Natural de Juiz de Fora, Helio Fádel será um dos seis profissionais da área da psicologia a oferecer suporte aos atletas durante o evento. Atualmente coordenador do Departamento de Saúde Mental do Vasco e com passagens pelo acompanhamento de atletas do Flamengo, Fádel reforça a importância do trabalho em equipe multidisciplinar do Time Brasil em busca de medalhas na competição francesa.
“A saúde esportiva demanda uma atenção especial. Há ainda um estigma de que a psiquiatria está ligada apenas a casos graves de doença,” afirmou o psiquiatra.
Médico há 11 anos, Fádel especializou-se em psiquiatria em 2019. Durante seus estudos, o profissional sempre defendeu a relevância do trabalho conjunto entre psicólogos e psiquiatras no âmbito esportivo, à semelhança do que ocorre com a população em geral.
Segundo ele, a atuação interdisciplinar no esporte de alto rendimento, especialmente em momentos críticos, como no ápice do ciclo olímpico, é uma tendência necessária.
“Representar o Brasil nos Jogos Olímpicos gera pressão e responsabilidade, podendo desencadear sofrimento mental, seja ansiedade, depressão ou uso de substâncias. O acompanhamento dos profissionais de saúde mental visa garantir o melhor desempenho dos atletas, aliado à qualidade de vida.”
A inclusão de um psiquiatra na equipe olímpica e os cuidados com a saúde mental dos atletas tomados pelo COB foram elogiados pelo Comitê Olímpico Internacional, conforme salientou Fádel. O médico destaca que a preocupação do COI com o bem-estar dos atletas está atrelada à alta exigência do esporte de alto rendimento na busca pela glória olímpica.
Fádel ressaltou também que, embora haja uma evolução científica e um interesse crescente dos clubes e entidades esportivas em relação ao aspecto emocional dos atletas, ainda persistem preconceitos e falta de compreensão sobre a importância da prevenção e do entendimento dos desafios enfrentados pelos praticantes de modalidades de alto nível.
O grupo de preparação mental do COB conta com 17 profissionais, sendo que sete deles irão para Paris junto com a delegação brasileira. Além de Fádel, o coordenador Eduardo Cillo e as psicólogas Aline Wolff, Carla Di Pierro, Carla Ide e Marisa Markunas darão suporte aos atletas. Eduardo destaca a importância do alinhamento entre os profissionais para o sucesso no tratamento.
“É essencial o trabalho interdisciplinar. Cada caso é tratado em conjunto pelo psicólogo e pelo psiquiatra. Essa parceria envolve uma discussão detalhada dos cuidados e limites, para que o atendimento seja eficaz em benefício do atleta.”
Cuidados no futebol
Antes de integrar a equipe olímpica, Fádel acumulou experiências no tratamento psiquiátrico. Atualmente, ele coordena o Núcleo de Saúde Mental do Vasco e mantém contato com o Departamento de Saúde e Performance do clube.
Antes de sua passagem pelo Cruz-Maltino, colaborou com o departamento de futebol do Tupi, equipe campeã da Série D do Brasileirão e atualmente na terceira divisão em Minas Gerais.
Além disso, prestou serviços ao Flamengo em 2020, período em que estava sob o comando de Jorge Jesus. Na época, o clube encaminhava seus atletas para atendimento com Fádel, sendo um dos apoiadores no processo de recuperação de Michael.
O jogador chegou a relatar publicamente os problemas emocionais enfrentados durante sua passagem pelo Rubro-Negro. Posteriormente, no início de 2023, o atacante do Al-Hilal levou Fádel para a Arábia Saudita para dar continuidade ao tratamento.
Apesar de sua experiência no futebol, Fádel ressalta que as particularidades desse esporte tornam o cuidado com a saúde mental mais complexo em comparação ao esporte olímpico, que está mais avançado nesse aspecto.
“A evolução dos cuidados com a saúde mental no futebol não é tão rápida. A dificuldade de acesso dos profissionais aos clubes, somada à crença de que os atletas podem não se sentir à vontade para expor seus problemas, são desafios a serem superados. A psiquiatria e a psicologia esportiva in loco são essenciais nesse processo.”
Fádel destaca a importância do trabalho diário realizado, por exemplo, pelo COB, em relação à construção de uma abordagem eficaz para o acompanhamento e tratamento dos atletas.
“Nada substitui o trabalho contínuo, preventivo e manutenção desses cuidados. Cuidamos da saúde mental diariamente visando sempre o bem-estar dos atletas.”
Desafios da ansiedade
As angústias enfrentadas pelos atletas são compartilhadas por Helio Fádel, evidenciando que os profissionais de saúde mental também lidam com seus próprios desafios. Às vésperas dos Jogos Olímpicos, o psiquiatra busca equilibrar suas emoções para ajudar efetivamente os atletas em tratamento.
Apaixonado por futebol, Fádel espera conseguir acompanhar o maior número possível de eventos durante sua estadia na França.
“Estou ansioso, como todos. Nesse contexto, não se trata de evitar a ansiedade, mas de lidar com ela. É comum sentir essa emoção diante de um evento tão grandioso. Os atletas se preparam intensamente para alcançar os melhores resultados, e essa expectativa gera ansiedade. Estamos juntos com eles, compartilhando seus objetivos e desafios.”
Além da satisfação profissional e do orgulho em ser o primeiro psiquiatra a integrar a delegação brasileira, Fádel destaca a responsabilidade de contribuir para que os atletas brasileiros possam competir em suas melhores condições.
“Essa oportunidade representa um misto de sentimentos: conquista profissional, pertencimento e a responsabilidade de estar à frente da saúde mental dos atletas do Time Brasil,” concluiu.
Fonte: ge