O Campeonato Carioca, que chega ao fim no próximo final de semana após um total de 66 jogos, contou com 10 partidas realizadas fora do estado do Rio de Janeiro. O último confronto terminou com a vitória do Vasco por 2 a 1, em uma Cariacica pulsante, com um público histórico que elevou a média para mais de 23 mil espectadores por jogo.
Para avaliar o impacto da estratégia econômica adotada pelos grandes clubes do Rio de Janeiro – apenas o Fluminense não jogou fora de sua região -, é necessário comparar com a média de público do Brasileirão 2023. As 23 mil pessoas em média que prestigiaram os times cariocas em seis estados e no Distrito Federal se aproximaram da média de 26.524 espectadores registrada na última edição do torneio nacional, que foi recorde do Campeonato Brasileiro.
“Foi positivo em termos de público, renda e exposição do Campeonato Carioca. Ele se torna um produto de alcance nacional. Sempre teve abrangência nacional, mas agora, com a presença física dos clubes em diferentes regiões do Brasil”, comentou o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim.
Com a maior torcida do país, os flamenguistas, naturalmente, impulsionaram os números de espectadores e receita dessa média dos jogos fora do Rio de Janeiro. Considerando apenas os cinco jogos do Flamengo, a média é um pouco superior a 30 mil pessoas.
Já os vascaínos, com quatro confrontos, também obtiveram números expressivos, com mais de 18 mil torcedores por partida – o que seria o suficiente, por exemplo, para superar a média de público nos principais campeonatos estaduais do país. Confira a tabela abaixo com os dados levantados pelo Espião Estatístico, através da pesquisa dos jornalistas do ge Leandro Silva e Guilherme Maniaudet.
Valor das cotas ajuda a pagar as despesas; Ferj arrecada R$ 2,6 milhões
Por muitos anos um campeonato menos rentável – sem premiação para os primeiros colocados, por exemplo -, o Carioca 2024 disputado fora do RJ contribuiu para auxiliar os clubes menores a quitar seus compromissos. As cotas pagas nas 10 partidas variaram de R$ 75 mil a R$ 325 mil.
A maior cota entre os grandes clubes foi a destinada ao Flamengo – em dois jogos -, no valor de R$ 1,3 milhão – veja detalhadamente cada cota, as taxas para a Ferj e as despesas nas 10 partidas mais abaixo. Isso ocorreu em Manaus e Belém, nos quais o Rubro-Negro levou quase 100 mil pessoas aos dois estádios.
“Jamais teríamos condições de receber em nosso estádio, que é modesto, um público tão expressivo como o do Flamengo. Conseguimos obter uma receita que auxilia em nossas despesas, principalmente na folha de pagamento. É ótimo jogar no nosso estádio, diante do nosso público. Mas o valor arrecadado quase equivale à folha salarial de um mês nosso. O campeonato dura quatro meses, então temos um dinheiro garantido”, afirmou Binho, diretor do Sampaio Corrêa, sediado em Saquarema e mandante de seus jogos no estádio Lourival Gomes.
Semifinalista do Carioca pela primeira vez na história, o Nova Iguaçu conseguiu conciliar o aspecto esportivo com o econômico. Foram três partidas invictas longe do Rio – com vitória sobre o Vasco em Uberlândia e dois empates contra Flamengo e Botafogo. A equipe ainda arrecadou R$ 625 mil.
“Nós adentramos na ‘savana dos leões’. Ir para uma cidade onde todos são flamenguistas. Cansa só de pensar na viagem. Não posso negar que é exaustivo. Nos jogos contra Vasco e Botafogo, negociamos e recebemos um valor menor, mas conseguimos ficar cinco dias, fizemos uma pré-temporada lá”, comentou Jânio Moraes, presidente do Nova Iguaçu.
“É praticamente inviável sediar jogos com os grandes em nossa casa, o custo é de R$150 mil, R$170 mil por partida devido às despesas com arbitragem e aluguel. A situação se torna favorável quando se trata de um jogo fora de casa. É uma oportunidade interessante para o clube tentar não ter despesas e, ainda assim, ser remunerado. É esse o motivo que nos faz concordar”, afirmou o dirigente, adicionando outro aspecto à discussão.
“Conseguimos nos hospedar em um hotel de melhor qualidade, manter a alimentação adequada dos atletas, além de conceder uma gratificação após as vitórias. É uma melhoria significativa.”
A inversão de mandos de campo, na prática, é encarada de forma natural pela Ferj. O presidente da federação, Rubens Lopes, no entanto, ressalta que “não há imposição”, pois os clubes precisam concordar para que um jogo seja realizado fora de seu estado.
Quem também se beneficia é a Ferj, que fica com 10% da receita bruta e arrecadou cerca de R$ 2,6 milhões em 10 rodadas. Rubinho, como é conhecido o presidente da federação do Rio, foi questionado pelo ge a respeito do critério para definir a taxa dos jogos realizados fora do estado e respondeu que “são os mesmos” dos jogos dentro do estado. Tais valores servem para cobrir as despesas da federação e custos em categorias de base e outros campeonatos deficitários organizados pela Ferj.
“É um processo de consolidação do Campeonato Carioca como um evento nacional. Nunca houve dúvidas de que o futebol do Rio, com suas quatro grandes marcas, ultrapassa as fronteiras de nosso estado. Este ano, reafirmamos essa vocação nacional. O futebol do Rio é do Brasil”, afirmou.
Polêmica no Pará
Em Belém, a partida do Flamengo gerou diversas reações. Uma delas foi a crítica fervorosa do técnico Hélio dos Anjos, que chegou a declarar “que se dane o Flamengo” devido ao prejuízo de calendário para os times locais. O técnico Tite, do Flamengo, mais ponderado, também abordou o assunto e pontuou que um torcedor do Pará poderia torcer e se dedicar a dois clubes.
Ricardo Gluck Paul, presidente da federação de futebol do Pará, pondera ambos os lados do debate. Ele afirmou que o clássico local entre Remo e Paysandu gera uma receita maior do que a partida do Flamengo, mas assegurou benefícios ao futebol local – consta na súmula que a federação cobrou taxa de R$150 mil.
“Para nós, foi benéfico porque estamos criando um fundo para apoiar a categoria de base e 100% da receita foi destinada a esse fundo, para fortalecer as categorias de base”, garantiu o dirigente paraense.
“O estádio Mangueirão é do governo, não pertence ao Paysandu, nem ao Remo e nem à federação. A partida do Flamengo foi marcada no final do ano passado. O Campeonato Paraense já tinha agendado uma partida para domingo. Nessa época, o Paysandu planejava transferir seu jogo para essa data (do jogo do Carioca) e não pôde. Não foi por ser o Flamengo, foi por ter sido agendado primeiro. Eu compreendo a colocação de Hélio dos Anjos, mas o Paysandu não foi preterido.”, completou.
Confira a relação e os principais números dos 10 jogos realizados fora do Rio de Janeiro:
… (restante do texto permanece o mesmo)