Uma das mudanças mais notáveis no projeto é a alteração do formato do estádio de “ferradura”, presente desde a inauguração, para um modelo retangular, com quatro lados de arquibancadas. Essa adaptação busca modernizar o ambiente e, ao mesmo tempo, aproximar os torcedores do campo de jogo.
— No primeiro projeto que elaborei, em parceria com a Pelé Esportes, mantivemos o formato de ferradura, pois o Bank of America (na época patrocinador e investidor do clube) visava aumentar a capacidade, a receita e os resultados. Contudo, com o tempo, percebemos algumas questões. Hoje, o espetáculo é a torcida, ela é parte fundamental do jogo. Movimenta, muda, incentiva os jogadores — afirma Dias, que elogia a paixão dos torcedores vascaínos. Seu time de trabalho conta com Felipe Nicolau, Willian Freixo, Clarissa Pereira e Ana Carolina Dias.
A acústica foi um ponto chave no planejamento. Com o fim da curva na arquibancada, que se transformará no setor norte, a torcida cruz-maltina terá condições ideais para criar atmosfera de pressão. Segundo Dias, a distância do torcedor mais próximo do campo naquela região da arquibancada é de 40 a 45 metros. Já no futuro setor norte, será de apenas 10 metros. Um equilíbrio entre capacidade do setor e qualidade do espetáculo.
— É imprescindível ter uma quantidade expressiva de pessoas se manifestando, porém, a estrutura arquitetônica foi pensada para potencializar essa vibração, proporcionando uma experiência emocionante ao telespectador durante a partida. Esse é o propósito do novo estádio.
O projeto teve início em 2020, na gestão de Alexandre Campello. Em parceria com a construtora WTorre, o objetivo era viabilizar um estádio que se sustentasse por meio de negócios próprios. Naquele momento, Sérgio contribuiu de forma voluntária para a iniciativa.
Desde então, houve transição para a gestão de Jorge Salgado e, agora, sob a administração de Pedrinho. A principal diferença é que os custos estão viabilizados pela lei complementar nº 142/2023, de operação urbanística na região, que possibilitará a transferência de potencial construtivo. Na prática, o Vasco foi autorizado, pela Câmara dos Vereadores, a angariar recursos por meio da transferência do seu “direito de construir” não utilizado em São Januário. As empresas privadas que adquirirem esses direitos — cujos nomes são sigilosos, conforme o presidente Pedrinho —, possivelmente os utilizarão na Barra da Tijuca, bairro da Zona Oeste da cidade, que foi palco de uma das três audiências públicas durante a tramitação do projeto de lei. Após duas votações em plenário e parecer coletivo das comissões da casa, o projeto foi aprovado.
Os recursos arrecadados deverão ser integralmente direcionados para as obras em São Januário e arredores, cujo custo está estimado em R$ 506 milhões. Além da revitalização do estádio, a lei prevê uma série de melhorias urbanísticas na região. O clube tem forte conexão com a Barreira do Vasco, comunidade vizinha ao estádio, que estará diante de uma área de acesso livre no terreno.
— A abrangência da lei vai além do Vasco. Contribui para o desenvolvimento da região: São Cristóvão, Benfica, Caju. Uma emenda garante que 6% do valor arrecadado seja investido em infraestrutura local. Reconhecemos a importância de São Januário para a região. Durante o período em que o estádio estava fechado, um estudo da prefeitura revelou que quase 20 mil trabalhadores estavam envolvidos de forma direta ou indireta nos dias de jogos — ressaltou o presidente da Câmara, Carlo Caiado.
Estruturas e esculturas
Ainda sujeito a algumas alterações solicitadas pela diretoria de Pedrinho, que serão anunciadas em breve, o projeto abrange não somente a reconstrução quase completa das arquibancadas, mantendo apenas a fachada histórica na área social. Com a capacidade atual em torno de 20 mil lugares, o estádio passará a comportar cerca de 47 mil pessoas, com áreas sem assentos (para aproximadamente 32 mil espectadores), além de setores com assentos, camarotes e lounges.
A atual sala da presidência, próxima à mega loja e com visão total do campo, será incorporada a uma das duas torres que serão erguidas nas extremidades da fachada. Assim como diversas salas utilizadas pelo clube dentro dos corredores do estádio.
— A sala será realocada para a torre sul, onde teremos um salão para eventos e convenções em um pavimento. Posteriormente, haverá um andar administrativo, destinado à presidência e diretoria, e um pavimento com restaurantes. Teremos dois restaurantes temáticos, situados nas torres norte e sul. Vale destacar que as torres possuirão varandas, que serão transformadas em camarotes especiais, como um camarote de ídolos — detalha Sérgio.
Algumas estruturas do complexo atual serão mantidas, como o parque aquático e a capela de Nossa Senhora das Vitórias, que integrarão um setor misto atrás da arquibancada sul: haverá uma área social, com piscina e espaço de recreação — com potencial para eventos, inclusive aproveitando a capela —, e uma torre esportiva com vários ginásios, substituindo as estruturas esportivas existentes. Na última temporada, o principal ginásio sediou os jogos do Vasco no NBB. O Colégio Vasco da Gama manterá sua estrutura atual.


A obra, com duração prevista de, no mínimo, dois anos e meio, terá impacto na estátua de Roberto Dinamite (inaugurada em 2022) e possivelmente na de Romário. A posição das esculturas ainda está em definição, em conjunto com a família de Roberto.
O projeto agora avança para a fase de negociações e licenciamento, sendo que a segunda etapa demandará alguns meses. Os torcedores que desejarem visitar o estádio atual têm até o final do Brasileirão. As obras devem ser iniciadas entre dezembro e janeiro do próximo ano. Em abril de 2027, São Januário completará 100 anos.
Fonte: O Globo