(Maicon Pereira Roque, de 36 anos, é defensor do Vasco)
O Vasco é um clube que pulsa para quem acredita. É uma equipe que, se não tivesse torcedores tão fervorosos, talvez não estivesse mais na ativa, considerando todas as dificuldades que enfrentou. A verdadeira alma do Vasco é a sua torcida, algo simplesmente inacreditável. Estamos sempre prontos para dar o nosso máximo, suar a camisa e representar o Vasco da maneira que nossos torcedores fazem fora das quatro linhas. Eles merecem toda a nossa dedicação e respeito.
A pressão sobre nós vem muito das decepções passadas do Vasco. Contudo, estamos em um novo momento. Quando a Copa do Brasil começou, estávamos sob uma chuva de críticas, mas conseguimos chegar à semifinal com muito mérito. Estamos vivos e prontos para fazer um grande jogo em casa. Acreditamos muito no nosso potencial e na força que temos em São Januário. Todo jogo é complicado, especialmente quando enfrentamos um time forte como o Atlético-MG. Mas, olha, o Vasco também tem sua força e ótimos jogadores. Temos tudo para chegar a uma grande final.
Recentemente, o Vasco tem saboreado algo bem legal, graças a uma nova administração. Pedrinho tem se mostrado um presidente muito atuante e cumpridor de suas promessas. Ele conhece bem o clube, cresceu aqui. Por isso, vamos nos esforçar ao máximo para retribuir o que estão fazendo por nós.
Quando você está habituado a vencer e fica um longo período sem conquistas, a frustração é gigante. É como se faltasse algo dentro de você. Para mim, esse título no Brasil seria o toque final no meu bolo de carreira. É o que está em falta na minha trajetória (Maicon já acumulou 16 títulos, todos fora do país: 11 pelo Porto, de Portugal, três pelo Galatasaray, da Turquia, e dois pelo Al-Nassr, da Arábia Saudita).
VOLTA POR CIMA
Hoje, tenho um grande respeito dentro do clube. A garotada me trata com muito respeito. Por mais sério que eu possa parecer, fora de campo a gente se diverte, troca ideias. Mas dentro do campo, é outra história. Me transformo em alguém diferente. Sei separar as coisas muito bem.
Muitos comentam que, ao chegar ao Vasco, mesmo quando não jogava, tinha uma clara postura de respeito, porque decisões de treinadores não dependem de nós. Me viam como uma quinta escolha. Alguns diziam que eu não suportaria, ainda mais pelo meu histórico. Sou um cara que adora desafios e sou sempre otimista. Quando finalmente ganhei a oportunidade de jogar, o respeito de todos dentro do Vasco aumentou ainda mais.
Nenhum profissional é deixado de lado por conta de um dia ou um mês ruim. Nossa carreira é repleta de altos e baixos. Já estive em jogos em que fui aplaudido de pé, e em outros, fui vaiado. Sempre procurei transmitir para os jogadores que eles têm qualidade e devem acreditar no que fazem. Os momentos difíceis passam, e os bons chegam.
O jogador de futebol precisa buscar regularidade. Em todos os clubes que passei, sempre mantive um padrão elevado. Trabalhei duro e conheço minhas limitações, mas em toda minha trajetória, consegui fazer uma sequência boa (já são 53 partidas pelo Vasco).
LIÇÕES DENTRO DE CASA
Vivo em uma família muito simples. Meu pai não tinha condições de nos levar ao cabeleireiro, então optei pelo corte de máquina. Desde os 8 anos, raspo a cabeça. Isso virou minha identidade, certo? Quando deixo o cabelo crescer, minha esposa logo me chama a atenção. E parece que não me sinto completo se não raspo. No dia anterior ao jogo — ou até no mesmo dia — eu mesmo faço a raspagem. Ninguém faz isso por mim.
Sou um pai presente e busco ser um marido ativo também. Tenho dois filhos que moram comigo. Isso é um sinal claro de que sou um bom pai, pois é raro um pai conseguir a guarda dos filhos. Após conversar com a mãe deles, eu conquistei essa responsabilidade. Recentemente, casei com minha atual esposa, Lessandra, que também tem dois filhos. Aqui em casa, somos quatro crianças e um cachorro.
Exerço bem meus papéis de pai e marido. Quando entro em campo, dou tudo de mim. Faço o que for necessário pelo futebol, mas não abro mão de minha família. Ela é extremamente importante e está acima de tudo.
Fazemos muitas atividades juntos. Sou superativo. Quando chego ao clube, faço academia, treino e volto para a academia. Preciso gastar toda essa energia que tenho em abundância. Às vezes, minha esposa pergunta: “Como você consegue ser assim?”.
As maiores referências da minha infância são meu pai e minha mãe. Eles são meus verdadeiros super-heróis. Não tinha café da manhã garantido, via meus pais saindo de casa às 6h e voltando somente às 18h. Cresci praticamente sendo responsável pelos meus irmãos. Eu cuidava deles e arrumava a casa. Saí de Planura (MG) aos 14 anos para ir a uma escolinha do Cruzeiro. Minha mãe me deu R$ 10 e eu decidi: “Não volto mais”. Participava de testes e acabei sendo acolhido no Mamoré (MG), onde fui bem e joguei o Campeonato Mineiro. Com isso, fui contratado pelo Cruzeiro.
Minha filha, Maria Luiza, tem 13 anos. Meu filho, Mateus, tem 11. Os filhos da minha esposa, Miguel e Vicente, têm 11 e 6 anos. Ensino a eles que para conquistar algo é necessário esforço. No começo, eu dava tudo o que pediam, mas percebi que isso poderia estragá-los. Em casa, estabelecemos regras, como não almoçar com o telefone na mesa, ajudar nas tarefas e ter uma atitude positiva, para que ao final, eles possam ser recompensados. Sou simples e levo uma vida modesta, sempre tentando mostrar aos meus filhos que a conquista vem com esforço.
Fonte: O Globo
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