Ex-presidente do Conselho Deliberativo na administração anterior de Eurico Miranda e pré-candidato à presidência em 2020 – acabou apoiando o advogado Leven Siano -, Luis Manuel Rebelo Fernandes foi eleito em janeiro para um mandato de três anos no Grupo de Benfeitores. Em 21 de setembro de 2022, dos 15 membros do comitê designados para analisar o contrato proposto pela 777, somente ele e outro benfeitor não deram parecer favorável ao acordo.
Uma análise do contrato – com validade inicial de 25 anos, prorrogáveis por mais 25 anos com a 777 Partners – que, segundo ele, foi realizada em condições “precárias” e com “pouco tempo disponível”. Todo o processo ocorreu em um sala onde os documentos eram mantidos trancados, sem possibilidade de cópia ou uso de celular.
Em entrevista ao ge, Luis Manuel, que é docente na UFRJ e secretário-executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo Federal, avaliou a situação atual do clube diante da complicação e lembrou dos riscos que, em sua opinião, foram subestimados no acordo com a 777.
ge: Como foi o encontro do Grupo de Benfeitores com a diretoria do Vasco?
Luis Manuel Rebelo Fernandes: — Requisitamos a reunião em virtude do cenário decorrente da ação judicial para compreender as perspectivas do clube e conhecer os riscos envolvidos no caso. Considero que foi um encontro bastante proveitoso. Com a ação, a 777 não tem mais a obrigação de realizar o investimento. Por outro lado, ainda não há previsão de solução na arbitragem de mediação (realizada na FGV). Após a liminar concedida ao Vasco, são 30 dias para o início da arbitragem, no entanto, esse processo pode se prolongar. O alerta dado a Felipe (VP jurídico) foi: independentemente do desfecho dessa arbitragem, é necessário renegociar esse contrato da SAF.
ge: O senhor foi um dos dois que não endossaram o parecer favorável da comissão em relação ao contrato da 777. Por qual motivo?
— Naquela ocasião, já alertávamos sobre a ausência de garantias e a falta de um mecanismo de recuperação do controle acionário do Vasco em caso de falência da empresa investidora (777). Também mencionávamos o risco de o grupo ser adquirido ou subordinado a outra empresa, de forma direta ou indireta, algo que acabou ocorrendo. Além disso, solicitávamos uma “due diligence” nesse processo de avaliação do contrato, algo que já estava previsto no estatuto da SAF. O que foi conduzido pela Kroll e pela KPMG foi uma “verificação de antecedentes de integridade”, que se concentra mais nas relações financeiras individuais dos envolvidos, e não no grupo como um todo. Durante a reunião, Felipe nos informou que, se nossa recomendação tivesse sido acatada, a situação não estaria como se encontra atualmente.
O conteúdo do parecer favorável sobre a averiguação da 777
O teor da objeção referente à averiguação da 777
O que constava na abstenção sobre falência e alteração societária
ge: Alguma medida foi proposta diante desse cenário de litígio judicial e de um investimento que não deve se concretizar? Especialmente devido à decisão judicial liminar.
— Na minha percepção, eles (a gestão de Pedrinho) buscam viabilizar um acordo (de aquisição com a 777). A pergunta dos conselheiros foi “por que não aguardar até setembro para confirmar se o investimento seria realizado?”. Felipe respondeu que a diretoria estava seriamente preocupada com a possibilidade de o investimento não se materializar e que até setembro os bens do Vasco poderiam, por exemplo, ser penhorados entre os ativos da SAF, em decorrência das ações contra a 777. Nossa preocupação é que, diante dessa arbitragem, se ela se prolongar, uma solução só será alcançada com o consenso entre as partes. Caso contrário, dependerá do tempo que o processo de arbitragem se estender. Requisitamos que a diretoria apresentasse o fluxo de caixa e fizesse uma exposição da situação financeira real do clube. Eles se comprometeram a fazer essa apresentação.
ge: Houve alguma iniciativa para que o Vasco busque recursos para deter a maioria das ações, ou seja, pelo menos 51%?
— Alguns conselheiros abordaram essa questão como uma possibilidade, talvez por meio de um fundo ou pela emissão de debêntures, mas ainda não avançamos nessa discussão. O que ocorreu anteriormente foi um processo um tanto precipitado. Os riscos foram apontados, porém subestimados nesse processo.
Fonte: ge