Na coletiva de imprensa desta segunda-feira, Pedrinho confirmou que Felipe “Maestro” será o técnico interino do Vasco para as três rodadas que faltam no Brasileirão. Antes, Felipe ocupava o cargo de diretor-técnico desde junho e é um amigo próximo do presidente.
– Após uma reflexão profunda, decidimos que Felipe assumirá como técnico interino. Ele cuidará dos três jogos restantes. Essa é a melhor escolha por várias razões. Felipe é muito competente, possui todas as licenças da CBF e está presente nos treinos diários, conhecendo bem os atletas e suas particularidades. Nesta fase final, apresentar um novo treinador seria arriscado, já que precisamos de estabilidade para atingir nossas metas – disse Pedrinho, que ainda acrescentou:
– O Felipe é um grande amigo, um verdadeiro irmão, mas eu jamais colocaria alguém inadequado nesse papel. Ele é alguém em quem confio plenamente e possui a competência necessária. Para deixar claro, Felipe atuará como treinador interino apenas até o fim do campeonato. Enquanto isso, juntamente com ele, buscaremos um novo técnico que se encaixe no nosso orçamento. Após esses três jogos, vamos avaliar a situação, pois não podemos desviar o foco. O próximo passo será analisado a posteriori.
Após o término do Brasileirão, a ideia é que Felipe continue com o time, embora não como técnico. Ele deverá assumir uma função fixa na comissão técnica do Vasco em 2025, ou talvez treinar uma das equipes de base do clube. Essas questões ainda estão em discussão. A diretoria já iniciou a busca por um novo técnico para a próxima temporada.
– É claro que muitos nomes aparecem, com treinadores disponíveis e outros empregados. Alguns estamos estudando desde ontem, enquanto outros não fazem parte do nosso planejamento. O desafio é alinhar a filosofia de futebol que temos com o que cabe dentro do nosso orçamento. Nosso objetivo é ter uma temporada positiva. Considerando o cenário atual, encontramos um time em dificuldades no início, chegamos à semifinal da Copa do Brasil e agora aguardamos a definição sobre nossa classificação no Campeonato Brasileiro – comentou o presidente, que ainda acrescentou:
– É complicado achar um técnico que se alinhe ao que eu imagino para o futebol do Vasco dentro do nosso limite financeiro. Temos perfis em mente e torcemos para que tudo encaixe da melhor forma.
Rafael Paiva foi demitido no último domingo após uma derrota de 3 a 0 para o Corinthians na Neo Química Arena, na 35ª rodada do Brasileirão. Com isso, a equipe amarga a quarta derrota seguida, depois de um desempenho negativo contra Botafogo, Fortaleza e Internacional.
Ele havia sido efetivado como técnico em junho, após a saída de Álvaro Pacheco, que também foi demitido por Pedrinho cerca de um mês após assumir o controle do futebol, ainda na era 777. Considerando o tempo que ficou à frente da equipe após Ramón Díaz, Paiva somou 35 jogos, conquistando 13 vitórias, 10 empates e 12 derrotas.
– Desejo que compreendam que minhas respostas não são desculpas, mas esclarecimentos. Não busco proteção, mas ao revisar certos assuntos, é necessário esclarecer. Jamais aceitarei justificar minhas falhas como presidente – destacou Pedrinho antes de abrir para perguntas dos jornalistas.
O diretor de futebol, Marcelo Sant’Anna, participou da coletiva ao lado de Pedrinho.
– Desde a saída do Paiva, já temos alguns perfis em mapeamento. Mencionar exatamente qual o perfil neste momento não é vantajoso para o Vasco. Se eu revelar que estamos buscando um técnico jovem, com um esquema de jogo mais ofensivo, estou comunicando ao mercado que os treinadores nesse perfil poderão cobrar mais caro. Vamos conduzir isso com responsabilidade. O torcedor conhece a tradição do Vasco e vamos buscar um profissional que tenha afinidade com esse DNA. Na minha função como executivo, preciso alinhar o DNA do Vasco ao nosso modelo de negócios. Se não fizer isso, no final da temporada, as contas não fecham – ponderou o dirigente.
Marcelo Sant’Ana e Pedrinho concedem entrevista em São Januário — Foto: Bruno Murito
Ouça outras declarações:
Demissão de Paiva e escolha por Felipe
Pedrinho: o Paiva chegou em um momento complicado, após a saída do Álvaro Pacheco, e deu uma resposta positiva que garantiu sua permanência. Contudo, com o tempo, surgiram outras questões. O Paiva e sua comissão têm críticas e elogios à minha gestão, assim como eu tenho em relação a ele. Essas situações são internas. Não é apenas a forma das derrotas que pesaram, até vitórias em que a apresentação não agradou também foram consideradas. Sou grato pelo período que ele passou com a gente. Ao subir ao time principal, ele trouxe seu auxiliar Xandão, e logo após, o Damian. Abrimos mão de um auxiliar da casa, com Ramon do sub-17 subindo para o sub-20. Com a demissão do Paiva, para não sobrecarregar Ramon Lima, optei por cautela.
Marcelo Sant’Anna: nos últimos 10 anos do Vasco, se excluímos estaduais e Série B, Rafael Paiva é o treinador com o segundo maior número de jogos, perdendo apenas para Vanderlei Luxemburgo, que teve duas passagens. Paiva comandou a equipe em 35 partidas, enquanto Zé Ricardo fez 34 e Ramón ficou em 30. Implementar uma metodologia em meio à pressão e cobrança do futebol brasileiro é complicado. Agradecemos ao Paiva pelo seu trabalho, pois ele teve uma fase inicial com 10 vitórias, três empates e duas derrotas até a pausa que ocorreu. Infelizmente, depois disso, o Vasco ficou oito jogos sem vencer, resultando em nossa eliminação na semifinal da Copa do Brasil. Vitória sobre Cuiabá e Bahia, seguidas de duas derrotas, nos levaram a essa decisão.
– Muitos torcedores pediram a troca de treinador, preferimos dar continuidade com a crença de que as pessoas precisam de tempo e que mudanças bruscas não resolvem os problemas. Tivemos outra pausa e não aproveitamos esse tempo da melhor forma, gerando resultados negativos e pega do presidente sobre a postura em campo. Essa situação nos deu preocupação. A mudança foi feita para tentarmos devolver o Vasco a competições internacionais. Temos o desafio de encaixar nossas crenças de futebol em um modelo de negócio viável.
O que aprendemos com a janela do meio do ano?
Marcelo: a janela do meio do ano foi um momento de ajustes para o Vasco. Desde meu anúncio até o fechamento, decidimos efetivar o Paiva como técnico. Naquele primeiro recorte, nossa campanha tinha 10 vitórias, três empates e duas derrotas. Estávamos em dívida, principalmente com a busca de um zagueiro, mas dentro do cenário financeiro do Vasco, os nomes que surgiram estavam fora de alcance. Tomamos decisões a partir do contexto. O futebol é dinâmico. Após o fechamento da janela, o Adson se machucou e tivemos que fazer sua cirurgia, já esperávamos esse risco pois o atleta vinha reclamando de dores. A perda do David ocorreu após três ou quatro jogos do encerramento da janela, impactando muito nosso desempenho.
– Devemos abordar com detalhes as capacidades de investimento na próxima janela, mas nem sempre os sonhos se concretizam, já que temos que respeitar contratos estabelecidos. O atleta mais caro que contratamos na janela, sob a presidência de Pedrinho, foi o Puma Rodríguez. Pagamos um valor significativo, o mais alto já pago, para evitar um transfer ban.
Pedrinho: assumi um compromisso que não foi feito por mim, por isso, muitas vezes, preciso revisitar algumas situações para que todos entendam. Às vezes, as pessoas preferem ouvir mentiras que a deixem em sua zona de conforto. Um exemplo é o Paulinho, que é um grande jogador e acredito que será um diferencial para nós. Para não sofrer um transfer ban, precisamos pagar 650 mil dólares de uma das parcelas. O Paulinho vale a pena? Com certeza, mas o Vasco tinha condições? Não. Se não tinha como contratar um atleta desse nível, não deveria ter feito. O Coutinho era uma contratação que viria de um programa de sócio-torcedor, eu não gastaria nada. Se tivesse que arcar com seu salário, isso não seria viável. O que quero enfatizar é que a gestão da 777 percebeu que estava próximo do abismo e entendeu: “Precisamos fazer o que é necessário e alguém irá aceitar isso”.
– Eles deixaram claro que queriam vender. A bronca é nossa, mas é importante frisar que as exigências de contratações devem estar de acordo com o cenário financeiro. Se o Vasco não cair, tenho que pagar 2 milhões de euros a mais em contratações. Tenho que quitar a parcela de 650 mil dólares pela transferência feita pela 777, que planejou o esporte sem respeitar o orçamento. É como se você ganhasse mil reais por mês e fizesse uma dívida de 1 milhão. Foi isso que aconteceu. Enquanto as pessoas não entenderem o cenário em que estamos, a comunicação fica desalinhada com a expectativa.
Os desafios do dia a dia
– Aprendi muito. Na televisão, mudei concepções sobre muitos comentários. Sempre defendi a permanência dos treinadores e a importância do tempo. No meu cotidiano, percebi que as coisas são diferentes. Mantenho minhas convicções, mas em diversos momentos não serei capaz de aplicá-las. Como sempre falei, o sistema leva o gestor a fazer escolhas que não gostaria. A decisão do Paiva não foi por pressão, mas sim por convencimento da direção.
Planejamento para a próxima janela
Marcelo Sant’Anna: na chegada do presidente, recuperamos credibilidade. Nossas transferências estão sendo quitadas. Durante esses quatro meses em que fui diretor, convoquei 12 jogadores para renegociar pagamentos pendentes. Desses, 10 estavam sem receber nada. No final do ano, vou chamar mais quatro jogadores para honrar débitos. Outro ponto é alterar o perfil do atleta a ser contratado. Inicialmente o Vasco mirava jogadores do mercado internacional, e temos atualmente nove jogadores estrangeiros. Isso não significa que iremos parar de contratar jogadores de fora, mas a ideia é trazer atletas que proporcionem retorno imediato ou sejam financeiramente mais vantajosos. Se não, é melhor investir em jogadores do mercado brasileiro, já que as negociações são mais fáceis.
Pedrinho: prometo honrar o que me comprometi. Além disso, busco pagar as dívidas; farei tudo para cumpri-las. Esse trabalho de credibilidade proporciona confiança aos empresários. Como posso trazer um jogador de um empresário que tem 500 dívidas? Ele irá dificultar todas as negociações. À medida que reorganizamos, voltaremos a ter credibilidade no mercado. Conversei com o grupo financeiro e decidi não antecipar receitas de 2025; assim, terminaremos o ano em dia.
Sobre Marcelo e Felipe, qual é o papel de cada um no departamento de futebol e como isso se reflete em campo?
Pedrinho: sabemos que existem conflitos internos e políticos constantes, e muitos usam o termo “associativo” de forma depreciativa. Buscamos investidores e iremos fazer isso enquanto estiver aqui. Temos uma governança bem definida. A função do Felipe como diretor implica em uma função técnica. Felipe tem formação técnica e, no CT, ele se comunica com os atletas, mantém uma conexão com o treinador e ajuda a moldar a formação do elenco ao lado do Marcelo, focando mais na parte técnica.
– Ele identifica os setores necessários, enquanto a avaliação técnica é feita em conjunto com a equipe de scout. O Marcelo também contribui na análise técnica, mas na hora de definir transações, Felipe se retira e Marcelo fica sob a responsabilidade executiva. Isso é feito considerando o orçamento e apresentando ao nosso CEO, Carlos Amodeo. O cronograma é que Felipe é um bom técnico, um profissional muito competente, e é importante que todos enxerguem isso.
Marcelo: minha parte envolve aspectos mais administrativos que nem sempre agradam ao torcedor. Por exemplo, a estruturação de cargos e salários, desde a base até os atletas e o técnico do time principal. Também cuido da logística diária do Vasco, como compra de equipamentos e movimentação de pessoal. Estou liderando um projeto para melhorar a integração entre o futebol profissional e a base, tanto na preparação técnica quanto na parte física e de equipamentos.
– Sou encarregado de reformular os processos de scout, para que as decisões atinjam o presidente para definição. E a parte de negociações envolvendo salários, tempo de contrato, tudo deve ser analisado sob uma perspectiva financeira. Se o departamento de futebol precisar vender atletas, priorizaremos a venda de jogadores cuja saída não impacte o rendimento da equipe.
– Nas últimas janelas, optamos por não vender atletas valiosos para evitar riscos esportivos. Usamos os jogadores menos rentáveis para obter as receitas necessárias para a janela passada. Para o próximo ano, poderemos ter uma situação semelhante. Acredito que podemos otimizar a folha salarial, reduzindo gastos sem sacrificar a qualidade. O Vasco existe desde 1898 e já era hora de enfrentar certas realidades, como a estrutura do Estádio São Januário, que deve oferecer dignidade aos nossos torcedores. Tenho um certo desconforto com os CTs do Vasco. Nossa história é rica em jogadores que surgiram da base, como Roberto Dinamite, Pedrinho e Romário. Não devemos manter esses atletas alojados em locais inadequados, nem precisar levá-los a Caxias para treinar, enquanto dispomos de uma academia em SJ. Esperamos, em 2025, iniciar obras de infraestrutura que respeitem a necessidade técnica de retorno a competições internacionais. As condições técnicas do CT Moacyr Barbosa são adequadas, mas a infraestrutura física precisa de melhorias significativas, e isso o Vasco deve oferecer aos seus torcedores.
É possível manter Payet e Coutinho, dada a condição financeira do Vasco?
Marcelo: se a contribuição técnica deles em campo justificar, então sim, é viável. Preciso fazer sacrifícios em outras áreas. Isso é uma prática comum entre clubes. Já joguei a Série A com goleiros que juntos não chegavam a R$ 90 mil, sacrificando uma posição para privilegiar outra. Não disse que no Vasco não pode haver jogadores com salários altos, mas precisamos saber de onde cortar para manter o equilíbrio. Não é apenas cortar despesas, mas ser racional e entender o mercado. Alguns clubes fazem isso muito bem; e deixo como reflexão que os torcedores tendem a gostar de estrelas e atletas de status, o que marca o DNA do brasileirinho. Mas existe espaço para equipes competitivas que não focam apenas em estrelas, mas em jogadores dentro do seu modelo. O Fortaleza é um exemplo de time que, pelo segundo ano seguido, é candidato ao G4 do Brasileiro. O Athletico-PR, em uma década, manteve uma folha salarial equilibrada, mesmo tendo muitos recursos. No futebol europeu, temos o Sevilla, que, apesar da difíceis campanhas no torneio espanhol, acumula títulos internacionais. O Vasco deve buscar essa competitividade e, pouco a pouco, visitar novas prateleiras de jogadores e transferências, algo que a gestão anterior tentou, mas não honrou.
Opção por jogadores fora dos planos culminou na demissão de Paiva?
– Toda comissão técnica chega com informações claras. Não se trata de imposições, mas de comunicação. “Não contamos com este atleta, queremos priorizar essas transações na janela, e não temos interesse em renovar com estes jogadores”. Respeitamos todas essas escolhas.
Há conversas com os jogadores sobre comprometimento no dia a dia?
Marcelo: sim, precisamos intervir em relação ao compromisso dos atletas. Jogar bem ou mal é parte do esporte, mas queremos dedicação e entrega. Avaliamos a performance dos jogadores com dados que medem os esforços. Se o resultado não aparece, indagamos sobre o comprometimento, “ele não está correndo”. Contudo, muitas vezes, o jogador pode estar correndo, mas não na intensidade correta. Temos dados de GPS. Se um atleta correu 10,8 km quando sua média era 10,5 km, isso não significa que ele está abaixo do esperado. Avaliamos não só a distância, mas também a intensidade e a rapidez da execução. O Vasco possui informações diárias sobre os treinamentos.
Pedrinho: acham que o Vasco correu mais contra o Bahia ou contra o Internacional? Foi contra o Inter, mas a percepção foi de que foi superior contra o Bahia. Não estou criticando o desempenho técnico ou tático. Às vezes, a percepção pode enganar. Podemos comparar os dados da pré-temporada, que todos conhecemos.
O que a torcida pode esperar de Felipe como técnico?
Pedrinho: essa resposta deve ser direcionada a ele, sobre como ele vai atuar e qual estilo vai implementar. Não queremos colocar o Felipe naquela posição com a expectativa de fazer algo milagroso. A demissão de Paiva exigia um movimento crítico. Entre as opções, o melhor foi Felipe, por tudo que já expus. Ele é uma referência, um dos maiores ídolos da história do clube. Não podemos esperar que Felipe faça uma mágica e que de repente o Vasco se torne o Manchester City. A demissão do Paiva foi uma necessidade.
Marcelo: o que precisamos é do apoio do torcedor, algo que sempre encontramos no Vasco. Agora temos três jogos decisivos pela frente. A torcida tem nos apoiado incondicionalmente durante toda a temporada. É essencial que a maioria dos torcedores, de boa vontade, compreenda nossa proposta de construir um Vasco forte. Em tempos de redes sociais, há muita desinformação. O Vasco é um clube que lida tanto com pressão quanto com apoio, e precisamos disso nesse final de temporada. Em quatro meses e meio por aqui, não me recordo de ter sido vaiado pela torcida, independente do resultado. E é um direito do torcedor se manifestar como achar melhor, mas a torcida do Vasco tem nos apoiado. Passamos 13 rodadas entre os dez primeiros e agora precisamos da mesma energia para os dois jogos em São Januário, com o objetivo de fechar o ano de maneira positiva e disputar uma competição internacional no próximo ano. Estamos iniciando um movimento de retomada que o Vasco tanto precisa.
Quando o Vasco sairá dessa situação? E você pretende buscar a reeleição?
– Estabelecer prazos é complicado, nos comprometemos e as coisas nem sempre se desenrolam como planejado. O que buscamos é, através da Medida Cautelar Antecedente, elaborar um cronograma de pagamentos para a reorganização das dívidas. Um investidor que chegar pode acelerar esse processo. O desafio é gerar receitas e controlar dívidas. Se não houver investidor, o processo demora mais.
Panorama das dívidas do Vasco
– Qual o interesse real de expor tudo isso? Existe um debate justo sobre o tema? Normalizaram situações que ocorreram e agora me responsabilizam. Nunca vi tanta exigência após a janela de transferências. Assumimos a responsabilidade por um mercado mais ativo, e assinalamos as falhas, sim. Mas o momento de tensão não deve ser atribuído apenas à atual gestão. Todos os problemas do Vasco foram lançados sobre os nossos ombros, mesmo com a transparência que sempre buscamos. Discutiram números que não eram precisos. Quando procuramos um jogador medalhão, o empresário pede pagamento imediato, o que não conseguimos, levando a uma escolha inferior que implicou em 18 parcelas. O que eu gostaria, não apenas do Vasco, mas de qualquer gestor, é que se evitem dívidas desmedidas em busca de títulos. Essa avaliação inquieta. Isso não é uma crítica, é uma reflexão. A torcida deve fazer essa análise, mas deve pensar na necessidade de um planejamento responsável por parte da gestão.
Após a derrota para o Corinthians, com três gols sofridos em 20 minutos, houve pressão interna?
Pedrinho: sempre há conversas internas. Sou um presidente presente. As conversas podem ser sérias quando necessário, ou mais leves em outras situações. Em relação à performance, isso não esteve vinculado somente ao Paiva. O que pensaram do jogo contra o Atlético-GO, onde conseguimos nos classificar? Jogamos mal, a performance não foi boa, e quando olhei para o vestiário, todos estavam insatisfeitos. Fui claro: “Agora vocês compreendem o que representa o Vasco”. Resultados e performances trazem lições, mas meu foco está nos comportamentos em campo. As conversas são diárias, e são questões internas.
Marcelo: estamos em um momento de transição, e qualquer cobrança pode ser mal interpretada. Se alguém teve uma conversa mais acalorada no vestiário após a derrota, terá repercussões. Se tivéssemos vencido e houvesse cobrança, seria visto de forma positiva. A cobrança faz parte do grupo.
Pedrinho: eu aprecio um vestiário mais dinâmico; isso é parte do futebol. Embora a modernização do ambiente seja importante, vemos constantemente vídeos por aí. Um vestiário fervendo não significa que está rachado, é parte da cultura do nosso esporte.
Marcelo: no alto rendimento, a cobrança é inevitável. Precisamos ter limites, mas o respeito deve sempre prevalecer.
O Vasco vem utilizando o esquema 4-3-3, isso é alguma orientação do clube?
Pedrinho: Não interferimos na questão tática. Não se deve confundir minha função anterior com a atual. Se pedirem minha opinião, não deixarei de opinar, mas respeitamos as decisões dos treinadores. Alguns podem pensar que estou metendo o bedelho onde não me cabe, mas o respeito é fundamental. Quando a opinião é solicitada, eu coloco minha visão, mas não existe imposição de modelos.
Marcelo: Se estipulamos que o Vasco deve fazer construções ofensivas, essa é uma diretriz macro. Como o treinador fará isso é uma prerrogativa dele. O importante é que, se estabelecermos uma forma de jogar, precisamos mantê-la. A mesma coisa vale para o ataque. Não sou eu que vou interferir no que o treinador pretende; estamos estabelecendo metas globais. Jogar em 4-3-3 ou 4-4-2 é irrelevante. Às vezes, até sou crítico da utilização excessiva dos extremos. Há várias maneiras de competir; cabe ao treinador fazer essa escolha da melhor forma, com os recursos disponíveis.
Renovações automáticas de jogadores, como Maicon
Marcelo: antes da chegada de Pedrinho, o Maicon teve seu contrato renovado até 2025, com possibilidade de extensão para 2026, caso cumprisse metas. O contrato anterior iria até o fim deste ano e, antes de Pedrinho, foi remodelado. O Galdames tinha um contrato que o garantiria até 2025, caso cumprisse algumas exigências em 2024, mas decidimos retirar essa cláusula, terminando seu compromisso ao final desta temporada.
Como anda a busca por um técnico? Estão acelerando devido ao calendário de 2025?
Pedrinho: precisamos agir com celeridade, porém não com pressa. Felipe está envolvido no processo ao lado do Marcelo e na pesquisa de mercado para encontrarmos um treinador que se encaixe nas metas e visões propostas. O ideal seria avançar nessa escolha até o fim do ano, para que o novo treinador inicie o trabalho durante o Carioca.
Marcelo: tomei precauções para proteger o Paiva ao máximo. Evitamos discutir sua efetivação ou interinidade. Internamente, ele assinou um contrato em agosto como treinador em caráter definitivo, trazendo seus auxiliares e preparadores. Felipe está na função interina, mas precisamos focar. Apesar de sua interinidade, não podemos esquecer a importância desses três jogos. Também precisamos ter cuidado para não pressionar Felipe. A torcida está apoiando, e precisamos dessa sinergia. Entendo as expectativas, mas primeiro devemos concluir a temporada de forma sólida.
Qual o impacto de se mencionar uma competição sul-americana nas negociações?
Marcelo: ajuda, pois a possibilidade de um atleta se projetar em outros cenários é muito mais interessante. Existem mercados que avaliam somente a participação em competições de elite, logo isso é um diferencial.
O Vasco responsabilizará a gestão passada?
– Há um conselho de investigação. Se um crime ocorreu, quem o cometeu deve arcar com as consequências. Se ninguém fez nada de errado, ótimo.
Melhorias no CT
Marcelo: estamos planejando pequenas correções, mas buscamos um investimento que eleve o Vasco à posição que merece. Confiamos que isso se dará e, assim que tivermos os encaminhamentos, informaremos a torcida cruz-maltina.
Pedrinho: são várias melhorias necessárias para nos aproximarmos dos títulos. Os jogadores perguntam sobre a infraestrutura e isso é um desafio. Hoje, muitos preferem clubes com menos renome, mas melhor estruturados. Melhorar o CT é essencial.
As declarações de Paiva sobre vaias da torcida influenciaram na demissão?
– Minhas avaliações sempre se baseiam em campo. Outros aspectos podem pesar na balança, mas não faço delas o principal fator. Ele sabe que errou nessa questão e isso deve tê-lo impactado. Conhecemos muito do Vasco e precisamos passar por um processo. Não pedirei paciência à torcida. A torcida do Vasco é a mais fiel, porque já enfrentou tantos desafios e não abandona o clube.
Qual o valor do investimento que o Vasco precisa fazer em relação ao elenco e à análise de mercado?
– A análise de mercado juntamente com a gestão esportiva avalia cada atleta. Esperamos que eles se apresentem e respondam como pretendido, senão a análise será julgada como errada. Temos que ser criativos, rápidos e firmes na gestão da folha salarial. Se conseguimos diminuir custos elevando nossa receita, poderemos reverter a situação.
Quantos milhões o Vasco gastou na última janela? Foi uma janela responsável?
Pedrinho: Estamos pagando o preço por 25 anos de gestões irresponsáveis. Que tal termos um time forte em um esporte e, em um ou dois anos, acumularmos dívidas insustentáveis? Essa conta chega a alguém. Essa responsabilidade é sob nossa tutela, mas a instituição também precisa arcar. Não posso permitir que a irresponsabilidade em busca de um título comprometa a saúde financeira do clube. Cada título deve ser celebrado com responsabilidade para que não cause danos ao clube. Os investimentos foram feitos de forma a serem contabilizados com parcelas, permitindo algumas contratações.
Marcelo: pagamentos da janela do meio do ano ficaram entre 16 e 24 meses. Sobre os números, um foi amplamente anunciado, e o outro um pouco menor. O valor que o Vasco tem que pagar por não ser rebaixado, de 2 milhões de euros, equivale ao que o clube utilizou na última janela, incluindo parcelas futuras.
Novos investidores surgiram interessados?
Marcelo: a presidência e o CEO têm conversado com investidores periodicamente. Até que não sejamos oficialmente negociados, precisamos trabalhar dentro dos limites atuais. Não podemos contar com a venda do Vasco em janeiro ou dezembro do próximo ano.
Pedrinho: até o momento, não surgiram novos investidores; as conversas continuam com os mesmos que assinaram os acordos de confidencialidade. Não estamos sentados aguardando, mas sim, ativos na busca de mais conversas.
Marcelo: ao receber um investimento substancial, se torna mais viável retificar nosso planejamento. Em contrapartida, lidar com frustrações financeiras, quando os pagamentos não se concretizam, é muito mais desafiador.
Qual o perfil de atleta que o Vasco busca para 2025? Não faltam jogadores físicos?
Pedrinho: Futebol é físico, sim, e temos jogadores assim na equipe: Leandrinho, Rayan, PH, João Victor, Hugo Moura, Léo… tudo é uma escolha de quem vai atuar. Para mim, não é uma fórmula mágica, existem times que não são tão físicos, mas possuem uma qualidade técnica incrível.
Marcelo: Um time que joga mais em posse de bola e priorizando a técnica terá custos mais altos. Precisamos avaliar se esses tipos de atletas são aceitos e valorizados pelos torcedores, esse aspecto é exclusivo de cada clube.
O que o campo revela sobre as correções necessárias nos últimos três jogos?
Marcelo: nossa entrevista de hoje reflete o que estamos observando no campo. Foi necessária uma interveção na comissão técnica. Sou grato ao Rafael Paiva; ele assumiu o Vasco em um contexto complexo, mostrando resultados positivos, especialmente nos primeiros meses. No cenário do futebol brasileiro, naturalmente enfrentamos dificuldades. Não gosto de transferir responsabilidades, e a história é de que ganhamos juntos e perdemos juntos. Contudo, em certos momentos, precisamos tomar decisões e, para o final da temporada, trocas se fazem necessárias para que o Vasco termine forte, buscando uma vaga em competições internacionais após cinco anos.
Prioridade de setores para contratações na próxima janela
Pedrinho: com muito respeito, não comentarei sobre setores específicos, pois ainda temos jogadores em campo e campeonato ao longo. Ao me referir a um setor, pode dar a impressão de desprezar os que estão no elenco. Temos três desafios importantes (pelo Brasileiro).
Ter Felipe como diretor ou auxiliar após os três jogos será uma sombra para o novo técnico?
Marcelo: Precisamos focar na resolução imediata do presente e, posteriormente, avaliar questões secundárias. Devemos ter os melhores profissionais, e se isso incomoda um ou outro, o erro está neles. A presença de bons profissionais é fundamental.
Pedrinho: O cotidiano vai ditar como Felipe se portará com o próximo treinador. Essa dinâmica será revelada naturalmente.
Fonte: ge