Chegando no início do ano passado após quatro anos no Midtjylland, da Dinamarca, Evander conquistou a torcida dos Timbers. Em um clube tradicional, que já participou de três finais e ganhou um título, ele festeja seu momento de destaque, liderando uma estatística importante em uma liga que tem Messi como concorrente.
– Estou muito contente com o trabalho que tenho realizado. Cheguei no ano passado e não tive tanto sucesso quanto estou tendo agora. As coisas estão se desenrolando de maneira bastante natural. E ser reconhecido entre gigantes como Messi e Suárez me deixa muito feliz. Tenho dado meu máximo aqui e quero levar o time de volta aos playoffs, já que não conseguimos a classificação nos últimos dois anos – destacou Evander em entrevista ao ge.
Líderes de participações em gols na MLS:
- Evander (Portland Timbers): 33 (15 gols e 18 assistências)
- Luciano Acosta (Cincinnati): 30 (12 gols e 18 assistências)
- Messi (Inter Miami): 29 (14 gols e 15 assistências)
- Cristian Arango (Real Salt Lake): 29 (17 gols e 12 assistências)
Neste sábado, o Portland Timbers vai encarar o Vancouver Whitecaps, no Canadá. Atualmente, a equipe está na oitava colocação da Conferência Oeste, e Evander é o alicerce de uma campanha sólida. Nos últimos cinco embates, foram duas vitórias, dois empates e uma derrota, com sete participações diretas em gols por parte do brasileiro.
Evander soma 15 gols (sexto na tabela) e é o líder absoluto em assistências na MLS, com 18. Ao todo, são 33 contribuições em 25 partidas, três a mais que Luciano Acosta, do Cincinnati, que tem 28 jogos disputados, e quatro a frente de Messi, do Inter Miami, que atuou em apenas 15 ocasiões.
O desempenho excepcional de Evander lhe rendeu uma convocação para o All-Star Game da MLS. O brasileiro foi titular na partida onde sua equipe perdeu por 4 a 1 para as estrelas da Liga Mexicana. Mas isso não diminuiu seu brilho, e ele contou com a companhia de Gabriel Pec, do LA Galaxy, no evento.
– Foi uma experiência única. Jogar ao lado de astros como Busquets e Alba foi inesquecível. Infelizmente, o Messi não pôde comparecer devido a uma lesão na final da Copa América. Mesmo assim, estar em um evento com os melhores do campeonato é algo que só acontece aqui. Estou muito contente por ter sido selecionado por conta da temporada que venho fazendo. Foi algo inédito para mim – relembrou.
Em sua segunda temporada na MLS, Evander ainda não teve a chance de medir forças com Messi. O regulamento da liga prevê jogos contra todos os adversários da própria conferência, mas apenas alguns da outra. O Inter Miami está na Conferência Leste.
– Deveria ter sido este ano, mas não sei o que aconteceu com o calendário. É um pouco confuso. No ano passado, também não enfrentamos o Inter Miami, e havia expectativa de que jogássemos agora. Sempre fica a esperança, ainda mais agora que estamos lutando pela classificação nos playoffs. O nosso objetivo é chegar até a final. Se fizermos nossa parte e eles fizerem a deles, quem sabe? É um caminho longo, mas possível – analisou.
Evander também compreende a relevância de ter jogadores como Messi na liga, pois isso pode levar a um reconhecimento maior da MLS. De acordo com o jogador, existe um forte desejo por parte dos dirigentes de fazer da liga uma das melhores do mundo em um curto espaço de tempo.
– Para muitos fora, e até para alguns jogadores que pensam em vir aqui para aproveitar a vida, quando chegam percebem que não é tão simples. A MLS é uma liga estruturada, com investimentos consideráveis para atrair bons atletas. Esperamos que ela continue se fortalecendo, tanto com nomes relevantes como também com promessas. Não sei quais são os planos da liga, mas sei que eles querem estar entre as dez melhores do mundo. Isso é bom para os jogadores e para o público – falou.
Em Portland, Evander mora com sua esposa Alanis, com quem está junto há quatro anos, e seu filho Dom, de apenas dois meses. Na cidade, eles exploram restaurantes, inclusive alguns brasileiros, e socializam com as famílias de outros jogadores, em sua maioria sul-americanos, incluindo o brasileiro Antony Alves, de 23 anos, revelado pelo Corinthians e que já passou por Joinville, de Santa Catarina, e Arouca, de Portugal.
O craque já se adaptou e adora a celebração dos gols da torcida do Portland Timbers, que envolve carregar pedaços de troncos, uma tradição do clube.
– A cada partida em casa, a cada gol marcado, eles fazem esse corte de tronco. E ao final do jogo, o jogador precisa ir lá receber e levantar o tronco para a torcida. É uma cultura local, um verdadeiro espetáculo. A torcida é sensacional. Quando cheguei, não conhecia essa tradição, achei curioso, mas é algo que sigo fazendo – explicou Evander, que foi apresentado quando chegou ao clube durante um jogo da NBA, do Portland Trail Blazers.
Antes de atuar nos Estados Unidos, Evander superou alguns desafios na Dinamarca, onde jogou pelo Midtjylland na Liga dos Campeões. Na época, morando sozinho, ele enfrentou o lockdown em Herning acompanhado de Marcelo Sander, ex-jogador e seu padrinho, que foi passar 15 dias com ele e acabou ficando alguns meses até que os voos fossem restabelecidos. Mas as lembranças boas são lembradas no campo.
– A experiência na Liga dos Campeões não foi tão legal devido à Covid. Estava vazio, só tinha os jogadores e não havia torcida. Contudo, foi incrível enfrentar times como Liverpool, Atalanta e Ajax. Foi algo inédito para o clube – declarou o jogador, relembrando seus primeiros dias no clube.
– No início, havia um certo receio devido a uma experiência negativa com jogadores brasileiros. Às vezes, como jogador, não respeitamos a cultura de outros países e queremos que tudo seja como desejamos. Eu fui lá e respeitei. Era o único brasileiro no início. Após alguns meses, chegaram outros, o que foi bom para mim. É um clube que aspira a disputar competições europeias e eu vi isso acontecer enquanto estava lá. Eles conseguiram reformar o CT e aprimorar sua estrutura com a venda de atletas. É um clube jovem, fundado em 1999. Fiquei feliz em fazer parte desse projeto.
Revelado no Vasco, Evander tinha um grande potencial. Ele participou da Copa do Mundo Sub-17 em 2015, vestindo a camisa 10, quando o Brasil foi eliminado nas quartas de final pela Nigéria. Contudo, seu início como profissional foi complicado até ser emprestado e depois transferido para o Midtjylland.
– Comecei no futsal aos nove anos e fiquei 11 anos no clube. Quando cheguei ao profissional, a realidade não atendeu minhas expectativas. Existe jogador que chega e logo vira ídolo, mas tem aqueles que demoram mais para se desenvolver, como foi meu caso. Eu também subi em um time em reformulação, subindo da Série B, e conseguimos classificar para a Libertadores após quase dez anos. Tive bons momentos, mas também oscilei. Eu olho dentro de mim e vejo que dei meu melhor, mas as coisas não saíram como eu queria, nem como o torcedor esperava. Sou muito grato – afirmou.
– Acho que a maturidade, a mentalidade e a confiança foram questões importantes. Não era maduro o suficiente para lidar com as pressões que enfrentei. Hoje, vendo tudo isso, percebo como o jogador brasileiro sofre com essa pressão, que é comum na profissão, já que na base já estamos expostos a isso. Levei um ano para marcar meu primeiro gol, depois tive boas atuações e outros gols, mas não alcancei a sequência que gostaria, como agora e na Dinamarca.
Recentemente, o Flamengo demonstrou interesse em Evander. Na época, o vice-presidente de futebol do clube, Marcos Braz, chegou a manifestar apoio à contratação do jogador. No final das contas, o Portland Timbers não aceitou a proposta, após ter gasto 10 milhões de euros para trazê-lo do Midtjylland.
– Fiquei muito honrado por ser lembrado, especialmente por um clube como o Flamengo, um dos maiores do Brasil e da América. Tenho todo aquele contexto de ser da base do Vasco, mas não seria o primeiro nem o último a trocar de rival. Era um sonho de carreira, a vontade de jogar pela Seleção, já estive na base, e isso ainda mexe muito comigo. Além de almejar jogar em um grande clube europeu. Sabemos como é difícil sair da MLS para um grande europeu ou para a Seleção, ou para um clube brasileiro grande. Hoje, temos Luiz Araújo, que é um dos destaques do Flamengo, e Almada, que foi comprado por uma quantia gigante. Existe ainda um certo receio sobre como a MLS é vista, mas têm muitos jogadores que se destacam. Quando você vivencia a liga, percebe que não é tão simples se destacar. Acredito que isso depende mais da capacidade do atleta do que da liga em si. Independentemente de onde você está jogando, se há alguém que pode se sobressair, vale a pena abrir os olhos – comentou Evander.
Fonte: ge