O Colégio Gigante da Colina, localizado em São Januário, tem se dedicado recentemente não apenas à educação convencional, mas também a um trabalho de sensibilização com os estudantes, em sua maioria homens.
Diante das condenações por estupro de Daniel Alves e Robinho, por exemplo, a instituição pretende ampliar nas salas de aula a discussão sobre virilidade.
“Temos um cronograma de palestras que varia de acordo com os temas em voga. Abordamos isso também durante as aulas e nas conversas cotidianas. Sempre ressaltando a eles que o Vasco é o time da diversidade”, explica à ge Clarissa Arteiro, diretora de Responsabilidade Social e História do clube coletivo.
“Ficamos atentos, por exemplo, para coibir o preconceito disfarçado de ‘brincadeira’. Vamos mudando isso com exemplos do dia a dia. É fundamental abordar abertamente os termos, enfatizar que é estupro, que é assédio, que é importunação, explicar de maneira didática. Nos próximos dias, abordaremos os casos de Daniel Alves e Robinho”, complementa ela.
Em reportagem veiculada no Fantástico no último domingo, o Vasco é mencionado como referência devido ao trabalho de conscientização com a base. Em 2022, Clarissa, na época coordenadora de Integridade e Conformidade do clube, proferiu palestra para os jogadores da equipe profissional.
A escola, gerenciada pelo clube em parceria com a SAF, atende atualmente cerca de 140 estudantes, entre jovens atletas da base e praticantes de outras modalidades. Deste total, apenas duas são do sexo feminino.
“Oferecemos todo o apoio a elas, e é relevante os rapazes aprenderem a interagir com as mulheres, pois convivem basicamente com homens, às vezes homens de outras gerações, com mentalidades diferentes. Nossa missão é alterar essa cultura”, afirma Clarissa, acrescentando:
“É crucial educá-los desde pequenos para que saibam identificar e reprimir outros homens, atletas, amigos, ao perceberem alguma conduta inadequada. Eles terão embasamento para compreender o que não é aceitável. Esperamos deles uma grande maturidade em campo, porém muitas vezes esquecemos que estão ali desde os 6 anos dedicados ao esporte, em um ambiente praticamente masculino.”
“Rapazes contra o Machismo”
Um dos colaboradores do Vasco da Gama é Marcelo Correia, um dos responsáveis pela “Coleção MaM Rapazes contra o Machismo”. No ano passado, ele conduziu uma série de encontros com os alunos do colégio do clube.
“Converso francamente com eles sobre temas considerados tabus. Quando se sentem à vontade, as mudanças começam. Tratamos de virilidade, paternidade, tudo isso desmistificando a imagem do homem imposta pela sociedade. Classificamos as violências, discutimos a sexualidade, abordamos a cultura do assédio e do estupro”, relata Marcelo à ge.
O clube busca levar o assunto para fora das salas de aula e, neste mês, Marcelo se reuniu com a comunidade da Barreira do Vasco em São Januário. Os pais levaram seus filhos para uma sessão de contação de histórias que trata da virilidade.
“Cheguei com unhas pintadas, girassóis na mão. No início, eles fazem brincadeiras, mas ao final estão todos com as flores nas mãos, me ajudando a contar a história. A ideia é tirar o garoto desse ambiente de preconceitos no qual está inserido desde sempre”, declara Marcelo, enfatizando a importância de preparar os rapazes para se posicionar e contribuir com a educação de familiares e amigos:
“O homem que violenta uma mulher faz parte de nossa vida, é alguém de nossa família, é amigo de alguém. Os homens são incentivados a isso desde a infância. Todo garoto nasce em um ambiente já envenenado. Meu trabalho é conscientizar a respeito do papel do homem. Muitas vezes, a criança nunca viu um homem falando sobre isso.”
O Vasco planeja novos encontros entre Marcelo e os alunos do colégio ao longo de 2024. O escritor também é cantor e compositor e utiliza suas músicas para abordar temas como virilidade e parentalidade. Abaixo, um trecho da letra da canção “Cansei de Ser Homem”:
Se isso é ser homem, cansei
Quero mais de mim
Cansei
De enterrar tudo o que se passou por mim
Cansei de calar minha dor
Cansei
De magoar quem não tem culpa
Cansei de ser e fazer sofrer
Fonte: ge