o que estava acontecendo. Antes do treino, o presidente e o Pássaro (então diretor de futebol) anunciaram a minha convocação – relatou Ricardo Graça ao ge, acrescentando:
– Esse momento foi emocionante. Eu havia participado do Pré-Olímpico, fui titular contra a Argentina no último jogo, mas sabia que não era o meu melhor momento e que outros jogadores estavam à frente na disputa. Eu havia perdido as esperanças. Portanto, quando fui convocado, foi um dos dias mais felizes da minha vida.
A fraca campanha no Pré-Olímpico, com a classificação conquistada apenas na última rodada, gerou desconfiança em torno da Seleção ao chegar ao Japão em 2021 – vale lembrar que os Jogos Olímpicos foram adiados em um ano devido à pandemia de Covid-19. Como atual campeão, o Brasil buscava manter o título do outro lado do mundo.
– O grupo era bastante unido. Não havia vaidades ou divisões entre os jogadores. Tanto eu quanto o Lucão (goleiro do Vasco) éramos os únicos representantes da Série B. Porém, todos conheciam meu potencial. Apesar de o Brasil ser sempre favorito, a desconfiança rondava o ambiente antes da estreia contra a Alemanha. Mas vencemos por 4 a 2 de forma convincente. Não havia medo ou insegurança de nossa parte. Quem não estava atuando, como eu, sabia que poderia contribuir a qualquer momento. A trajetória foi mais tranquila do que no Pré-Olímpico. Todos estavam confiantes na conquista diante da Espanha – recordou Ricardo, que completou:
– É atípico o Brasil ausente nessas Olimpíadas, pois sempre foi uma potência no futebol e, além disso, somos bicampeões, vencendo as duas últimas edições. Portanto, é estranho o atual bicampeão não ter a oportunidade de brigar pelo terceiro título.
O Brasil sagrou-se campeão com uma vitória por 2 a 1 sobre a Espanha, conquistando sua segunda medalha de ouro na modalidade – o primeiro ouro foi em 2016, nos Jogos do Rio de Janeiro.Embora não tenha participado da campanha do título em 2021, a experiência influenciou a decisão de Ricardo Graça de deixar o Vasco e ingressar no Jubilo Iwata, do Japão, no final daquele ano.
– Ter vivenciado as Olimpíadas aqui me permitiu perceber o quão organizado tudo é. As pessoas são educadas, as coisas funcionam… Naquela época, o Vasco ainda não era SAF, e eu estava valorizado por causa das Olimpíadas. Surgiu essa proposta do Japão, e a negociação foi rápida, durando apenas uma semana. Tudo o que pedimos foi aceito, e apesar da diferença de fusos horários, tudo ocorreu rapidamente – afirmou o ex-jogador do Vasco, acrescentando:
– O fato de ter participado da Seleção Brasileira foi determinante em minha decisão. É fácil acostumar-se com coisas boas. Aqui, meu único foco é jogar futebol. Claro que há cobranças, mas se eu perder um jogo, posso sair nas ruas tranquilamente, pois ninguém vai me abordar, as pessoas são extremamente respeitosas. É um país singular. Minha esposa adora morar aqui e não pensa em voltar no momento. Minha filha tem educação e segurança, algo que não encontramos em outros lugares.
Mesmo com a diferença de 12 horas em relação ao horário de Brasília, o zagueiro encontra tempo para relembrar sua passagem pelo Vasco e acompanhar os jogos do clube que o revelou. Ele está atento a todas as notícias do Cruzmaltino, e a contratação de Philippe Coutinho foi recebida com entusiasmo por Ricardo Graça.
– Na época do colégio, ouvia muito sobre Coutinho e sua geração. Alex Teixeira, Souza… Sempre acompanho o Vasco e estive presente em São Januário no último jogo do ano passado, contra o Bragantino. Às vezes não consigo assistir ao vivo devido ao fuso horário, mas sempre acompanho depois e vejo as opiniões. Continuo conversando com funcionários do Vasco até hoje – afirmou ele.
– Essa contratação é um sinal não apenas para os investidores de que o Vasco está se reerguendo, mas também para os torcedores de que a prata da casa está de volta. O torcedor não pôde acompanhar Coutinho de perto no Vasco, mas torceu por ele na Europa e na Seleção Brasileira. Contar com um jogador do calibre dele, em boa fase e com tamanha qualidade, tem tudo para ser um sucesso. O Pedrinho é um ídolo do clube e sabe o que está fazendo. A chegada de Felipe também já mudou o ambiente, proporcionando mais confiança aos jogadores – concluiu o zagueiro.
Ricardo Graça, de 27 anos, despontou no Vasco em 2017 e permaneceu no clube até o final de 2021, quando se transferiu para o Japão. Pelo Jubilo Iwata, ele já disputou 21 partidas e marcou um gol em 2024.
Fonte: ge