O meia-atacante de 23 anos chegou ao Galaxy em janeiro deste ano e rapidamente se tornou uma peça fundamental do time, anotando 17 gols e 18 assistências em 35 partidas até agora. Ele acredita que esses feitos são frutos do aprendizado adquirido no clube que o formou.
— Sou muito grato ao Vasco, pois ele me fez mais forte, sabe? A pressão e a torcida imensa. Cada jogo é uma final. Isso me deixou calejado”.
— Gabriel Pec, meia-atacante do LA Galaxy
Gabriel Pec chegou ao LA Galaxy no começo do ano — Foto: Getty Images
O Galaxy se interessou por Pec após uma temporada notável no Vasco. Revelado na base e integrado ao time profissional desde 2019, ele teve um salto significativo em 2023, ao marcar 14 gols. Mas na sua estreia nos EUA, ele superou suas próprias marcas: até agora, já são 19 gols e 19 assistências em todas as competições, uma média impressionante de um envolvimento direto em um gol por jogo. O jogador de 23 anos explica o porquê de seu crescimento.
– O que aprendi aqui foi principalmente sobre o ataque, pois o nosso time tem muita posse de bola. No Vasco, eu muitas vezes tinha que descer para ajudar na marcação, seguia rígidos esquemas táticos. Rolava de formar linha de cinco ou seis para apoiar o time. O Vasco me deu maturidade tanto na defesa quanto no ataque. Aqui, desenvolvi meu estilo mais solto, de fazer dribles e avançar. Consegui me soltar mais, e com isso, produzi mais gols e assistências. O time me incentivou a atacar e a controlar mais o jogo – revela em entrevista ao ge.
Os gols e assistências ao longo da temporada garantiram a Pec o prêmio de Contratação do Ano, fruto de votos de jogadores, técnicos da MLS e da imprensa especializada. O brasileiro venceu Luis Suárez, que chegou ao Inter Miami nesta temporada para fazer dupla com Messi. Pec teve 37,53% dos votos, enquanto Suárez ficou com 27,63%. Luca Orellano, ex-jogador do Vasco e que defende o Cincinnati, completou o pódio com 12,53%.
— Lembro quando era criança, assistia o Suárez jogando no Barcelona, ao lado de Messi e Neymar… Então, competir e vencer um prêmio contra ele é indescritível. Jogar numa liga que ele também faz parte é uma honra.
Na sua primeira temporada em Los Angeles, Pec vive uma verdadeira vida de cinema, e ainda mais por estar em uma cidade que é um sonho para muitos. Ele até relata que uma de suas primeiras aventuras turísticas foi visitar a famosa placa de Hollywood para registrar o momento.
Um momento que ficou em aberto foi a foto com Lionel Messi, craque do Inter Miami e melhor equipe da fase regular da MLS. Pec encontrou o argentino na sua estreia na liga, mas a timidez o impediu de solicitar uma foto. Agora ele aguarda uma nova oportunidade, que pode resultar numa cena digna de Oscar: um novo encontro pode acontecer na final da MLS Cup, caso o LA Galaxy seja campeão da Conferência Oeste e o Inter Miami vença na Conferência Leste. E o brasileiro poderá voltar ao Rio não só com uma foto com Messi, mas também com um troféu que o Galaxy não conquista há uma década.
— Se eu tivesse mais tempo aqui, já teria ido até o Messi pedir sua camisa. Mas eu fiquei meio acanhado. Quem sabe em uma final da MLS? Um Galaxy x Miami. Vou com certeza falar com ele e pedir uma foto depois do jogo – projeta.
Confira a entrevista com Gabriel Pec:
ge: Você foi eleito como contratação do ano na MLS. Como foi receber essa notícia logo na sua primeira temporada?
Gabriel Pec: – Estou muito feliz. Primeiramente, agradeço a Deus por esse prêmio, que é incrível e só soube da sua existência ao perceber que estava competindo. Fiquei muito feliz quando nosso gestor me deu a notícia. Tenho que agradecer também aos meus colegas e à minha esposa, que sempre está ao meu lado me incentivando.
Você superou Orellano e Suárez, um astro internacional. Isso torna o prêmio ainda mais especial?
– Sem dúvida. Fiquei emocionado ao saber que a votação foi feita por jogadores, corpos técnicos e a imprensa. E o Suárez… Eu o via na TV quando era criança jogando no Barcelona e agora disputando um prêmio contra ele é surreal. Sinto-me muito feliz e honrado de jogar ao lado de craques.
Você é muito jovem, mas já está causando um estrondo. Esperava que sua primeira temporada fora do Brasil fosse tão boa?
– Realmente não esperava ter um desempenho tão bom assim. A adaptação demorou um pouco porque foi minha primeira mudança. Cheguei muito ansioso, pois meu casamento já estava marcado e acabei não rendendo tanto de imediato. O campo e a velocidade do jogo aqui também são diferentes.
Participei de alguns jogos antes de voltar ao Brasil para me casar e ainda estava me adaptando. Eu me senti um pouco frustrado, pois sabiam que confiavam muito no meu talento. Então, após voltar do casamento, tranquilo e focado, consegui começar a mostrar meu verdadeiro futebol. Graças a Deus, tive um grande ano e espero encerrá-lo com chave de ouro.
Quais foram os principais fatores que contribuíram para seu sucesso na estreia?
– Diversos fatores, mas principalmente minha fé em Deus, que sempre busco em primeiro lugar. Isso me dá leveza, pois entendo que tudo que faço em campo é para glorificar o Senhor. Vou aos jogos feliz, sem pressão. E claro, o apoio da minha esposa, que me incentiva todos os dias a ser um homem e um jogador melhor. O entrosamento com meus companheiros também foi fundamental, pois é um time multicultural, com jogadores de várias nacionalidades.
Como essa temporada fora do Brasil contribuiu para o seu desenvolvimento?
– Acredito que um jogador está sempre evoluindo. O Vasco me deu um alicerce forte com a torcida apaixonada e pressão constante. Este passo para a MLS era essencial para mim. São 15 anos no clube. Agora, cada dia estou trabalhando para ser a melhor versão possível como atleta. Aprendi muito sobre a parte ofensiva aqui. No Vasco eu tinha que me preocupar muito com a defesa, mas aqui consegui me soltar mais e produzir mais.
No Vasco, você jogava em um clube tradicional e agora no Galaxy, que também possui uma grande história. O que eles têm em comum e o que muda? A pressão é a mesma?
– A principal diferença é a intensidade da torcida. No Brasil, a torcida é fervorosa, sempre ligada, gritando, cantando. A torcida do Galaxy é incrível, mas depois do jogo, o clima é diferente. Às vezes, eu ando na rua e sou reconhecido, mas não da mesma forma como no Brasil, onde qualquer um vem e pede uma foto. Aqui, o pessoal respeita seu espaço.
A contratação do Reus foi um grande feito? Como está essa parceria?
– Todos os craques são referências. Quando Reus chegou, ele se mostrou um cara incrível, brincalhão e muito integrado. Sua experiência é valiosa para o nosso time. Mesmo com a barreira da língua, sempre busco aprender com ele e entender suas orientações.
Gabriel Pec com Marco Reus: dupla vem brilhando no Galaxy — Foto: Getty Images
Sinto-me muito feliz jogando ao lado de um craque que fez história. Na prática, aprendo muito com ele sobre como atuar no campo.
Seus gols também ajudam o Vasco. Isso é gratificante?
– Com certeza! Além de ter ajudado na venda, agora sigo contribuindo. Fico feliz por isso, pois cresci no Vasco, onde passei 15 anos. Sinto que estou retribuindo tudo o que o clube fez por mim e espero continuar fazendo gols que ajudem ainda mais.
Você continua acompanhando o Vasco? Recebe carinho dos torcedores?
– Sempre que dá, assisto aos jogos e fico feliz em ver que a torcida ainda me apoia e manda mensagens pedindo meu retorno. Fico emocionado com esse carinho, pois foi algo que sempre busquei. Eu cresci ali e sempre procurei ter um bom contato com a torcida.
— Fico feliz de continuar recebendo carinho da torcida, pois passei por muitas dificuldades, mas 2023 foi um ano de reconciliação. A conexão que criei com o torcedor vascaíno ainda perdura, mesmo de longe.
Sobre os planos futuros, a MLS também é vista como trampolim para a Europa. Como se vê nisso?
– A MLS tem se mostrado um excelente trampolim. Minha meta é jogar na Europa, na Champions League, e claro, vestir a camisa da seleção brasileira. É um sonho de infância e estou trabalhando para isso. Sei que meu momento vai chegar.
Para fechar, quais os próximos passos: decisões importantes e férias?
– Vamos ter uma pausa. Quero relaxar com minha esposa e, em seguida, voltamos às atenções para a semifinal e a final da conferência. Assim que acabar, com certeza pegarei um avião para o Brasil, para rever a família e matar a saudade. Mas agora o foco é total em atingirmos nosso objetivo: ser campeões e acabar com essa fila de 10 anos.
Fonte: ge