Avançando para o fim da temporada, após o término do Brasileirão, Léo se reuniu com a diretoria e solicitou para ser negociado. O desgaste com os torcedores foi o principal fator: Léo admite que errou e teve atuações irregulares, mas ele e seus aliados acreditam que as críticas foram exageradas. O jogador se sente como alvo e injustiçado. Por isso, ele não via futuro em reparar essa relação e decidir permanecer.
A diretoria atendeu ao seu pedido. Nesta quinta-feira, Vasco e Athletico fecharam um acordo para a transferência do zagueiro. O Furacão desembolsará 2 milhões de dólares (aproximadamente 12,3 milhões de reais na cotação atual). O valor é 1 milhão de dólares a menos do que foi pago pelo clube carioca há dois anos, mas a diretoria acredita que, nas circunstâncias, fez um bom negócio. Léo tinha apenas mais um ano de contrato, o que significa que, a partir de junho, poderia assinar com qualquer time e sair de graça em dezembro.
Zagueiro Léo em ação pelo Vasco — Foto: Thiago Ribeiro/AGIF
Pelas reações nas redes sociais, alguns torcedores lamentaram a saída de Léo, pois acreditam que ele ainda teria muito a contribuir, mas a maioria concorda que essa foi a melhor decisão para todos os envolvidos. Mas o que gerou essa drástica mudança em uma relação que começou com muito carinho? Como pode um jogador que foi capitão e sempre teve o respeito dos colegas e da equipe sair com sua imagem desgastada?
O capitão Léo
Após quatro temporadas e mais de 160 partidas com a camisa do São Paulo, Léo foi contratado pelo Vasco no final de 2022. Em sua apresentação oficial, no dia 4 de janeiro de 2023, o zagueiro estava radiante na sala de imprensa.
“Quando recebi a ligação, fiquei muito animado com o convite. Quero estar aqui, já sinto como se estivesse há bastante tempo. Fui muito bem recebido e estou extremamente feliz”, comentou.
Naquele momento, Nenê era o capitão da equipe, mas com a chegada de novos reforços, o veterano foi para o banco na virada do ano. Maurício Barbieri, então, passou a braçadeira a Léo, que logo mostrou seu potencial de liderança e se entrosou com a equipe. As primeiras apresentações foram empolgantes – em fevereiro, durante a goleada de 5 a 0 sobre o Resende, ele voltou a marcar um gol após um jejum de seis anos.
Em um vídeo promovido pelo clube, Léo teve a chance de visitar o museu de São Januário, onde pôde ver o documento original da Resposta Histórica. “Quando cheguei e conheci os detalhes da história do Vasco, me identifiquei bastante”, lembrou na ocasião.
Léo visita documento original da Resposta Histórica do Vasco — Foto: Matheus Lima/Vasco.com.br
No começo da temporada, uma atitude particular fez Léo conquistar a torcida: com a autorização de outros líderes do elenco, ele se reuniu com o então diretor esportivo Paulo Bracks e pediu que as premiações fossem divididas igualmente entre todos os funcionários do CT Moacyr Barbosa. Muitos afirmaram, orgulhosos, que o zagueiro tinha a essência do Vasco.
No entanto, ser capitão traz consigo um grande peso. No Brasileirão, o Vasco começou a temporada de maneira desastrosa, acumulando 10 rodadas sem vencer entre abril e junho. Barbieri foi demitido, e o clube se afundou na zona de rebaixamento. Léo, jogo após jogo, aparecia nas entrevistas tentando explicar a má fase. Ele se tornou a imagem do pior desempenho do clube no primeiro turno da história do Campeonato Brasileiro.
O aliviado Léo
A chegada de Ramón Díaz e novos reforços modificou a trajetória do Vasco no campeonato. Com o impacto imediato e os bons resultados da equipe começando a surgir, uma das primeiras decisões do treinador argentino, que passou despercebida inicialmente, foi substituir Léo como capitão, entregando a braçadeira a Gary Medel.
Na ocasião, Léo ficou incomodado com a atitude do técnico, que não deu maiores esclarecimentos nem a ele nem ao elenco a respeito de sua decisão. O zagueiro acreditava que uma conversa poderia ter amenizado a situação. Mais tarde, ainda que o time tivesse obtido sucesso em escapar do rebaixamento, Léo confidenciava a amigos sua insatisfação com a “panelinha dos gringos” promovida por Ramón no clube.
Sem a faixa de capitão, o jogador não perdeu seu lugar na equipe titular, formando a dupla de zaga em praticamente todas as partidas até o fim do campeonato. Ele terminou a temporada com 46 jogos, sendo 42 como titular. Na última rodada, na vitória sobre o Bragantino que garantiu a permanência do Vasco na Série A, a imagem do zagueiro abraçando seus companheiros de forma aliviada ainda no gramado de São Januário viralizou entre os fãs.
Em janeiro deste ano, já na pré-temporada da equipe no Uruguai, Léo se mostrou otimista:
– Vou ser sincero. Todos ficaram desconfortáveis no ano passado. Não foi um espetáculo, precisamos aprender para evitar os mesmos erros. Não que só houve coisas negativas, é pegar o que foi bom e não repetir o passado. No último jogo parecia que eu ia infartar, em certos momentos estávamos rebaixando com o Vasco da Gama – disse.
“Vamos parar de falar do ano passado também. Quero que este seja um ano somente de coisas boas, que é o que a torcida merece”, complementou.
O criticado Léo
No início de sua segunda temporada com o manto sagrado, as críticas começaram a aparecer, mas não contavam com o apoio da maioria dos torcedores. O clube foi ao mercado buscar um novo zagueiro, contratando João Victor, mas com o empréstimo de Capasso para o Olimpia e a falta de outro defensor canhoto na equipe, o prestígio de Léo se manteve. Logo em sua primeira partida em 2024, ele anotou um dos gols na vitória de 2 a 0 sobre o Madureira no Carioca.
Léo em ação pelo Vasco contra o Fortaleza no Brasileirão — Foto: Thiago Ribeiro/AGIF
Contudo, como no ano anterior, o início do Brasileirão acendeu a chama da derrocada. O Vasco novamente não começou bem, e Ramón Díaz foi mandado embora logo na quarta rodada, após a goleada sofrida para o Criciúma em São Januário. A paciência dos torcedores, percebendo o sinal de mais uma temporada de sofrimento, começou a se esgotar, e Léo virou um dos principais alvos das cobranças.
As críticas se concentraram principalmente em duas falhas no desempenho do zagueiro: a dificuldade em marcar adversários em jogadas individuais, como no gol de Deivid Washington na derrota para o Santos no Brasileirão do ano anterior (veja vídeo abaixo); e o costume de sair da sua posição para tentar desarmar, deixando espaço para o adversário infiltrar, como no primeiro gol do Criciúma na goleada por 4 a 0 (veja vídeo abaixo).
Léo também ficou marcado por lances infelizes, como a falha no gol de Bustos, do Internacional, no Beira-Rio; no primeiro gol do Criciúma, no empate em 2 a 2 no Heriberto Hülse; no gol de Jhon Jhon, do Bragantino, no empate em São Januário; e no gol de Arrascaeta, na goleada do Flamengo por 6 a 1 no Maracanã, para citar alguns.
Apesar disso, Léo entende que as críticas que recaem sobre ele são sempre mais contundentes, mesmo quando outros companheiros cometem erros iguais ou até piores.
Em agosto, durante a festa de aniversário do Vasco, um comediante fez piada de Léo: “Hoje temos o Léo Pelé. Fico arrepiado. Meu Deus. É complicado. Contratamos o Pelé errado”, falou com tom de ironia. O zagueiro ficou bastante chateado com a brincadeira. Mesmo com os vídeos e manifestações de apoio de seus companheiros de time, que rechaçaram publicamente a atitude do humorista, o episódio o deixou abalado.
E como se não bastasse, a sorte não esteve ao lado de Léo em sua passagem pelo Vasco, refletindo em gols perdidos à queima-roupa. O maior exemplo disso aconteceu no segundo jogo contra o Atlético-MG, pela semifinal da Copa do Brasil deste ano. Após tantas críticas por supostamente ser mais frouxo na marcação, o zagueiro entrou em campo disposto a anular Hulk, tendo uma atuação quase perfeita naquela noite em São Januário, vencendo praticamente todas as disputas contra o atacante do Galo.
Mas em um dos raros momentos em que deixou um pouco de espaço, o craque deu um drible e fez o gol de empate, que selou a eliminação do Vasco.
Com a confiança abalada, Léo começou a jogar mais cauteloso, evitando arriscar em saídas de bola, como na jogada que resultou no gol de Alex Teixeira, no empate com o Atlético-GO, pela 36ª rodada (veja acima). Essa sempre foi sua marca registrada, que encantou treinadores que valorizam a posse, como Fernando Diniz, Rogério Ceni e Abel Ferreira.
No Athletico, Léo terá a oportunidade de trabalhar novamente com Maurício Barbieri, com quem provavelmente teve seus melhores momentos no Vasco.
Fonte: ge
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