A ideia de aposentadoria é prontamente afastada por Oswaldo de Oliveira, que, aos 74 anos, busca uma nova chance no futebol após uma carreira repleta de conquistas, principalmente pelo Corinthians. Desde 2019 sem clube, sua breve passagem pelo Fluminense, que durou apenas sete jogos, foi marcada por tensões devido a intervenções de dirigentes.
“Recentemente, enviei uma mensagem a pessoas com quem trabalhei, dizendo que o futebol faz falta, mas nós também fazemos falta para o futebol. Com a experiência que tenho, acredito que poderia contribuir muito mais”, explicou Oswaldo.
‘Absolute Cinema’: Oswaldo de Oliveira participou como ator — Foto: André Durão
No seu cotidiano, Oswaldo dedica-se a assistir programas esportivos, manter-se ativo fisicamente e auxiliar sua esposa, a atriz Jennifer Setti. Em tom de brincadeira, mencionou que teve a oportunidade de atuar em um filme filmado em São Paulo, onde interpretou um personagem inspirado em si mesmo.
“Eu sinto muita falta do campo; às vezes, quero corrigir erros que vejo nos jogos”, afirmou Oswaldo.
Informações pessoais
- Nome: Oswaldo de Oliveira Filho
- Idade: 74 anos
- Profissão: técnico de futebol
- Carreira: Corinthians, Vasco, Fluminense, São Paulo, Flamengo, Vitória, Santos, Al Ahli, Cruzeiro, Kashima Antlers, Botafogo, Palmeiras, Al-Arabi, Atlético-MG e Urawa Reds.
- Títulos: Brasileirão (1999 e 2000); Mundial de Clubes (2000); Copa Mercosul (2000); Copa do Brasil (2015); Supercampeonato Paulista (2002); Campeonato Paulista (1999); Campeonato Carioca (2002 e 2013); Liga Japonesa (2007, 2008 e 2009); Supercopa do Japão (2009 e 2010), entre outros.
Oswaldo de Oliveira durante entrevista ao Abre Aspas — Foto: André Durão
Abre Aspas: Oswaldo de Oliveira
ge: Em 2025 você completa 50 anos de carreira, iniciando em 1975 como preparador físico no Bonsucesso. O que você observa sobre sua trajetória no futebol?
Oswaldo de Oliveira: – Meu envolvimento com o futebol começou antes, ainda durante a infância, graças ao meu pai, que era um grande fã do esporte. Essa paixão foi instantânea para mim. Ao longo da vida, sempre busquei estar próximo do futebol. Mesmo quando não consegui ser jogador, procurei outras formas de me manter no meio, como a preparação física, inspirado pelo professor Carlos Alberto Parreira.
– Após me formar em Educação Física, busquei uma oportunidade para iniciar no Bonsucesso. Quando surgiu a chance no dia 1º de outubro de 1975, aceitei imediatamente, mesmo recebendo menos em comparação a outros trabalhos.
O Parreira foi sua principal influência por ser preparador que se tornou treinador?
– Sem dúvida. Ele foi meu professor nos anos 60, quando dirigiu a seleção de Gana e, mais tarde, a seleção brasileira. Ele mostrava slides de sua experiência na Copa do Mundo de 70, o que me fascinou.
É desafiador essa transição de não ter jogado futebol profissionalmente?
– Absolutamente. Continuei a evitar ser treinador por muito tempo, dedicando-me à preparação física por 23 anos. Porém, com o tempo, percebi que tinha potencial para assumir essa função.
Oswaldo de Oliveira em entrevista ao Abre Aspas — Foto: André Durão
Como chegou ao Catar como preparador físico?
– Em 1980, já como preparador físico do Botafogo, recebi uma ligação do professor Jaime Valente, convidando-me para ir ao Catar com Evaristo de Macedo, que ia dirigir a seleção principal. A oportunidade era muito tentadora, tanto financeiramente quanto profissionalmente. Na época, o Catar era um lugar rudimentar em termos de infraestrutura. Mas, sob a direção do Evaristo, conseguimos o vice-campeonato mundial sub-20 na Austrália em 1981.
Oswaldo expressa seu desejo de voltar ao futebol — Foto: André Durão
A preparação física mudou tanto que alterou o jeito de jogar futebol?
– Sem dúvida. A evolução física acabou, em certos casos, ofuscando a arte do futebol. Apesar de ainda existirem jogadores habilidosos, se perdeu um pouco da plasticidade que tínhamos. Na Copa do Mundo de 1966, o futebol defensivo e ofensivo se nivelou, e a preparação física se tornou essencial para que o atleta desempenhasse múltiplas funções em campo.
Como foi sua transição de preparador físico a treinador?
– Foi desafiador. No Corinthians, tive que adotar uma nova postura ao assumir um time campeão brasileiro. A aceitação dos jogadores, que já conhecia bem, facilitou essa transição. They were very supportive from the beginning.
Era difícil lidar com jogadores como Rincón, Vampeta e Marcelinho?
– Não foi complicado, pois nossa relação era forte. Eles queriam me ajudar, e isso facilitou muito nosso trabalho em equipe.
O Corinthians foi o melhor time que você treinou?
– Sim, foi, pelo tempo que permaneci com a equipe e pela qualidade dos jogadores. O Vasco de 2000 também era fenomenal, mas o Corinthians teve um grupo excepcional como Edilson, Marcelinho e Ricardinho.
Oswaldo de Oliveira em entrevista ao Abre Aspas — Foto: André Durão
É interessante notar que o Vasco venceu o Manchester United, enquanto o Corinthians empatou com o Real Madrid…
– Foi um período em que os clubes brasileiros ainda competiam fortemente contra os europeus. O jogo contra o Real Madrid foi memorável, repleto de talento de ambos os lados.
Como foi a experiência de ter o Maracanã cheio, com uma grande torcida do Corinthians?
– Já tinha vivido isso em 1976. Em 2000, ter 25 mil corintianos lá foi incrível. A reviravolta na torcida foi uma energia indescritível que ajudou muito nosso desempenho.
Você acredita que o relacionamento com os jogadores é fundamental para o treinador?
– Com certeza. Sempre enfatizo isso em palestras sobre a importância do convencimento e da confiança. Um treinador deve ser capaz de fazer os jogadores acreditarem na sua visão.
É desafiador para um jogador se abster de prazeres por 10, 15 anos?
– Depende do caráter de cada um. Alguns, como Zé Roberto, investem em sua preparação para prolongar a carreira, enquanto outros enfrentam dificuldades em manter esse foco.
Como você encara o papel educativo de um treinador?
– Jogadores como Kaká e Robinho possuem perfis distintos. Kaká sempre foi disciplinado, enquanto Robinho tinha uma personalidade mais solta. Mesmo assim, não posso esquecer o talento excepcional de Robinho.
Como é a relação com os memes relacionados a “Gabriel, Gabriel”?
– É uma referência ao trabalho com jogadores jovens. Existem semelhanças com a experiência que tive com Gabigol no Santos. Ambos mostraram potencial em sua fase de desenvolvimento.
Você tem dificuldades pessoais em relação ao futebol?
– Com certeza, mas os momentos bons superam as dificuldades. A diversidade de experiências me fez crescer.
Oswaldo de Oliveira em entrevista ao Abre Aspas — Foto: André Durão
Você está aposentado oficialmente?
– Absolutamente não. Estou surpreso por meu telefone não tocar, principalmente considerando que estou em um excelente momento da minha carreira.
Sente falta do campo?
– Muito. Vejo coisas nos jogos que gostaria de corrigir. Existem detalhes táticos que precisam ser trabalhados e, com minha experiência, sinto que poderia contribuir.
Você consideraria uma nova função, como coordenador?
– Inicialmente, não estou tão interessado, mas algumas pessoas acreditam que eu me sairia melhor nessa posição do que na de treinador.
Por que você acha que não recebe propostas?
– Por conta da minha postura em relação à intervenção de dirigentes e empresários, muitas vezes não aceito interferências em meu trabalho.
Como tem sido sua relação com técnicos estrangeiros no Brasil?
– A relação tem suas dificuldades e disparidades. Por exemplo, enquanto estrangeiros entram sem grandes dificuldades, isso não acontece com treinadores brasileiros no exterior.
Você já enfrentou interferência direta de dirigentes?
– Sim, e foi algo recorrente em sua carreira. Sempre resisti a essa pressão, mas isso gerou atritos.
Você teve uma experiência leal com seu trabalho ou seu salário?
– Trabalhei em vários clubes que enfrentaram dificuldades financeiras em determinado momento, mas sempre consegui manter um bom relacionamento.
Como sua mãe se sentia em relação à sua carreira?
– Ela sempre foi carinhosa e envolvida emocionalmente com o futebol. Torcia pelos jogadores, orando por eles e transmitindo um clima positivo.
Como lida com as redes sociais?
– Aprecio as redes sociais, mas tenho que ter cautela com o que compartilho. Procuro avaliar cuidadosamente minhas interações.
Você abandonou a leitura por conta da internet?
– De certa forma. Deixei de lado um pouco, mas continuo adquirindo novos livros e fazendo anotações.
Oswaldo de Oliveira em entrevista ao Abre Aspas — Foto: André Durão
Seu filho está se interessando por seguir na carreira?
– Sim, tenho incentivado meu filho Gabriel, que mostra grande potencial. É um processo que ocupa espaço em nossas conversas, mas busco evitar impor minhas experiências.
O que você ainda almeja realizar no futebol aos 74 anos?
– Quero impactar a vida das pessoas através do esporte. Transformar e contribuir para o desenvolvimento do caráter dos atletas é o que mais me motiva.
Oswaldo de Oliveira em entrevista ao Abre Aspas — Foto: André Durão
Fonte: ge
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