. Essa Copa do Brasil foi muito marcante, tinha muito esse desejo de fazer história no Santos. A gente tinha colocado isso como meta, que seria marcante, porque era um título que o Santos, dos poucos, não tinha. Então a Copa do Brasil foi muito marcante. Até pela idade também, a gente comemorou direitinho.
Qual o jogador mais baladeiro?
– Rodriguinho, vai ficar bravo comigo, mas Rodriguinho era bravo. Ele era uma dupla boa fora de campo. Por sinal, um dos poucos amigos que eu tenho no futebol é o Rodriguinho. Amo aquele menino.
E qual o motivo de ter poucos amigos no futebol?
– O jogador sofre muito preconceito. Então, você imagina dois ou três jogadores em um lugar, as pessoas já acham que estão fazendo festa, que estão fazendo tudo. Então, eu tentava filtrar isso. E até pra mim, assim, ter um conhecimento melhor de tudo, meus amigos eram todos fora do futebol, isso daí abriu muito minha cabeça para tudo. Então, acho que eu preferia não andar com jogador, não. Eu tenho um amigo meu que falava, eu não ando com jogador de futebol não, que é complicado. Então, são poucos que eu andava, que frequentavam a minha casa, assim, dá pra contar nos dedos. Mas, por isso, acho que as pessoas têm muito preconceito. Então, eu preferia evitar. Preferia ser só eu mesmo, deixa um só, tá bom. Mais que um, já vira loucura, suruba.
Como foi o papo com o seu pai que o fez jogar além dos 30 anos?
– Ele não aceitou. Pelo meu pai, eu jogaria até os 40 anos, sem perna, sem conseguir andar. Mas chegou o momento que eu tive que explicar a ele que não estava fazendo bem para mim. Acho que era hora de parar, não estava fazendo bem pra mim, já não conseguia concentrar e render. O corpo também já não responde mais. E ele não aceitou muito bem não, mas acho que tem uma hora que você tem que pensar em si. E tive que pensar no André e não no meu pai. E aí é terapia pra entender isso, se posicionar assim, porque não é fácil. Você falar um não para o teu pai e tomar uma decisão é difícil, mas acho que ele vai curtir. Agora o André é mais filho dele, mais próximo.
Como era a sua relação com o Renato Gaúcho?
– O Renato eu falo para todos os jogadores que eu conheço que todo mundo merece trabalhar com ele um dia. Trabalhar com o Renato é uma experiência que todo mundo tem que viver. É um barato, ele me deu muitas dicas. Ele me zoava muito, me deu muitas dicas e uma delas ele falou que que ele tinha isso também quando ele jogava, as pessoas pegavam no pé dele e por isso ele chegava cedo e treinava muito, porque ele sabia que ele ia ser cobrado a mais pelas coisas que ele fazia fora de campo.
– Isso daí eu peguei para mim e comecei a entender que realmente é isso, já que você gosta de fazer algumas coisas que as pessoas vão te julgar, você tem que dar um algo a mais e se preparar a mais. E eu comecei a fazer isso logo depois do Renato. Mas o Renato é um barato, eu tenho saudade de trabalhar com ele. E agora que eu parei, vou marcar de tomar um chope com ele ali em Ipanema.
Você falou que é um ex-jogador, mas não ex-atleta. Quais esportes gosta de praticar?
– Gosto de fazer todo tipo de esporte, acho que minha família tem muito dessa questão esportista. Eu faço até para me sentir bem, até para ocupar a cabeça, mas o que eu mais gosto mesmo é a bicicleta. Eu gosto muito de andar de bicicleta. Estava um pouquinho parado aí, mas agora eu já vou tirar e vou começar a rodar com ela de novo, às vezes eu vou na Paineiras ali, que é um trajeto mais tranquilo. Eu vou daqui em Grumari. Eu tenho um grupo de bicicleta aí que a gente anda, de speed. O pessoal não vê muito porque a gente sai de madrugada, pessoal não entende o que o André está fazendo aí. Mas eu estou aí, se vir uma bicicletinha preta rodando aí, sou eu.
Seu pai (Lenílson, formado no Vasco) foi jogador de futebol, qual era a relação de vocês? Por isso ele se preocupou tanto com a sua aposentadoria?
– Eu acho que também é um pouco de medo de como vai ser o pós carreira. Mas tem essa questão também, meu pai jogou até os 40 anos e ele acha que eu tenho que jogar igual a ele ou mais. Mas eu acho que ele já entendeu, ele já se convenceu. Acho que eu estava fazendo muito mais entretenimento para ele do que para mim. Era muito mais entretenimento ele ver eu jogar do que tudo, do que prazeroso para mim. Então a gente teve essa conversa, ele entendeu.
– Mas foi muito bacana, meu pai eu brinco que ele jogou mais do que eu. Meu pai era craque, todo mundo sempre falou isso. Na região, em Cabo Frio, a gente é conhecido por isso. Eu sou conhecido por ser filho dele, não ele por ser meu pai. Então é bem bacana essa relação que a gente tem, acho que a gente tem que curtir mais essa relação de pai para filho, porque sai muito cedo de casa e está na hora de ter uma relação mais eu e ele, assim.
– Meu pai é artilheiro, jogava muito, só que ele era canhoto. Só que esses dias eu fui buscar na internet e ele fala que era artilheiro, mas tinha cinco gols computados. Artilheiro de cinco gols não existe, ele fala que na época dele não passava na televisão. Mas meu pai realmente foi craque e, graças a Deus, eu pude vir para realizar um sonho dele que foi atingir coisas que ele não atingiu. Então, eu sou muito grato para o meu pai porque ele foi minha referência, quem me ensinou tudo no futebol.
Qual o treinador que mais gostou de trabalhar? Você chegou a trabalhar com o Tite?
– Trabalhei com ele no Corinthians já numa reta final dele indo para a Seleção, a gente não teve muito contato não. Não sei se isso foi bom ou se foi ruim. Mas o que eu mais gostei também foi o Jorge Jesus. Eu acho que é um grande treinador. Queria muito ver ele na Seleção, porque eu acho que ele também tem esse sonho de treinar a seleção brasileira. E ele é um cara que entende muito futebol, muito, muito mesmo. É obcecado, acho que você vê o trabalho que ele fez no Flamengo, então, é chato para caramba, mas é muito bom treinador.
Conta uma das suas várias resenhas da carreira…
– Tem uma no Galo que eu vim pro Carnaval. Eu gosto muito do Carnaval, então eu acabei vindo pro Carnaval no Rio de Janeiro e a gente tinha um voo pra Libertadores que era num sábado e eu vim na sexta-feira, se eu não me engano. E o voo era de manhã, e eu fui me apresentar no Galo de abadá. Eu fui chegar para treinar de abadá, véspera da viagem, eu fui direto da Sapucaí… tu imaginou eu transitando no aeroporto de camarote Brahma, cinco da manhã e me apresentar no Galo? Então acho que foi um período no Galo, acho que foi o período mais rebelde que eu tive na minha vida.
Você contou uma do Ronaldinho que o Levir Culpi falou se ele conseguiria bater a bola…
– Acho que o Levir tinha alguma implicância com o Ronaldinho, era complicado. E aí ele pegava no pé do Ronaldinho, se o Ronaldinho conseguia bater bola com curva. Falta com curva. Então, você imagina você perguntar para o Ronaldinho se ele consegue bater uma falta com curva? E o Levir fazia essas coisas direto com ele. O Levir ele tem uma fama de pegar no pé dos jogadores que eram estrela. E no Galo ele chegou para isso, né? Então ele teve muitos problemas com alguns jogadores lá, mas é um grande cara. É um grande treinador, tanto que a gente conseguiu ganhar a Copa do Brasil com ele.
– É o burro com sorte, ele falava que era o burro com sorte. Mas é um cara que fiquei com um carinho muito grande por ele. É um dos treinadores que, se eu pudesse pedir desculpa por alguma atitude, o Levir seria um deles. No momento que aconteceu, eu não entendi bem, mas foi muito mais erro meu do que dele. E eu achava que a culpa era dele. E no final de tudo, era eu que estava sendo muito rebelde. Então, o Levir é um dos treinadores que, se eu pudesse um dia ter oportunidade de pedir desculpa, que eu que estava errado, ele seria um deles.
Alguma coisa que a gente não tenha perguntado e que você gostaria de falar?
– Eu sou muito bem realizado com o futebol, o que vocês falaram foi importante. É importante frisar isso, e eu venho frisando sempre, porque as pessoas veem o jogador de futebol famoso, com dinheiro, e esquecem um pouco da essência do cara, o que ele passou para estar ali. Então você esquece um pouco de dar esse suporte, você acaba julgando muito, você acaba apontando muito o dedo. Por exemplo, essa questão do André Balada, as pessoas sempre me julgam muito, me apontam muito o dedo como se fosse uma pessoa mau-caráter. Então, eu não sou mau-caráter, quem me conhece sabe disso, sabe que eu sou uma pessoa totalmente alto astral, sou legal.
– É como eu falei, é claro que algumas atitudes minhas foram totalmente erradas, mas também não foi fácil para mim, um cara que com 15 anos saiu de casa ter que sobreviver no meio de leões e virar homem e competir. E tudo isso com pouca idade não foi fácil. Faz parte, eu acho que são erros que você não tem que cometer, mas acaba cometendo. Então deu tempo de reverter isso, de mudar. E é isso, acho que chega o final de uma carreira que, pra mim, foi totalmente de sucesso. Tive mais do que eu imaginei, fui mais feliz do que eu imaginei. Se alguém teve alguma desavença comigo, acho que muito pouco ou raramente. Porque continuo falando que eu sou um cara legal, não tenho problemas com ninguém.
– Peço desculpas, igual eu pedi para o Levir, que eu acho que era importante, porque foi um cara que tentou me dar suporte e eu não escutei. E é isso, acho que é o fim. É o fim e um recomeço de um novo André. Agora acho que não tão balada, agora é um cara mais empresário e aí eu não sei o rótulo que vão me dar, CEO, talvez? Aí ninguém quer dar, né? Isso que é complicado, mas… está valendo. Quem me encontrar na rua e quiser me convidar para tomar um chope, pode me convidar agora. Não devo nada a clube nenhum. Então, acho que é isso.
– Agradecer a todos os clubes que eu trabalhei, que eu passei, em especial alguns, como o Sport, que foi um clube que que me abraçou de uma forma que eu nunca esperava, tem um carinho muito grande. O Santos, que me abriu as portas para o futebol. E os outros também agradecer, o Vasco, o Atlético-MG, que foi o clube que eu ganhei títulos, o Cuiabá, enfim. É muito time para falar, né? Mas foi uma experiência maneira, foi uma viagem boa que chega ao fim no momento que tem que chegar, um pouquinho depois do que eu planejei, mas foi como eu sonhava. Estou parando realizado, feliz e leve.
Fonte: ge