O recente lançamento da série “Papo de Craque”, do Globoplay, me fez recordar um fato surpreendente que vivi com Eurico Miranda, uma história que certamente vai surpreender muita gente. Tudo aconteceu em 1991, quando eu fazia parte da equipe de reportagem do Jornal dos Sports, cobrindo as notícias diárias do Vasco, e Eurico exercia o cargo de vice-presidente do clube.
Éramos três jornalistas especializados no Vasco, responsáveis por produzir matérias sobre o clube que ocupassem uma ou duas páginas diárias no jornal Cor de Rosa, em um período em que a área impressa de uma página padrão tinha 33cm de largura (atualmente é de 29,7cm por 56cm de altura).
Geralmente, pela manhã, o saudoso Eliomário Valente ia a São Januário ou ao local onde a equipe estava treinando e já adiantava boa parte das tarefas. Na parte da tarde, eu e Virgílio Neto, que na época usava o nome Sebastião Virgílio, íamos realizar as nossas atividades.
Certamente após um jogo do Vasco, Virgílio deve ter tirado uma folga ou coberto o período do Eliomário pela manhã, pois fui o único a realizar o trabalho em São Januário naquele dia. Como o jornal tinha um fechamento mais cedo, não teria tempo suficiente para ir ao clube e voltar para a redação a fim de escrever as matérias. Então, fui obrigado a passar as informações por telefone (discado!) da sala de imprensa para que um redator as digitasse (em máquinas de escrever!).
Após passar todas as informações, pedi ao redator que solicitasse ao chefe de reportagem (José Luiz Laranjo, Sérgio du Bocage, ou o saudoso Marcelo Reis) que enviasse um carro para me buscar. E então comecei a esperar. E esperei… E esperei…
Já estava desanimando no hall de entrada do estádio quando apareceu Eurico Miranda. Ele ficou surpreso com a minha presença naquele horário e me perguntou:
– Ainda está aqui?
– Sim, acho que o jornal se esqueceu de mim.
– Para onde você está indo?
– Moro no Grajaú, mas o carro do jornal me levaria para o Centro (onde ficava a sede do jornal).
– Vamos lá que te dou uma carona até o Centro. Se eu estivesse indo para a casa do Angioni (Paulo, supervisor do Vasco na época, atualmente diretor executivo do Fluminense) te levaria em casa.
Fiquei surpreso. Não por ter algum problema pessoal com ele, mas jamais imaginaria que um dia Eurico me ofereceria uma carona. E ainda fiquei sabendo que Paulo Angioni morava no mesmo bairro que eu, informação que não foi útil, apenas confirmando depois que foi realmente Eurico quem passou por mim de carro em uma rua do Grajaú.
Estávamos a alguns meses da eleição que aconteceria no início do ano seguinte, mantendo Antônio Soares Calçada na presidência por mais três anos (ele permaneceu por 18 anos, de 1983 ao início de 2001, quando foi sucedido por Eurico). Aproveitei a oportunidade de estar a sós com ele para fazer perguntas sobre a possível candidatura, apoios, entre outros assuntos, garantindo assim material para o dia seguinte.
Normalmente ríspido e sarcástico com os jornalistas de rádio e jornal que frequentavam o clube quase diariamente, Eurico, após a generosidade de me oferecer a carona, mostrou-se simpático nas respostas, um lado que provavelmente poucos conheciam. Tive essa sorte, pelo menos nos 20 ou 30 minutos entre São Cristóvão (hoje, bairro Vasco da Gama) e o Centro do Rio.
Fonte: Blog Eduardo Lamas Neiva