De Tom Hanks a Justin Bieber, passando pelo Príncipe de Mônaco, avaliações informais com Messi, amizade com Neymar e parceria com Falcão. Quando alguém disser que aproveitou bem a vida, pergunte: “Tanto quanto Nenê jogando futebol?”.
Em sua vigésima quarta temporada como jogador profissional, o meio-campista do Juventude olha para trás e tem tantas histórias para contar que é difícil pensar em se aposentar. A ideia de se aposentar, que até recentemente era uma certeza, agora se transformou em uma dúvida. Os sete gols e quatro assistências que ele contribuiu para a equipe de Caxias do Sul na luta para retornar à Série A deixam um gostinho de querer mais.
— Já? Já de cara essa pergunta? (risos). Vou dizer: eu ainda não decidi. O plano era esse, jogar até dezembro, mas estou me sentindo muito bem fisicamente. Ainda faltam seis meses, não posso dizer com certeza o que vou fazer, mas estou achando que, se continuar me sentindo assim, vou querer jogar um pouco mais. Não posso dizer agora que não vou parar mais. O plano era parar, né?
Aos 42 anos, Nenê caminha para o fim da sua carreira com apenas quatro títulos conquistados, mas com a convicção de que aproveitou todas as oportunidades que o futebol lhe proporcionou. Revelado pelo Paulista de Jundiaí, sua cidade natal, ele passou por 15 clubes em cinco países diferentes, colecionando experiências tanto dentro como fora de campo.
Números da carreira de Nenê
- 24 temporadas
- 15 clubes
- 5 países
- 939 jogos
- 265 gols
- 4 títulos
As personalidades mencionadas no início do texto são apenas algumas das que foram citadas nessa entrevista exclusiva que nos leva a uma viagem no tempo com o jogador que viveu em algumas das principais cidades do mundo: Rio de Janeiro, São Paulo, Barcelona, Londres, Mônaco e Paris, além de Mallorca e Doha. Lugares onde ele vivenciou muito mais do que apenas jogar futebol:
“Quem diria que eu teria a oportunidade de conversar com o Príncipe de Mônaco, com o dono do Catar, com colegas como Roberto Carlos, Ronaldo, Zidane? Isso eleva você a outras esferas, assim como acontece com a música, com os atores…”
— Onde eu encontraria o Tom Hanks e faria brincadeiras com ele, as pessoas nos apresentando como o camisa 10 do PSG? Conheci vários cantores famosos: Justin Bieber, Rihanna, Chris Brown. São coisas que só o futebol pode proporcionar. Não apenas no aspecto financeiro, mas também em encontros e experiências culturais. São coisas muito bacanas.
Um nômade que encontrou em São Januário a identificação mútua e necessária para deixar sua marca. Para muitos, ele se tornou o “Nenê do Vasco”, o clube para o qual ele já decidiu que voltará a trabalhar após se aposentar, seja este ano ou no próximo. Será o terceiro capítulo de um relacionamento que começou e se desenvolveu em meio aos desafios e às dores vivenciados desde o primeiro encontro em 2015.
— A carência, as dificuldades dos últimos anos. Quando eu cheguei, era o terceiro rebaixamento do clube na década. Recebi propostas de todos os times do Brasil, inclusive dos rivais, joguei na Série B, permaneci no time até que a situação melhorasse.
“E se a troca de presidente não tivesse ocorrido, se não tivessem havido problemas financeiros, se eu não tivesse passado mais de seis meses sem receber salário… Se tudo isso não tivesse acontecido, eu não teria saído do Vasco (em 2018)”
Com 939 jogos disputados e 265 gols marcados desde seu começo no Paulista em 2000, Nenê foi além das quatro linhas em uma conversa descontraída com a equipe do ge.
Confira a íntegra da entrevista
ge: Quando você veio para o Juventude, estava mais decidido a parar do que está agora?
Nenê: — Sim. Não diria exatamente que eu estava mais decidido, mas estava acertado que eu iria jogar até dezembro e depois voltar para trabalhar no Vasco em outra função. Então, vim aqui para ajudar a equipe a subir, o que é muito importante tanto para o Juventude quanto para mim. Desde o primeiro dia, eu disse que iriam me ver como o melhor Nenê possível. Não sei como será, mas estamos vendo que ainda tenho muito para dar (risos).
Bater de frente e jogar em alto nível também era um desafio para provar que você ainda tinha capacidade de atuar na elite do futebol brasileiro? Provar para o Vasco que você poderia continuar no clube e ser útil?
— Acho que seria um pouco arrogante da minha parte dizer isso. Não estou jogando para provar nada a ninguém, estou jogando por mim. Estou jogando porque acreditei no projeto, na vontade que eles tinham de me ter aqui. Isso já mostrava que eu tinha capacidade de jogar em alto nível. O que aconteceu depois é consequência disso.
— Claro que todos podem ver que eu poderia ter continuado no Vasco e ajudado, mas eu não voltei para isso. Nós conversamos numa boa e eu entendi perfeitamente a maneira e o estilo de jogo proposto pelo Barbieri. Nós até discutimos a possibilidade de trabalharmos juntos lá. Não foi algo para provar. Todos podem ver de fora, eu não preciso dizer. Eu realmente faço as coisas com muita paixão e, se vou fazer, quero entregar o meu melhor.
“É sobre provar que a idade é apenas um número, que se você é apaixonado, disciplinado e chegou a essa idade em bom estado físico, é porque houve dedicação, disciplina e uma vida inteira dedicada ao futebol. Estou orgulhoso disso, mas não para provar algo para alguém”
Romário costumava dizer que jogou até depois dos 40 anos porque era muito melhor do que a maioria. Você se destaca pela habilidade técnica, mas o futebol atual exige atitudes além do campo. Qual é o seu segredo aos 42 anos?
— É um conjunto de fatores. Acho que a qualidade técnica, especialmente na Série B, é o que realmente faz a diferença. Posso dizer isso, mesmo na Série A, não vemos muitos meias hoje em dia, e isso me ajuda muito. Além disso, faço o que um jovem de 20 anos faria. Se você olhar as estatísticas do jogo, corri 11,5km, a maior distância percorrida da equipe, o que demonstra que estou fazendo a mesma média que os outros. Estou fazendo o melhor que posso fora de campo também.
Ao mesmo tempo, essa rotina demanda muitos sacrifícios para um jogador com uma carreira bem-sucedida. É o amor pelo futebol que te mantém? Essa paixão é o que te faz não querer parar?
— É mais do que isso, cara. É o futebol, o jogo, a sensação de marcar um gol, se divertir… É muito tempo já. É difícil. Foi bom ter passado por essa situação com o Vasco, aquele choque. Minha esposa, meus filhos, você nunca está preparado para parar, mas vai acontecer e você não pode tomar decisões baseadas nisso. Foi um choque do tipo: “Caramba, vou ter que parar”. Aconteceu de novo recentemente, quando eles não renovariam meu contrato. Eu já tinha uma ideia de como seria. Pensei em aproveitar cada dia ao máximo porque é algo que eu amo muito e não vai passar com o tempo. Essa paixão vai ficar comigo para sempre. Estou me preparando mentalmente, sabendo que fui além do que imaginava quando me tornei jogador profissional. Eu não imaginava chegar aos 40 anos, e agora, com 42 anos, estou pensando em jogar até os 43.
Essa consciência de que está na reta final muda a maneira como você aproveita o dia a dia?
— Com certeza! Eu quero ganhar tudo, aproveitar tudo. Eu sempre digo que o mais importante é o momento de descontração. As pessoas me perguntam por que estou jogando e eu respondo: “Poxa, olhem quanto nós nos divertimos, o que importa é a descontração, o salário é simbólico”. É uma brincadeira nossa. É bom ir aos treinos, é legal ir aos jogos porque você pensa que ainda pode jogar, ajudar a equipe a ganhar… Eu realmente aproveito, as pessoas não entendem isso. Dizem que estou feliz todos os dias, e elas não sabem o quão bom isso é. Claro que as viagens e as concentrações podem cansar, mas vai acabar e eu percebi que vou sentir muita falta disso. Eu sou uma pessoa muito agitada e já estou pensando no que vou fazer. Já penso em não parar, talvez me tornar treinador, diretor, algo que me dê uma rotina e não me deixe em casa o tempo todo. Eu já sei que vou sentir muita falta.
Olhando para trás, quando você revisita mais de duas décadas de carreira, tantos clubes, países, desafios… O que mais te enche de orgulho?
— É muita coisa. É até difícil de descrever. Eu nem sabia se me tornaria jogador profissional de futebol. Ser revelado em minha cidade natal é algo muito especial. Sou muito grato ao Paulista, ao Luiz Carlos Ferreira, que me descobriu durante um treino em Itupeva, quando eu era reserva do time júnior. Ele me viu em um coletivo, me levou para jogar uma partida e eu marquei dois gols no mesmo dia. Tudo o que vivenciei, desde o sonho de criança de jogar em times grandes, na Europa, no Palmeiras, na Seleção, Santos, vários times europeus, momentos maravilhosos em todos os lugares. Fui para times de médio porte, fui conquistando as coisas aos poucos.
Não tenho muitos títulos, mas o que mais me deixa feliz em todos esses anos, e isso não tem preço, é o respeito que conquistei de todos. Todos os times em que joguei, adversários… Claro, há provocações durante os jogos, mas em qualquer lugar que eu vá ouço: “Nossa, por que você não jogou no meu time? Parabéns pelo seu trabalho”. Torcedores do Corinthians, Flamengo, Grêmio, Internacional… Isso é algo incrível. Poucas pessoas conseguem ter esse respeito, não apenas no futebol brasileiro, mas também fora do Brasil. O respeito daqueles com quem joguei, dos torcedores, dos ex-companheiros… Isso é algo que me marcou muito e eu levarei para a vida.
Imagino que esse comportamento venha do seu caráter, que já existia antes mesmo de se tornar o Nenê. Quais são as memórias que você tem da sua infância? Como era sua vida antes do futebol em Jundiaí?
— Minha vida era ótima. Minha família não era rica, como a maioria dos jogadores, mas nunca passei fome. Meu pai trabalhava duro para que tivéssemos comida suficiente. Eu brincava na rua, jogava bola, soltava pipa, brincava de taco… Era de tudo um pouco. Tinha uma liberdade maior. Minha infância foi muito boa, não existia essa era das redes sociais. Minha vida sempre foi o futebol desde que me lembro. Comecei no Floresta, no futsal, joguei em times da cidade e sempre fui apaixonado pelo futsal, mas sabia que não poderia mudar a vida da minha família assim.
Mudei para o futebol de campo e isso abriu um mundo de possibilidades para mim. Eu nem imaginava o que seria possível. Praticamente nunca havia saído do estado, exceto para visitar minha avó em São José dos Campos no Natal. Sempre tive o desejo de ajudar minha família, de ver o quanto meu pai lutava para colocar comida em casa. Ele trabalhava durante a noite inteira, não tinha tempo para nada, dormia o dia todo, minha mãe trabalhava como empregada… Eu abria a geladeira e só tinha tomates. Eu não queria deixá-los naquela situação, e também não queria estar naquela situação, e dentro de mim havia a crença de que Deus poderia me abençoar, que eu não tinha esse dom à toa.
Eu tive a oportunidade de conhecer o mundo. Não tive muita educação formal, parei no ensino médio, mas pude aprender outros idiomas, conhecer pessoas de todo o mundo, pessoas famosas, amigos que tenho até hoje… Coisas que eu nunca imaginei. O que eu faria? Trabalharia com meu pai na padaria. Eu não tinha habilidades, a única coisa que fiz foi ajudar meu pai a vender cachorro-quente na frente de casa para ajudar na renda, e acabei comendo mais do que vendendo. Então, o futebol realmente pode mudar tudo. Conhecer pessoas, culturas, viajar pelo mundo inteiro… Foi uma experiência totalmente diferente do que eu imaginava, mas nunca deixei de ser o Anderson. Eu sei de onde Deus me tirou e não poderia ser diferente. Somos todos iguais, cada um tem seu trabalho, sua renda, e mesmo que alguns sejam mais conhecidos, somos iguais.
“Minha maior alegria é tratar bem as outras pessoas. Eu não era nada, mas quando alguém viaja quilômetros para me ver e tirar uma foto, como eu posso não tratá-lo bem? Como posso não tratar uma outra instituição com o mesmo respeito? Provocações acontecem no futebol, eu não sou perfeito. Já briguei até, mas quando me mostram (um vídeo), peço para pararem, porque é um mau exemplo”
Ao mesmo tempo que o futebol pode mudar a vida de uma família, também oferece tentações que muitas vezes colocam em risco uma carreira. Em algum momento você se viu em uma situação assim? Experimentou momentos complicados?
— Aconteceram antes de eu me tornar um profissional. Isso foi bom até porque eu era muito jovem e não tinha dinheiro. Eu estava no Paulista, jogando na base, e fazia muitas coisas erradas fora de campo. Um amigo me levou para a igreja e me converti. Eu estava prestes a ser dispensado. Eu bebia, não era o caso de fumar, mas ia para o treino sem dormir, ia para festas, coisas típicas de jovens. No começo eu estava bem, era titular, mas quando comecei a fazer essas coisas, já não estava mais. Até que meu primeiro empresário, Nenê Cardoso, me disse: “Do jeito que você está, eles vão te dispensar e acabou. Você não vai chegar ao profissional, não vai se tornar um jogador”.
— Eu sempre fui reservado, calmo, com o pé no chão e um coração mole. Pensei: “O que estou fazendo? Por que estou fazendo isso?”. Me converti, fui para a igreja e parei com tudo. E Deus me mostrou uma semana depois, no dia em que eu estava treinando na reserva, quando Luiz Carlos Ferreira, que tinha fama de ser durão, me levou para o time principal. Eu entrei em campo, marquei dois gols e fui eleito o melhor jogador em campo. Foi na Série C contra o Madureira. Depois, jogamos contra o Comercial de Ribeirão Preto, marquei mais dois gols e fui o melhor jogador novamente. E então, não voltei mais ao time de base. Não foi coincidência, se eu fizesse as coisas da maneira certa, seria abençoado. Foi quando eu parei de vez. Eu já era casado, tinha filhos…
— Jogadores são assim, né? Casam cedo. Tudo aconteceu tranquilamente por causa disso. Eu tive uma experiência muito tranquila, quase uma catástrofe antes de me tornar um profissional. Eu consegui mudar e sentir a presença de Deus. Tipo: “Cara, você está no caminho certo. Pare de fazer coisas erradas”. Esses momentos certos existem. Não estou julgando ninguém, eu tomo meu vinho socialmente, mas apenas parei de fazer as coisas erradas.
E quando o Anderson, que era chamado de Magrelo pelos amigos, se tornou o Nenê? É um daqueles casos em que o apelido pegou justamente porque você não gostava?
— Foi quando eu jogava bola. Sempre fui magro, mas também era baixinho, não tinha crescido muito ainda. Eu driblava, sempre tive essa habilidade, e quando sofria uma falta, começava a reclamar. Até hoje, né? Então, as pessoas diziam: “Você é um chorão, é um nenê”. Eu respondia: “Como assim, Nenê?”. Mas o apelido pegou e acabei gostando dele. Já havia muitos Andersons, mas Nenê era mais fácil. Eu era muito jovem, acho que tinha uns 10 anos. Foi desde o tempo em que eu jogava futsal pelo Floresta, esse foi o apelido que pegou.
O Nenê já era diferente dos outros desde criança?
— Devido à minha maneira de jogar, por ser diferente dos meus amigos, eu era sempre um dos primeiros a ser escolhido. Não era dono do time, mas por ser bom, sempre era um dos jogadores mais populares. Antes, jogávamos nas ruas, não é? Os moleques da minha rua eram bons, jogávamos contra outras ruas e dizíamos que ninguém conseguia vencer nosso time da Rua José Bedeno. Havia uma rivalidade natural entre os jovens das diferentes ruas. Eu sempre queria jogar contra os outros para mostrar que éramos os melhores do bairro.
Muito mais do que a questão financeira, o futebol abriu portas e ofereceu oportunidades culturais. Você morou em cidades como Paris, Londres, Barcelona, Rio de Janeiro, São Paulo… Em que medida isso contribuiu para torná-lo um homem mais realizado?
— Como pessoa, é algo incrível. Acho que, se eu tivesse estudado ou seguido por outro caminho, não teria conquistado o que conquistei através do futebol. Quem imaginaria que eu aprenderia francês, espanhol, inglês? E não somente algumas palavras, mas posso falar fluentemente e me comunicar. Se eu vou para a França, ou Paris, eu dou entrevistas em francês. Na Espanha, faço o mesmo, na Inglaterra… São coisas que eu não teria se não fosse pelo futebol. Como eu teria isso? Eu teria que trabalhar muito, me especializar em alguma área, ganhar dinheiro… Eu não saberia o que fazer.
Isso significa conhecimento real, também de pessoas que você admira. Você para e pensa em conversar. Como eu imaginaria que teria uma conversa com o Príncipe de Mônaco, com o dono do Catar, com colegas como Roberto Carlos, Ronaldo, Zidane? Você entra em contato com pessoas de diferentes esferas, assim como acontece com a música, com os atores… Onde eu encontraria o Tom Hanks e faria brincadeiras com ele, tendo as pessoas nos apresentando como o camisa 10 do PSG? Conheci muitos cantores famosos: Justin Bieber, Rihanna, Chris Brown. São coisas que apenas o futebol pode oferecer. Não apenas no aspecto financeiro, mas também por encontros e vivências culturais. São coisas muito bacanas.
Ainda assim, você conseguiu criar uma identificação com o Vasco. Muitos o chamam de “o Nenê do Vasco”. Há uma explicação lógica para essa relação?
— Foi uma identificação muito recíproca. Eu queria mostrar que estava bem. Voltei ao Brasil aos 34 anos, geralmente os jogadores já estão pensando em parar e acham que você é mais um tentando se aproveitar. A verdade é que eu passei muito tempo fora do Brasil e os times onde joguei e tive bons momentos foram em 2003, 2004… A geração que me viu no Palmeiras, no Santos, no Paulista teve filhos, e esses filhos não se lembraram de mim. A nova geração não tinha me visto jogar no Brasil. Então, eu tinha que voltar e mostrar a eles. Quando eu era criança, não me lembro dos jogadores, só me lembro da Copa do Mundo. Então, o Vasco fez com que eu fosse conhecido novamente. Foi como uma segunda carreira no Brasil, já são quase oito anos.
“A identificação foi grande porque o time precisava muito e eu também precisava, queria ajudar, fazer algo diferente, ajudar a recontar a história. O Vasco é um clube multicampeão e isso cria uma forte ligação”.
A carência do Vasco nos últimos anos foi determinante?
— Sim. A carência, as dificuldades dos últimos anos. Quando eu cheguei, era o terceiro rebaixamento do clube na década. Eu recebi propostas de todos os times do Brasil, dos rivais, joguei na Série B, permaneci no time até que a situação melhorasse. E se não tivesse acontecido a troca de presidente, os problemas financeiros, se eu não tivesse passado mais de seis meses sem receber salário… Se não fosse por isso, eu não teria saído do Vasco. Meus filhos moram em Jundiaí, eu recebi proposta do São Paulo, sou são-paulino desde criança, mas não podia continuar jogando sem receber salário e acabei saindo. Depois, acabei voltando.
Já existe um acordo para que você volte ao Vasco após a aposentadoria. Como tem sido a preparação para continuar no futebol fora de campo?
— Hoje em dia, o jogo é diferente, mais estudado, mais rápido. Eu estou estudando. Preciso terminar a licença B da CBF, também estou fazendo um curso de gestão e executivo. Fiz um curso de transição da Uefa e quero fazer outros, porque é lá que estão os melhores. Tenho essa abertura e com certeza quero estudar. Ainda não estou fazendo isso do jeito que queria, porque ainda estou jogando, mas vou estudar muito. Vou começar do zero, porque, por mais que eu tenha experiência, hoje sou apenas um, mas depois vou precisar pensar no coletivo. Hoje sou apenas eu, depois vou precisar pensar no clube todo, na instituição. Vai ser muito diferente. Vou estudar muito para saber exatamente em que direção vou seguir, seja como treinador ou como gestor.
Sua previsão é seguir em frente sem tirar férias?
— Acho que vou seguir em frente sem tirar férias. Talvez um tempo, mas vou seguir em frente. Acho até que é bom. Se eu parar, não será a mesma coisa. Nós estamos fornecendo um exemplo para o Vasco. E se eles contratam alguém depois, como vão parar novamente? Apenas porque é o Nenê? Acho que assim que parar, vou seguir em frente.
Seu pós-carreira estará ligado apenas ao futebol ou há um lado empreendedor no Nenê? Você investe em alguma coisa?
— Já fiz muitas coisas. Investimos em muitas coisas erradas, aprendemos com isso, não tínhamos conhecimento técnico, ouvimos algumas pessoas. Mas no geral, são coisas básicas como imóveis, corretoras