O tom de voz suave nas entrevistas e o sotaque carregado de quem acabou de chegar ao Rio de Janeiro são os mesmos de Ramón. No campo, percebe-se a mesma presença forte, de orientação constante, com uma dose generosa de emoção. Emiliano Díaz, assistente técnico do Vasco, complementa o trabalho do pai de forma natural – uma grande estratégia de futebol, que será desafiada novamente neste domingo, às 16h, quando o time cruz-maltino enfrenta o Santos, na Vila Belmiro, em um jogo decisivo para suas aspirações de seguir subindo na tabela e se manter longe da zona de rebaixamento do Brasileirão.
A cada dia, a ideia de união entre Ramón e Emiliano é mais evidente. Nas redes sociais, os torcedores do Vasco gostam de dizer que têm dois técnicos. Na beira do campo, é possível entender por que. Ambos estão em constante movimento, incentivando os jogadores, discutindo ideias de jogo e comemorando gols.
Emiliano é o filho mais velho do comandante vascaíno. Com 42 anos e nascido na Itália, quando Ramón jogava no Napoli, ele teve uma carreira discreta como jogador, aposentando-se aos 28 anos para se tornar assistente de seu pai. A primeira experiência da dupla foi no Independiente, da Argentina, em 2011. Desde então, essa parceria não foi desfeita e só cresceu.
No Vasco, pai e filho finalmente realizam um sonho em comum: trabalhar no futebol brasileiro. Sua passagem-relâmpago pelo Botafogo, em 2020, deixou uma sensação amarga – Ramón não permaneceu nem um mês no cargo devido a problemas de saúde. O convite para o Vasco foi muito bem recebido, também por conta do desejo de experimentar um cenário diferente em uma segunda oportunidade. Em agosto, quando comandou a equipe na vitória por 1 a 0 sobre o Atlético-MG (enquanto Ramón estava suspenso), Emiliano elogiou o Maracanã:
— Este é o templo do futebol. Viemos para cá para vivenciar essas coisas. Somos apaixonados pelo futebol brasileiro e viver isso hoje é um sonho. A torcida do Vasco foi algo emocionante. Foi um sonho realizado e tivemos um resultado positivo.
Entre suas qualidades como técnico, Ramón Díaz é conhecido por ser um motivador, alguém capaz de recuperar o ambiente. Emiliano, por sua vez, é aquele que busca os jogadores individualmente, seja para cobranças ou elogios, mantendo o elenco de mais de 30 homens motivados na medida do possível.
Não é à toa que a dupla vem testando opções no elenco, dando oportunidades para jogadores que estão trabalhando bem, mantendo assim uma competição interna acirrada. As intervenções do assistente, ex-jogador de uma geração mais próxima dos atletas atuais, ajudam a manter a coesão no vestiário vascaíno. Ele possui uma relação especial com Vegetti, por exemplo, destaque desta temporada com seis gols até o momento.
Emiliano também trabalha constantemente nos discursos pré-jogo no vestiário. No jogo contra o Coritiba, ele valorizou o uniforme em homenagem aos Camisas Negras que a equipe estrearia naquela noite.
— Sabe qual é o significadp disso? Resistência. Contra tudo e contra todos. Este grupo precisa honrar essa camisa. São 100 anos de espera por esse momento. Vocês têm o privilégio de vivê-lo — exclamou nos bastidores.
Outra frase impactante do assistente se tornou um lema da torcida: “Se eles querem que desistamos, terão que nos matar a todos”, escreveu Díaz em seu perfil no Instagram após a derrota para o Palmeiras, marcada por uma polêmica de arbitragem. Na mesma postagem, ele enfatizou o orgulho dos jogadores.
Em campo, Emiliano também desempenha um papel tático fundamental ao fornecer orientações detalhadas aos jogadores, como explica o jornalista chileno radicado no Rio, José Tomás Fernández, que escreve para o jornal espanhol AS e para a imprensa argentina:
— Se tivesse que resumir o papel de Emiliano, seria o de instruir os jogadores de forma mais específica. Uma ou duas funções que devem desempenhar durante o jogo. Ao contrário do técnico anterior do Vasco, Maurício Barbieri, que era um pouco mais obsessivo com as instruções e passava muitas ideias. Nesse sentido, Ramón e Emiliano são mais precisos.
A relação entre pai e filho também envolve apoio emocional. Quando Ramón deixou o Al-Hilal devido a problemas pessoais e retornou para a Argentina em maio, Emiliano assumiu a equipe nas rodadas restantes da temporada saudita. Semanas depois, ele falou em nome do pai em um momento em que ambos estavam de luto pela morte de uma das noras de Ramón. “Ele está sempre firme”, disse ao Clarín.
— Talvez, a energia de Emiliano tenha permitido que Ramón, apesar de sua idade (64 anos), permanecesse muito ativo e motivado com a profissão. Ramón admira muito Emiliano. E, é claro, Emiliano também o admira — complementa Fernández.
Neste domingo, o Vasco não contará com o atacante Rossi, que sentiu uma lesão na parte posterior da coxa direita. Gabriel Pec deve substituí-lo. Já o Santos segue sem o atacante Mendoza, ainda em tratamento de uma distensão na panturrilha direita.
Fonte: Extra
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