A final da competição representa um marco significativo para o Espérance. A última conquista do clube neste torneio ocorreu em 2019, em uma decisão controversa contra o Wydad Casablanca, do Marrocos. Naquela ocasião, um gol anulado provocou a retirada da equipe marroquina. Após dois meses de disputas judiciais, o Espérance foi declarado campeão.
– Este jogo é o assunto mais comentado por aqui. Encontro torcedores na rua, em restaurantes, shoppings, e eles dizem: “Deixe de lado os outros campeonatos, o nacional, só queremos conquistar este título”. Desde minha chegada, é o pedido constante que ouço. Vamos encarar o maior vencedor, um dos gigantes do futebol africano, mas acredito que temos reais chances – declarou Yan Sasse em entrevista ao ge.
O Al Ahly detém 11 títulos, sendo três deles conquistados nos últimos quatro anos, além de cinco vice-campeonatos. Ademais, disputará sua sétima final da competição em oito anos. Enquanto isso, o Espérance busca sua quinta taça. A equipe tunisiana também foi vice-campeã em outras quatro ocasiões.
Contratado para assumir a camisa 10 do Espérance, Yan Sasse correspondeu às expectativas. Participou dos 12 jogos da campanha (sendo dois da fase eliminatória prévia à fase de grupos), todos como titular, anotou três gols, um deles decisivo na vitória por 1 a 0 sobre o Sundowns, da África do Sul, no jogo de ida da semifinal, e contribuiu com uma assistência.
– Inicialmente, enfrentei muitas dificuldades. Ao chegar, é natural se sentir um pouco intimidado, diante de uma cultura diferente. No entanto, desde o aeroporto fui recebido calorosamente pelos torcedores. Percebi que estava em um ambiente acolhedor, o que me motivou imensamente. Eles depositaram em mim a esperança de que eu poderia contribuir. O apoio dos torcedores foi fundamental para uma adaptação tranquila, o que me permitiu apresentar um bom futebol – afirmou Yan.
O caminho até o Espérance teve momentos inusitados. A primeira oportunidade de voltar a jogar futebol após a lesão na região pubiana, que o afastou por sete meses, surgiu na Nova Zelândia, quando aceitou uma proposta do Wellington Phoenix, equipe que disputa a liga australiana (A-League). Na época, sequer considerou seriamente o telefonema que recebeu. Atualmente, agradece por terem acreditado em sua recuperação.
– Cheguei a cogitar a possibilidade de encerrar minha carreira. Não conseguia andar, sentia dores ao dormir, ao levantar da cama. Não conseguia efetuar um passe de curta distância. Durante esse tempo, dediquei-me ao tratamento particular. Até que surgiu essa oportunidade. Na primeira ligação, estava no shopping com minha esposa, mal dei atenção e pedi para que entrassem em contato depois. Foi algo totalmente aleatório. Mais tarde, ligaram novamente com um tradutor, expliquei minha situação, mencionei a lesão e eles se prontificaram a auxiliar em minha recuperação. Recebi um cuidado especial, retomei a prática esportiva, tive um desempenho satisfatório e encerrei a temporada jogando regularmente. Eles salvaram minha carreira e minha vida – relatou.
A transferência para o Espérance ocorreu em agosto do ano passado, após comprovar plena recuperação na A-League. Novamente, Yan demonstrou certo ceticismo. Consultou Clayton, ex-jogador brasileiro que atuou pela seleção da Tunísia e pelo Espérance, para obter mais informações sobre o país. Após a primeira visita, encantou-se e assinou contrato até 2026.
– Inicialmente, buscamos informações na internet. Estudei a cidade, o clube, para compreender como seriam as condições aqui. Obtive o contato de Clayton, bastante reconhecido por aqui, e ele forneceu detalhes positivos sobre o clube e a cidade. Entretanto, somente após a visita, decidi fechar negócio. Ao chegar, fui conquistado, visualizando que minha família teria um bom padrão de vida por aqui, e concretizei o acordo – comentou Yan, casado há oito anos com Gabriela e pai de Théo, de dois anos.
Apesar de vivenciar o ápice de sua carreira, conforme declarou o próprio Yan, ele ainda almeja novos desafios na Europa ou um retorno ao Brasil. Além do América-MG, também vestiu as camisas do Coritiba, seu clube formador, e do Vasco, onde não conseguiu se afirmar. Ainda teve passagem pela Turquia, defendendo o Çaykur Rizespor.
– Tenho o desejo de atuar na Europa, de expandir meus horizontes, ou até mesmo considerar um país asiático. Em um futuro próximo, retornar ao Brasil, mais experiente e com uma mentalidade distinta. Cheguei muito jovem ao Vasco, ciente de sua grandeza, mas sem compreender a pressão da torcida, sem estar preparado para esse ambiente. Em um dia de atuação ruim, fui vaiado, e perdi toda a confiança. Naquele momento, achei que era melhor sair do que permanecer em um ambiente no qual me sentia cada vez mais perdido. Optei por ir para a Turquia, onde me saí bem, joguei de forma mais leve, confiante, recuperei a alegria. Entretanto, estava emprestado, e o Coritiba solicitou meu retorno em um momento delicado, em meio à pandemia. O clube acabou sendo rebaixado novamente comigo no elenco – explicou Yan.
Por ora, a permanência na Tunísia também está relacionada à Copa do Mundo de 2025. Com sua família totalmente adaptada, residindo próximo a uma das praias de Tunis, ele planeja participar do torneio, que tem atraído diversos brasileiros para mercados periféricos.
– O que mais me cativou foi a Liga dos Campeões da África. Caso não tivéssemos alcançado a semifinal, dependeríamos do ranking para conquistar a vaga. Este era o principal objetivo do clube. Isso, de fato, nos impulsionou – afirmou.
Além de Espérance e Al Ahly, o Wydad Casablanca, do Marrocos, e o Mamelodi Sundowns, da África do Sul, também já garantiram presença no Mundial.
Fonte: ge