O Club de Regatas Vasco da Gama teve a honra de receber familiares de três grandes jogadores da história da agremiação vascaína: Leitão, Mingote e Torterolli, Campeões Cariocas de 1923.
Além de visitarem o Cruzmaltino, os parentes dos Camisas Negras prometeram que vão disponibilizar os acervos familiares, via doação ou empréstimo, para serem preservados pelo Centro de Memória da agremiação vascaína.
Hoje (24/07), estiveram presentes Kaio de Paula Galvão, Renato Paccini Freitas e José Alberto Leal Pereira. Kaio é sobrinho-bisneto de Albanito Nascimento, o Leitão, zagueiro titular no Campeonato Carioca de 1923. Além disso, pelo Clube da Cruz de Cristo, Leitão conquistou a Série B da 1.ª Divisão, em 1922, e o Campeonato Carioca de 1924 (invicto). Por parte de pai, o membro da Família Leitão também possui parentesco com outro ex-jogador vascaíno, o lateral direito Galvão, campeão carioca de 1982.
Leitão veio do Bangu para o Vasco em 1922. Atuava pelo clube da Zona Oeste desde 1917 e era tecelão na Fábrica Bangu. Jogando pela agremiação vascaína, passou a trabalhar como empregado do comércio na C. Machado & Cia. (Tintas e Vernizes). Analfabeto, tomou aulas com o bibliotecário do Clube, Custodio Moura, para poder fazer a inscrição pelo Cruzmaltino, cumprindo as regras estabelecidas pela Liga Metropolitana, e jogar a Série B da 1.ª Divisão. Mesmo assim, naquele ano, foi denunciado pela Comissão de Sindicância e teve seu registro cassado. O Vasco teve uma longa briga na Liga Metropolitana para fazer valer seus pontos conquistados em campo, com o seu jogador. A batalha contra o preconceito foi vencida, e Leitão pode continuar a escrever a sua trajetória vitoriosa no futebol. Em 1924, sofreu outra perseguição, por parte da recém-criada Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA). Leitão foi um dos 12 atletas que teve seu registro de jogador negado pela Comissão Organizadora da entidade. Novamente, o Vasco ficou ao lado do seu atleta, se negando a excluí-lo e a seus companheiros, no caso conhecido como “Resposta Histórica”
Renato Paccini é neto de Domingos Vicente Passini (ou Paccini), mais conhecido como Mingote. Além disso, é esposo da campeoníssima remadora Kyssia Cataldo, atleta do C. R. Vasco da Gama.
Pintor de paredes, o zagueiro Mingote chegou ao Vasco em 1921 e foi empregado no comércio, na Casa Retroz (Armarinho – Galdino & Rodrigues), de propriedade do dirigente vascaíno Adriano Rodrigues. Titular na conquista da Série B da 1.a Divisão, em 1922, perdeu a posição para Claudio Destri, que disputou o 1.º Turno de 1923. No 2.º Turno, Mingote reassumiu a sua posição na zaga ao lado de Leitão, após Destri se machucar durante um treino. No ano de 1924, foi um dos poucos que escapou da solicitação de exclusão do quadro esportivo do Vasco, a pedido da Comissão Organizadora da AMEA. No time principal, além de Mingote não foram cassados Paschoal, Torterolli e o goleiro Nelson, esses três últimos por serem jogadores de Seleção Brasileira.
José Alberto Leal Pereira é sobrinho-bisneto de Nicomedes Conceição. O nosso Torterolli foi um dos principais meias criativos dos Camisas Negras. Alto e magro, se destacava na cancha com seu ímpeto ofensivo e foi titular do Vasco por 10 anos (1920-1930). Apelidado de ”Príncipe dos Passes”, o meia-direita era um dos melhores jogadores do time principal vascaíno, passava e driblava com extrema qualidade. No início de 1923, assim como Cecy e Nicolino, teve o seu registro cassado pela Liga Metropolitana. Acusado de analfabetismo, Torterolli já havia defendido as cores vascaínas em 1920, 1921 e 1922, inclusive, sendo campeão da Série B da 1.a Divisão. Torterolli era operário da Companhia Singer, fabricante de máquinas de costurar. Em 1924, escapou da solicitação de exclusão feita pela Comissão Organizadora da AMEA, porque, assim como Nelson e Paschoal, havia defendido a camisa da Seleção Brasileira. Além do Campeonato Carioca de 1923, Torterolli conquistou o Campeonato de 1924 (invicto) e o Torneio Início de 1926.
No dia 12 de agosto de 2023, comemoraremos os 100 anos da conquista do Campeonato Carioca de 1923. No ano de estreia do Vasco da Gama na principal categoria do futebol do Rio de Janeiro (Série A da Primeira Divisão), a agremiação vascaína conquistou o Campeonato de Futebol da Cidade do Rio de Janeiro (Campeonato Carioca), organizado pela Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT), com uma equipe formada por atletas negros e brancos, de baixa condição social, dos quais poucos sabiam ler e escrever de acordo com as exigências dos ”defensores da moral do esporte”.
Através de uma campanha avassaladora, com 11 vitórias, 2 empates e apenas 1 derrota contestável, o Vasco rompeu o paradigma que fora instalado desde o surgimento da competição, que hoje conhecemos como Campeonato Carioca, organizado pela primeira vez em 1906 pela então Liga Metropolitana de Football.
As elites dos clubes que historicamente haviam vencido o campeonato procuravam estabelecer a prática do futebol como instrumento de distinção social. Assim, jogadores com características semelhantes aos dos vascaínos não possuíam espaço nos principais times. Os dirigentes do Vasco buscaram estabelecer o futebol como um espaço para a demonstração da grandeza do C. R. Vasco da Gama e dos valores que ele representa desde sua Fundação. O Cruzmaltino abraçou os “indesejáveis do futebol”, assim como já havia feito no remo. Esses jogadores foram fundamentais para a construção do gigantismo desta agremiação.
No dia 12 de agosto de 1923, o Vasco escreveria uma das mais lindas páginas de sua história esportiva. No último jogo do Campeonato, disputado no Estádio de General Severiano, após estar perdendo por dois gols de diferença para o São Christovão, o Vasco venceu a partida de virada, por 3 a 2.
Os Camisas Negras, com seus jogadores negros, pobres e operários, contra tudo e contra todos, se sagrariam Campeões da Cidade do Rio de Janeiro. O Clube agradece imensamente aos familiares dos Camisas Negras pela visita.
Fonte: Site Oficial do Vasco