O arquiteto responsável pelo projeto de modernização de São Januário, aprovado nesta quarta-feira pelo prefeito Eduardo Paes, é Sérgio Moreira Dias, que tem uma ligação profunda com o Vasco. Integrante do clube por sete décadas e ex-secretário de urbanismo, Dias participou de projetos importantes como o Parque Maria Clara Machado, o Rio Orla e o Porto Maravilha antes de assumir o desafio de redesenhar o estádio do time cruz-maltino. Ele destaca que a reforma valorizará a presença da torcida na Colina Histórica.
Uma das mudanças significativas no projeto é a transformação da tradicional forma de “ferradura”, presente desde a inauguração, para um formato retangular com quatro lados de arquibancadas. Essa mudança visa não só a modernização, mas também a aproximação da torcida em relação ao campo de jogo.
— No primeiro projeto que desenvolvemos, em parceria com a Pelé Esportes, mantivemos o formato de ferradura, pois o objetivo do Bank of America (patrocinador e investidor à época) era ampliar a capacidade, a receita e os resultados. Com o tempo, percebemos algumas questões. Hoje, o espetáculo é a torcida, o público. Ela faz parte integrante do jogo, movimenta, modifica, anima os jogadores — afirma Sérgio, que elogia a torcida cruz-maltina. Sua equipe conta ainda com Felipe Nicolau, Willian Freixo, Clarissa Pereira e Ana Carolina Dias.
Um dos focos do projeto foi a acústica. Com a eliminação da curva na arquibancada, que se transformará no setor norte, a torcida vascaína terá mais condições de fazer barulho e pressionar. De acordo com Dias, o torcedor mais próximo do campo nesse trecho da arquibancada ficará entre 40 e 45 metros, enquanto no futuro setor norte, a distância será de apenas 10 metros. Uma escolha que visa equilibrar a capacidade do setor com a qualidade do espetáculo.
— É claro que é necessário um conjunto de pessoas torcendo, cantando, mas criamos uma estrutura arquitetônica que potencializa essa vibração, ampliando a emoção do jogo para o espectador. Este é o objetivo do novo estádio.
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O projeto começou em 2020, na gestão de Alexandre Campello. Em parceria com a construtora WTorre, a intenção era tornar a reforma autossustentável por meio dos negócios gerados pela própria estrutura. Naquela época, Sérgio trabalhou de forma voluntária nessa iniciativa.
Desde então, o projeto passou pelas mãos de Jorge Salgado e agora está sob a gestão de Pedrinho. A grande novidade é que os custos agora estão sendo encaminhados pela lei complementar nº 142/2023, de operação urbanística da região, permitindo a transferência de potencial construtivo. Isso significa que o Vasco foi autorizado, através da Câmara de Vereadores, a obter recursos pela transferência de seu “direito de construir” não utilizado em São Januário. As empresas privadas compradoras, cujos nomes são mantidos em sigilo pelo presidente Pedrinho, provavelmente exercerão esse direito na Barra da Tijuca, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro, que sediou uma das audiências públicas do projeto de lei. Após duas votações no plenário e parecer das comissões da casa, a lei foi aprovada.
Os recursos arrecadados serão integralmente destinados às obras na Colina e arredores, com um custo estimado em R$ 506 milhões. Além do estádio, a lei prevê uma série de melhorias urbanísticas na região. O Vasco mantém uma forte ligação com a Barreira do Vasco, comunidade vizinha ao estádio, que passará a ter acesso a uma esplanada no terreno do complexo.
— A lei vai além do Vasco. Ela beneficia a região ao redor do estádio: São Cristóvão, Benfica, Caju. Uma emenda garante que 6% do valor arrecadado será investido em infraestrutura local. Reconhecemos a importância de São Januário para a região. Durante o período em que o estádio ficou fechado, um estudo da prefeitura indicou que quase 20 mil trabalhadores estavam envolvidos direta ou indiretamente nos dias de jogos — destaca o presidente da Câmara, Carlo Caiado.
Estruturas e estátuas
O projeto ainda passará por ajustes solicitados pela diretoria de Pedrinho, que serão anunciados em breve. No entanto, a ideia central do complexo vai além da renovação das arquibancadas, mantendo apenas a fachada histórica na área social. A capacidade do estádio, atualmente em torno de 20 mil pessoas, será ampliada para cerca de 47 mil espectadores, com setores sem assentos para aproximadamente 32 mil torcedores, além de áreas com cadeiras, camarotes e lounges.
A sala da presidência que fica próxima à mega loja e com vista total para o campo será integrada a uma das duas torres que serão construídas nas extremidades da fachada. Assim como as diversas salas utilizadas pelo clube dentro dos corredores do estádio.
— A sala será transferida para a torre sul, que contará com um salão de eventos e convenções em um dos pavimentos. Em seguida, haverá um andar administrativo para a presidência, diretoria, além de um piso com restaurantes, incluindo dois temáticos nas torres norte e sul. Vale destacar que as torres serão varandadas, e essas varandas servirão como camarotes, como um camarote de ídolos — explica Sérgio.
Algumas estruturas do complexo atual serão preservadas, como o parque aquático e a capela de Nossa Senhora das Vitórias, que farão parte de uma área combinada atrás da arquibancada sul. Neste local, haverá um espaço social com piscina e área de recreação, incentivando a realização de eventos, inclusive aproveitando a capela, e uma torre esportiva com diversos ginásios, substituindo as estruturas esportivas atuais. Na última temporada, o principal ginásio foi utilizado como palco dos jogos do Vasco no NBB. O Colégio Vasco da Gama também manterá sua estrutura atual.
A obra, que deverá ter uma duração mínima de dois anos e meio, também impactará as estátuas de Roberto Dinamite (inaugurada em 2022) e possivelmente a de Romário. Sobre a nova posição das estátuas, Sérgio afirma que ainda não está definida e que será discutida com a família de Roberto.
Agora, o projeto entra na fase de negociações e licenciamento. A segunda etapa deve demandar alguns meses. Os interessados em visitar o estádio atual têm até o fim do Brasileirão. As obras têm previsão de início entre dezembro e janeiro do próximo ano. Em abril de 2027, São Januário completa 100 anos.
Fonte: Agência O Globo
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