O Estabelecimento de Ensino Vasco da Gama, localizado em São Januário, tem se empenhado nos últimos anos, além da educação tradicional, em promover uma conscientização com os estudantes, predominantemente do sexo masculino.
Diante das condenações por abuso sexual de Daniel Alves e Robinho, por exemplo, a instituição irá ampliar nas salas de aula a discussão sobre masculinidade.
– Temos um cronograma de palestras que é ajustado conforme os temas em voga. Também abordamos essas questões nas aulas e nas conversas do cotidiano. Sempre ressaltando a eles que o Vasco é o clube da inclusão – expõe em entrevista ao ge Clarissa Arteiro, responsável pela área de Responsabilidade Social e História do clube associativo.
– Estamos atentos, por exemplo, para coibir o preconceito disfarçado de “brincadeira”. Procuramos modificar essa situação com exemplos do dia a dia. É fundamental abordar de forma clara termos como estupro, assédio, importunação, muitas vezes explicando de maneira didática. Nos próximos dias, abordaremos os casos de Daniel Alves e Robinho – completa ela.
A escola, que é administrada pelo clube em parceria com a SAF, atualmente atende cerca de 140 estudantes entre jogadores da base e atletas de outras modalidades. Dentre eles, apenas duas são do sexo feminino.
– Oferecemos total apoio a elas, e é essencial os meninos aprenderem a conviver com mulheres, visto que a convivência deles é majoritariamente com homens, às vezes de outras gerações e com diferentes discursos. Nosso objetivo é modificar essa mentalidade – destaca Clarissa, que acrescenta:
– É crucial a educação desde cedo para que possam identificar e reprimir outras condutas inadequadas por parte de homens, atletas, amigos, ao perceberem algo errado. Eles terão a capacidade de reconhecer que não é correto. Esperamos uma grande maturidade deles dentro de campo, mas às vezes esquecemos que estão ali desde os 6 anos vivendo para o esporte, em um ambiente praticamente masculino.
“Rapazes contra o Machismo”
Um dos colaboradores do Vasco da Gama é Marcelo Correia, um dos criadores da “Coleção MaM Meninos contra o Machismo”. No ano passado, ele conduziu uma série de encontros com os alunos da escola do clube.
– Abordo abertamente com eles temas considerados tabus. Quando se sentem à vontade, as mudanças começam. Falamos sobre masculinidade, paternidade, tudo isso desconstruindo a imagem do homem imposta pela sociedade. Identificamos as violências, trabalhamos a sexualidade, discutimos a cultura do assédio e do estupro – relata Marcelo ao ge.
O clube busca expandir o assunto para além das salas de aula e, neste mês, Marcelo se reuniu com a comunidade da Barreira do Vasco em São Januário. Os pais levaram seus filhos para uma atividade de contação de histórias que aborda o tema da masculinidade.
– Cheguei com unhas pintadas, girassóis na mão. No início, fizeram piadas, mas no desfecho todos estavam com as flores nas mãos, me auxiliando na narração da história. O propósito é tirar o jovem desse ambiente de preconceitos ao qual está inserido desde sempre – declara Marcelo, que salienta a importância de preparar os rapazes para se posicionarem e contribuírem na educação de familiares e amigos:
– O homem que agride uma mulher faz parte do nosso convívio, é alguém de nossa família, é amigo de alguém. Os homens são incentivados a isso desde a infância. Todo menino cresce em um ambiente já contaminado. Meu trabalho é conscientizar sobre o papel masculino. A criança, muitas vezes, nunca viu um homem discutindo sobre esses assuntos.
O Vasco planeja uma nova série de encontros entre Marcelo e os alunos da escola ao longo do ano de 2024. O autor também é cantor e compositor, utilizando suas músicas para abordar temas como masculinidade e parentalidade. Abaixo, um trecho da letra da música “Cansei de Ser Homem”:
Se isso é ser homem, eu cansei
Eu quero mais de mim
Cansei
De enterrar tudo que me passou
Cansei é de calar a minha dor
Cansei
De machucar quem não tem nada a ver
Cansei de ser e de fazer sofrer
Fonte: ge