Ele trocou o agito da cidade maravilhosa pela serenidade de uma chácara, longe de vizinhos. E não foi apenas a vida e a rotina que mudaram; Jordi se transformou bastante, conforme ele mesmo comentou em uma entrevista exclusiva ao ge.
– O Jordi de hoje tem continuidade, possui maturidade. O antigo era muito corajoso, tinha medo de nada. Continuo corajoso, mas agora sou mais maduro nas decisões. Sei quando agir e quando falar, não me precipito como antes. Aprendi a ouvir mais; o velho Jordi não ouvia muito, pensava que sabia quase tudo. Essa sabedoria vem com o tempo, jogando. Em todos os lugares que passei, sempre procurei saber que posso fazer a diferença, isso com muito esforço, dedicação, e aqui no Novorizontino não é diferente.
— Jordi, goleiro do Novorizontino
Jordi em ação pelo Novorizontino — Foto: Pedro Zacchi/AGIF
Aos 31 anos, Jordi vive o melhor momento da sua carreira. Pela primeira vez, ele superou a marca de 50 jogos por um clube. Na última terça-feira, enfrentou o Brusque e disputou sua 73ª partida com a camisa aurinegra, em duas temporadas.
Sob sua vigilância no gol, o Novorizontino quase garantiu o acesso à Série A no ano passado. Em 2024, a equipe do interior paulista novamente é forte na disputa por um acesso inédito.
Jordi foi titular em 26 dos 27 jogos do time na Série B, perdendo apenas o confronto contra o CRB na 20ª rodada devido a um incômodo no joelho direito. Suas boas atuações chamaram a atenção até do Santos.
A segurança que ele demonstra dentro das quatro linhas é a mesma que transparece em suas palavras. Ao conversar com exclusividade ao ge, abordou temas sobre seu passado no Vasco, a experiência no Novorizontino e sua transformação pessoal.
Jordi do Vasco
Após brilhar nas categorias de base do Volta Redonda, clube da sua terra natal, Jordi foi contratado pelo Vasco para atuar no time sub-17. As boas exibições continuaram e em 2013 chegou ao time profissional do Cruzmaltino.
Ele disputou 38 jogos e conquistou dois títulos estaduais pelo Gigante da Colina, até ser emprestado para o Tractor Club do Irã, e posteriormente, ao CSA de Alagoas. Porém, a relação não teve um desfecho amigável.
Jordi em ação pelo Vasco — Foto: Paulo Fernandes/Vasco.com.br
Devido à falta de pagamentos como FGTS, férias, 13° e salários, o goleiro moveu uma ação judicial contra o Vasco e conseguiu a rescisão em 2020, resultando em uma condenação que obrigou o clube a pagar mais de R$ 1 milhão ao atleta.
Na entrevista ao ge, nesta semana, Jordi relembrou a escassez de oportunidades no Vasco.
– O Jordi no Vasco teve muito menos chances do que tenho hoje. Durante minha passagem, a cada nove ou dez partidas, jogava duas. Sempre precisava cobrir o Martín Silva, então tinha que me virar. A maior sequência que tive no Vasco foi de nove jogos quando chegamos a ficar em primeiro. Vencemos sete e empatamos dois, se não me engano. Foi um momento ótimo, eu estava em evolução, mas depois enfrentamos problemas, como lesões e desentendimentos – comentou.
Jordi entra em campo em jogo do Vasco — Foto: Fabiano de Oliveira
Com saudade, o goleiro recordou momentos marcantes vividos no Rio e compartilhou seu amor pela cidade maravilhosa.
– Nos anos em que estive no Rio de Janeiro, passei por uma fase incrível. Amo aquela cidade. Cheguei lá muito jovem, vivi em São Januário e aproveitei intensamente. Fiz grandes amigos e sempre fui tranquilo, eu gostava de jogar futevôlei, ir a bons restaurantes às vezes, ou reunir família e amigos para fazer um churrasco. O Jordi do Rio de Janeiro era bem ativo, ia a vários lugares. Sou de Volta Redonda, então estava sempre subindo e descendo para o Rio – revelou Jordi.
Uma nova versão de Jordi
A vida agitada na segunda maior cidade do Brasil foi trocada pela simplicidade em uma pequena cidade de Portugal. Jordi deixou o Vasco e se transferiu para o Paços Ferreira, que é bastante tranquilo e fica nas imediações do Porto. O goleiro morou lá por dois anos e meio.
– Fui para Portugal, para Paços Ferreira, uma cidade também muito sossegada. Na minha transição do Rio para Paços, senti um pouco a diferença por ser menor. Porém, de Portugal para cá foi mais tranquilo, pois já estava acostumado com a vida calma – recordou o atleta.
Assim, a chegada a Novo Horizonte, em São Paulo, não trouxe tantas mudanças para ele, que já havia vivido no Rio.
– Quando cheguei aqui (em Novo Horizonte), fui agraciado por uma chácara, onde moro com minha esposa. Estamos um pouco afastados, levando uma vida tranquila, esperando a chegada do nosso filho. Estou vivendo um momento de maturidade. É importante ter calma para trabalhar, e estou muito satisfeito aqui – destacou Jordi.
Chácara que o goleiro Jordi mora, em Novo Horizonte — Foto: Arquivo pessoal
A tranquilidade do campo é complementada pela companhia da esposa, um cachorro, árvores frutíferas, piscina e as famosas quatro galinhas.
– Tenho minhas quatro galinhas, que já são renomadas aqui em Novo Horizonte. Elas são as nossas crias, temos um cachorrinho, tínhamos também carpas em um lago, piscina e um pouco de vegetação. Temos árvores e algumas variedades de frutas, então dá para aproveitar. Não é uma chácara imensa, mas é um lugar que amamos. Ao chegarmos, nos surpreendemos, pois é tudo perto e prático. Ao chegarmos aqui, encontramos a paz e a privacidade que desejávamos, sem vizinhos, então estamos vivendo um momento muito tranquilo – detalhou Jordi.
O pequeno Noah, filho de Jordi, logo será mais um residente na chácara.
As famosas galinhas do goleiro Jordi — Foto: Arquivo pessoal
O sonho do acesso do Novorizontino
Após 27 rodadas da Série B, o Novorizontino segue firme na competição. Depois de um início oscilante, o Tigre do Vale se encontrou e assumiu a liderança na 22ª rodada, mantendo-a até agora.
A equipe conquistou as últimas duas vitórias contra Botafogo-SP e Brusque sem sofrer gols, sendo vazada apenas 21 vezes em 27 jogos, garantindo uma das melhores defesas do torneio. Mais uma prova do grande momento vivido pelo goleiro Jordi, que já disputa sua quarta Série B na carreira.
– Tive duas experiências em Séries B pelo Vasco (2014 e 2016) e, sem dúvida, a diferença é enorme. Estamos lidando com um time que tem uma das maiores torcidas do Brasil. Sabemos que a realidade do Vasco não é a Série B, onde a cobrança é intensa, mas em contrapartida, a torcida sempre está presente. A logística é distinta; no Rio é mais fácil circular entre os locais e os jogos. E a camisa pesa muito nos adversários, isso faz toda a diferença – enfatizou Jordi.
– Quando voltei de uma lesão e precisei me readaptar ao jogo, entendi como se joga uma Série B, que é diferente em termos de estilo e objetivos. São muitas partidas fora, com diversos desafios. Graças a Deus consegui jogar no ano passado e dar sequência, talvez não tenha atingido o nível que queria, mas isso foi crucial. Neste ano, estou mantendo a continuidade, fazendo boas apresentações e isso traz tranquilidade. O grupo é excelente, muito competitivo, e tudo isso contribui para que as coisas estejam caminhando bem – acrescentou o goleiro.
Jordi também destacou que o Novorizontino ainda é um time recente na divisão, disputando sua terceira Série B em 2024. Contudo, ele não esconde a ambição de colocar o clube pela primeira vez na elite nacional.
– O Novorizontino acabou de subir para a Série B. No primeiro ano (2022), lutou para não ser rebaixado, foi um ano turbulento, mas depois chegou o professor (Eduardo) Baptista e o Michel (Alves, executivo de futebol) montaram um elenco forte, e quando eu cheguei aqui abracei essa ideia já ciente do desafio da Série B.
– Não carregamos a pressão de subir, mas muitos companheiros sentem que jogar na Série A é um sonho. Temos ciência de que o lugar do Novorizontino não é na Série B. Enquanto eu, o professor Baptista, o Michel e outros com bagagem de Série A estaremos aqui, a mentalidade é sempre mirar a Série A. A Série B é interessante, mas nada se compara à elite do futebol brasileiro. E se chegarmos lá, seremos iguais a todo time, enfrentaremos o que vier. O Grêmio Novorizontino busca esse acesso e queremos aproveitar essa fase incrível que estamos vivendo – finalizou o camisa 93.
Jordi também mencionou os desafios logísticos que o Novorizontino enfrenta em comparação aos rivais, que estão localizados em grandes centros urbanos. Novo Horizonte fica a uma hora de São José do Rio Preto, a cidade mais próxima com aeroporto, mas as opções de voos diretos são escassas e o time precisa fazer muitas conexões.
Além disso, ele comentou sobre a dificuldade em atrair torcedores para o estádio devido à pequena população local. Recentemente, o time realizou diversas ações de marketing para trazer mais fãs, e nas últimas duas partidas, o Tigre mais que dobrou sua média, reunindo mais de seis mil torcedores no Jorjão, alcançando quase 20% da população local no estádio.
– A logística aqui é completamente diferente, creio que é a mais desafiadora da Série B. Não é fácil. A questão da torcida é complicada, já que a cidade tem 30 mil habitantes, então não temos muita aproximação. E entendemos isso, pois as pessoas têm suas rotinas e acordam cedo. Portanto, tudo acaba sendo um pouco mais desafiador, mas precisamos ser calmos e focar em fazer nosso trabalho – encerrou Jordi.
O próximo desafio de Jordi e do Novorizontino será um confronto direto pela liderança. O Tigre irá visitar o vice-líder Santos na Vila Belmiro, na próxima segunda-feira, às 20h.
Fonte: ge