O meio-campista Lucas Eduardo está vivendo um dos melhores momentos de sua carreira na base do Vasco. Com oito gols em 26 partidas, ele é o segundo principal goleador do time sub-20 e em breve estará disputando sua terceira Copinha. Além disso, neste ano do centenário dos Camisas Negras, icônico time do Vasco, o jogador de 19 anos teve a honra de participar de uma campanha em homenagem aos primeiros campeões do clube.
Em agosto, o Vasco lançou uma réplica do uniforme histórico usado pela equipe que conquistou o primeiro título carioca do clube em 1923. Lucas fez parte das fotos de divulgação desse uniforme, ao lado de dois companheiros da base: o goleiro Phillipe Gabriel e o zagueiro Lyncon.
– Representar o Vasco é uma enorme honra para mim. Fiquei muito privilegiado ao participar dessa sessão de fotos. Este é um clube gigantesco, com uma personalidade incrível. Ao ver a Histórica Resposta, me emocionei, pois sei que ela abriu portas para muitas pessoas – afirmou Lucas ao ge.
– Estou muito feliz. Ficar marcado na história do clube que me deu uma oportunidade em um momento difícil da minha vida é muito significativo. O Vasco não apenas me molda como atleta, mas também como pessoa. Um clube que valoriza a educação e a disciplina. Sou muito grato ao Vasco – completou o jogador.
Negro e criado em uma comunidade na zona oeste do Rio de Janeiro, Lucas Eduardo está habituado a superar obstáculos. Ele perdeu o pai para o tráfico e enfrentou diversas rejeições antes de ser aprovado em um teste no Vasco, aos 15 anos. Com devoção a Deus, o jovem assumiu o controle de sua vida para realizar seu sonho.
Assim como os Camisas Negras do goleiro Nelson, o meio-campista precisou e ainda precisa batalhar por seu lugar em um Brasil que, mesmo após quase 100 anos da Histórica Resposta do Vasco, ainda sofre com o racismo. Neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, Lucas mostrou a força de alguém que aprendeu a “saborear” o preconceito. Mas não deveria ser assim.
– Já se passaram 100 anos e ainda acho crucial falar sobre isso. Eu mesmo já sofri racismo. Contudo, isso não me abala mais. Em um jogo, a torcida adversária nos ofendeu, nos chamou de macacos. Após a partida, fomos ameaçados. Além disso, recebi uma série de ofensas nas minhas redes sociais. Hoje em dia, uso isso como combustível para crescer ainda mais – destacou o atleta.
– Sinto-me muito acolhido aqui. No Vasco, isso já foi mencionado. Aqui é como uma família, tratamos todos de forma igual. Tanto os porteiros quanto os presidentes são tratados da mesma maneira. Independente da função ou da cor… todos são iguais – acrescentou Lucas.
A história de Lucas Eduardo
O jogador do Vasco nasceu em Santa Cruz, na zona oeste do Rio de Janeiro, e foi criado em Antares, uma comunidade local. Enquanto brincava e jogava futebol de rua com os amigos, ele precisava se proteger dos tiros. Foi seu pai que o incentivou a levar o futebol a sério e o inscreveu em uma escolinha.
Na escolinha dirigida por Seu Jorginho, que formava times com jovens da comunidade, Lucas conheceu um padeiro chamado Marcelo. Ele admirou o talento do garoto e o levou para fazer um teste no Nova Iguaçu, no qual Lucas foi aprovado.
O primeiro golpe duro veio quando seus pais se separaram, e Lucas viu seu pai se envolver com o tráfico. Por isso, o jogador considera Marcelo como um pai. Durante um tempo, foi o padeiro quem o acompanhava nos treinos do Nova Iguaçu.
Aos 14 anos, Lucas foi dispensado do Nova Iguaçu e ficou um ano sem clube. Tentou peneiras no Flamengo, Botafogo e Desportivo Brasil, mas não teve sucesso. Sua vida mudou ao conhecer um torcedor do Vasco, que conseguiu um teste para ele no clube.
Foi aprovado na primeira peneira e, durante a segunda, disputou um amistoso contra o time sub-15 do Vasco, onde se destacou e garantiu sua vaga. Ao conquistar seu espaço na equipe, passou a ser convocado para as seleções de base. Na categoria sub-17, teve um dos momentos mais marcantes, sendo vice-campeão brasileiro e conquistando a Taça Guanabara, o Carioca e a Supercopa do Rio.
Neste ano, após participar da Copinha em janeiro, fez sua estreia no time principal do Vasco, contra o Madureira pelo Campeonato Carioca. No sub-20, foi campeão carioca, da Recopa e da Copa Atlântico Sub-19. Agora, está se preparando para representar o time na Copinha de 2024.
Em 2019, o pai de Lucas faleceu. Ele e sua mãe, Cleile Mara, deixaram a comunidade e se mudaram para São Cristóvão, um bairro próximo a São Januário, onde fica o estádio do Vasco.
Outros depoimentos de Lucas Eduardo
O desempenho no sub-20
– Tudo que alcançamos nesta temporada é fruto de muito esforço. Trabalhamos arduamente. O Vasco entra em todas as competições para vencer. O William nos orienta a manter o foco dia após dia, jogo após jogo. Isso nos levou a conquistar três títulos na temporada, construindo uma campanha sólida. Trabalhamos com humildade e os pés no chão. Agora, nossa atenção está voltada para a Copinha.
Vice-artilharia na categoria
– Essa é uma meta pessoal que estabeleci. Antes do início das competições, eu já treinava com esse objetivo em mente. Fruto de muito trabalho, melhorei muito nos treinos e já esperava por esse desempenho.
– Toda a comissão técnica, os funcionários, a psicóloga, todos nos dão bastante apoio. Às vezes, peço ao treinador para treinar alguns minutinhos a mais após o treino, para aperfeiçoar meu domínio, finalização e cabeceio. Esses minutos extras diariamente me ajudaram a atingir um nível alto e a me tornar um dos artilheiros. No entanto, sei que ainda tenho muito a melhorar.
Trabalho psicológico
– Sou uma pessoa tranquila e desde pequeno foco no que quero. Hoje em dia, a parte mental é fundamental, dentro e fora de campo. Principalmente para nós, jovens, em um clube gigante como o Vasco. Tento me manter equilibrado para entrar e dar o meu melhor. Lido com a ansiedade e o frio na barriga e discuto muito isso com a psicóloga. Treino muito meu aspecto mental, busco referências em jogadores. Nos momentos livres, tento ficar com minha família e me divertir.
Referências
– Não tenho uma única pessoa como referência, são várias. Pego um pouco de informação de cada jogador. Analiso o exemplo do Andrey, que jogou comigo e hoje está na Europa. Além de Casemiro, Rodri, Seedorf, Zidane, Xavi, Iniesta, Thiago Alcântara… Procuro absorver um pouco de cada um para aprimorar meu estilo de jogo. Assisto aos vídeos deles para observar suas atuações e comportamento. Foco no posicionamento e na comunicação deles. Até mesmo o que eles postam na internet, fico acompanhando.
Liderança
– Me considero alguém que fala bastante. Os garotos que jogam comigo dizem que sou o famoso “chato do bem”. Acredito que tenho um espírito de liderança, porém, dentro do grupo, costumamos dizer que todos são capitães. Gosto de conversar, cobrar, e todos sabem que é para o benefício deles.
Copinha
– Estou muito ansioso, pois estamos nos preparando bastante. Esta será minha terceira Copinha, então estou mais experiente, sei o que esperar. O que o pessoal passa para nós é que precisamos estar tranquilos, focados, sem ansiedade, para aproveitar ao máximo a competição.
Fonte: ge