Uma despedida à distância para diminuir a saudade e relembrar os bons momentos.
Foi no Leão, inclusive, que viveu seus últimos momentos como profissional. Diego Souza defendeu o Sport em 11 jogos na última Série B, marcou um gol e pendurou as chuteiras. A decisão foi amadurecida nas férias e anunciada em entrevista ao ge:
– A partir de agora, eu só vejo futebol pela televisão, no estádio. Vou torcer pelos meus amigos, mas estou decidindo parar de jogar. Vou curtir um pouco mais os meus filhos, a minha família. Foi bom, gosto bastante da minha profissão, mas decidi que dentro de campo, agora só na brincadeira.
Revelado pelo Fluminense, Diego defendeu ainda Benfica, Flamengo, Grêmio, Palmeiras, Atlético-MG, Vasco, Al Ittihad, Cruzeiro, Metalist, Sport, São Paulo e Botafogo. Desde a estreia aos 18 anos vestindo tricolor até o adeus, foram 943 jogos e 275 gols. Trajetória que o levou a defender a Seleção em sete partidas com dois gols marcados.
– Teve momentos bons para caramba, teve momentos ruins, mas eu sempre estava lá. Eu nunca corri da minha responsabilidade, nunca deixei de estar dentro de campo, até porque era uma coisa que eu sempre gostava muito de fazer. Ainda mais quando era jogo grande. Quando era jogo grande, aí que eu gostava de estar dentro de campo, porque era ali que eu gostava de jogar bem.
Agora aposentado, Diego Souza ainda não tem planos do que vai fazer profissionalmente. O futevôlei e as viagens com a família são prioridade, assim como a torcida pelos três clubes que mais tocaram seu coração. No último domingo, por exemplo, ele já foi ao Maracanã na companhia do filho Davi, vascaíno fanático, no clássico com o Flamengo.
– Eu, com certeza, até o resto da minha vida vou assistir jogo do Vasco, do Grêmio e do Sport.
– Esses três clubes, não vai ter como. Jogos importantes, finais, alguma coisa eu vou sempre ver. Aqui no Rio com mais frequência, mas com certeza em Porto Alegre e Recife torcendo por essas equipes e podendo festejar muitas e muitas vezes. Até porque, meu filho é vascaíno doente, está agora com a camisa do Vasco, e sabe tudo de futebol. Com certeza vai ser o meu companheiro para curtir como torcedor.
Em longa conversa com o ge, Diego Souza contou com orgulho de cada passagem das duas décadas como jogador profissional. Se declarou ao Vasco em especial, detalhou o tão falado lance cara a cara com Cássio, do Corinthians, na Libertadores de 2012, escolheu o gol mais bonito e não titubeou ao apontar o melhor treinador:
– Papai Renato é fora (de série). Esse fica aqui e os outros disputam entre eles. Treinador igual ao Renato não tem.
Confira a íntegra da entrevista:
Quais são seus planos? O torcedor vai te ver nos gramados esse ano? Você vai parar? O que você decidiu?
A partir de agora, eu só vejo futebol pela televisão, no estádio. Vou torcer pelos meus amigos, mas estou decidindo parar de jogar. Vou curtir um pouco mais os meus filhos, a minha família. Foi bom, gosto bastante da minha profissão, mas decidi que dentro de campo, agora só na brincadeira.
Foi difícil esse processo de decisão?
Olha, eu já vinha me preparando há algum tempo, e o ano passado facilitou bastante para decidir parar de jogar. Na minha carreira inteira, eu nunca tive lesões, nunca fiquei mais de um mês parado. E, ano passado, eu sofri demais com lesões, com o meu joelho que eu tinha operado e com uma hérnia que eu já vinha carregando há algum tempo. Isso tudo fez com que eu parasse para pensar. Ainda bem que foi no final, mas está tudo bem e decidi parar de jogar com a cabeça bem tranquila.
Você volta ao Sport e foi um ano muito difícil. Você é um grande ídolo lá. Eu queria saber como foi viver esse ano de Série B sem conseguir o acesso. Isso de alguma forma te fez acelerar também esse processo de amadurecimento da decisão pela aposentadoria?
Não, isso não tem nada a ver. Eu só tenho a agradecer por tudo que eu vivi com a camisa do Sport, toda a recepção que eu tive nessa minha volta ao Recife. Mas todos lá sabiam que as minhas condições de campo eram um pouco mais difíceis. Eu sempre fui bem sincero, muito franco, e eu estava mais por presença de surfar naquela onda do Sport, de poder subir para primeira divisão. A segunda divisão é sempre muito complicada, muitos times, muitos jogos. Eu joguei até mais do que eu esperava. Tive que atuar em situações que não eram mais ou menos o combinado. Mas foi tudo bem. Não conseguiu o acesso, que é uma coisa que acontece no futebol. As frustrações aparecem. Não era o que a gente gostaria, mas isso acontece o tempo inteiro no futebol. Nem tudo é da maneira que a gente planeja. Foi onde eu terminei, onde eu gostaria de ter realmente voltado a vestir aquela camisa por tudo que aconteceu, uma história bonita. E eu já estava decidido, independentemente do que fosse acontecer, a parar de jogar e seguir agora a minha vida como uma pessoa normal, um pai de família.
A gente sabe que a torcida do Sport quer muito que você faça um jogo de despedida vestindo a camisa do clube. Isso é uma coisa que está nos seus planos? Você tem conversado com o clube sobre essa possibilidade?
Olha, não. Eu não conversei com ninguém ainda. Só quem sabe dessa situação, é até a primeira vez que eu falo sobre isso, é meu pai, minha família, meu empresário. Não tem muito na minha cabeça dessa situação de fazer uma despedida. Se acontecer vai ser legal, mas se não acontecer também vai continuar bem tranquilo. Até porque foi muito legal o que eu vivi dentro de campo e isso ninguém vai apagar, isso vai ficar na minha cabeça pra sempre.
Diego, 20 anos de carreira não são 20 dias. Dá para resumir, para tentar definir o que foi a sua carreira dentro de campo?
Assim… se você parar pra analisar tudo é muito engraçado, é difícil, porque desde de criança a gente tem que abdicar de tudo, né? Falar assim é… porque… porque vem lembranças de tudo que… Porque vai lembrando de certas coisas, de tudo que me fez chegar até aqui, então isso… Nossa, vai ser difícil falar (risos segurando o choro). Vai ser difícil para falar, porque… a gente acaba abdicando da nossa vida particular, de família, de amigos, de tudo. E entra nesse mundo de futebol, que é uma vida totalmente à parte. Quando a gente consegue superar isso tudo, que a gente para para pensar em tudo que a gente abdicou, tudo que a gente teve que dizer não… desde 16 anos, vai jogar bola com os amigos, não pode, tem que dormir cedo, porque tem que acordar cedo para treinar, tem que estudar, tem que fazer isso, tem que fazer aquilo.
Desde muito novo você aprende a lidar com a responsabilidade e com esse profissionalismo, que só assim você consegue ter sucesso na sua carreira. Então não é fácil, ser um jogador de futebol de alto nível é muito trabalhoso. E a gente às vezes vê algumas críticas a alguns atletas, mas só quem sabe é quem passa, de tudo que tem que abdicar, tudo que tem que trabalhar e absorver sozinho, muitas vezes, e realizar. Porque você pode ser o maior profissional, ou o melhor, pessoa de grupo, o que mais treina, mas quando chega na hora do jogo, se não conseguir colocar para fora, as coisas não caminham da maneira que você pensou e que você trabalhou para aquilo. Foi muito difícil, mas valeu muito a pena, porque com isso eu consegui mudar o patamar da minha família. Porque a gente vem de uma situação de baixo, mas eu sou muito feliz e muito grato de tudo que aconteceu na minha
carreira.
O Diego moleque, que sonhava ser jogador de futebol, imaginava uma carreira como essa?
Cara, muito complicado. Muito complicado até porque a gente só tem o sonho, a força de vontade, a fé (emocionado). E a gente foi buscando, a gente foi superando obstáculos, e quando foi ver, as coisas aconteceram. E, graças a Deus, eu tive a personalidade, a vontade e a determinação de vencedor. E consegui passar por cima de tudo que estava na minha frente naquele momento para me tornar um Diego Souza.
Uma coisa que me chamou a atenção: quando você estava falando que decidiu parar de jogar, você falou “agora eu vou ser uma pessoa normal, um pai de família”. Você sentia falta de ser essa pessoa nos últimos anos?
Sem dúvida, porque meu filho ia jogar bola, todos os pais estavam, e eu não. Aniversário do meu filho, muitas das vezes eu jogando ou viajando. Aniversário da minha filha, eu jogando ou viajando. Aniversário dos meus pais, eu só falava por telefone, a trabalho. Então você realmente fica bem distante das pessoas que querem o seu bem, das pessoas que sempre te ajudaram e que, naqueles momentos de felicidade… claro, você está buscando melhor pra todo mundo, todo mundo sabe da responsabilidade que eu tinha, mas a gente acaba… pros meus filhos acaba sendo ruim, porque eles não entendem. O Davi já entende, já tem 15 anos. A Manuela tem 12. Mas quando é novo, independentemente de você estar trabalhando, eles não entendem porque toda hora tem ausência do pai, então, é complicado.
Diego, você foi um cara que, só aqui no Brasil, passou por dez clubes gigantes. E impressiona que mesmo às vezes não ficando tanto tempo em um time, você conseguiu criar vínculos e criar histórias muito bacanas com muitos times diferentes. Como é que um jogador consegue isso?
Olha, eu sempre fui de verdade. Eu sempre assumi as minhas responsabilidades e sempre fui um jogador que independentemente do time que eu estava no momento, eu sempre joguei muito. Nunca fiquei machucado, sempre estava dando a cara tapa. Teve momentos bons para caramba, teve momentos ruins, mas eu sempre estava lá. Eu nunca corri da minha responsabilidade, nunca deixei de estar dentro de campo, até porque era uma coisa que eu sempre gostava muito de fazer. Ainda mais quando era jogo grande. Quando era jogo grande, aí que eu gostava de estar dentro de campo, porque era ali que eu gostava de jogar bem. Era naquele momento que você mostrava sua força e realmente mostrava o seu valor. E eu gostava desse tipo de jogo, porque era ali que você realmente olhava para o outro lado e falava “ali é bom? Mas eu também sou! Vamos ver hoje o que vai acontecer”.
Você também gostava de um clima de rivalidade? Porque é curioso se a gente notar que você passou pelos quatro grandes do Rio, pelos dois grandes de BH, por dois grandes de SP… você gostava de viver essas rivalidades, essas provocaçõezinhas, às vezes?
Olha, eu nunca fui de falar muita coisa, mas eu gostava dessa rivalidade, sim. Gostava dos clássicos, jogos mais marcantes, mais pesados, onde tinha muita torcida, onde você acorda 9h para tomar café e já vê aqueles zunzunzum e o jogo é só 22h. Então aquela adrenalina de jogos bons, isso sem dúvidas vai deixar muita saudade.
Era isso que eu ia te perguntar agora. Você falou muito das coisas que você perdeu, que você teve que abdicar enquanto jogador. Do que você acha que você mais vai sentir falta agora como ex-jogador?
Sem dúvida, esses jogos mais marcantes, esses clássicos. Eu levei meu filho agora no Maracanã no jogo entre Vasco e Flamengo. E aquele jogo é um jogo que para mim vai ser marcante, porque eu fiz muitos gols, joguei bem, e foi um clássico que eu tenho mais vitórias do que derrotas. Então vai ser um jogo que sem dúvida, toda vez que tiver esse tipo de clássico, vai dar aquela saudade, porque é um jogo marcante que a gente viveu muito. Como os Gre-Nais também. O Gre-Nal nem se fala. A maior rivalidade do futebol brasileiro sem dúvida é o Gre-Nal. São coisas que você vê que são bizarras, que acontecem antes dos jogos e como fica a semana da cidade. Isso sem dúvida deixa muita, muita saudade pra quem para de jogar futebol.
Você viveu muitos clássicos estaduais, o Gre-Nal é o mais impressionante?
Sem dúvidas. O Gre-Nal para mim é o clássico que você pode classificar como número um, é a maior rivalidade do futebol brasileiro.
Você começa a carreira no Fluminense como volante, vai avançando, avançando e termina como centroavante. Era uma coisa que você esperava que pudesse acontecer?
Não. Eu jogava de volante e às vezes de primeiro volante, de segundo, e fui ganhando terreno. Quando eu subi para o profissional, não tinha muito isso. Quem jogava no meio, tinha que jogar de lateral, de meia, marcando individual… A gente só queria um espaço para mostrar o nosso valor, né?! Hoje em dia, tudo é muito mais apresentável. A Copa São Paulo aparece na televisão, tem Brasileiro no Sportv… Então, quando o menino sobe, todo mundo já conhece as características, onde é bom. Antes, ficava mais no zum-zum-zum de que é bom jogador, mas não viam e não tinha a dimensão de hoje. Eu subi para o profissional e tinha o Romário, no ano seguinte o Edmundo, Roger, Diniz jogava, Jorginho jogava, Magno Alves, Roni, um monte de jogador consagrado e a gente buscando o nosso espaço. Então, do meio para frente era muito difícil jogar por existir grandes jogadores. Jogar do meio para trás para correr por eles, é mais fácil de acontecer. O próprio Carlos Alberto brinca: “Você virou centroavante, mas você corria para mim”. E era verdade. Eu jogava de volante e queria ganhar espaço, ter oportunidades.
Depois, tinha gente correndo para você?
Eu no Grêmio, nesses últimos anos, brincava com os meninos que tinham que me ajudar, correr para mim, porque a minha quilometragem já rodou muito. Eles tinham que me ajudar (risos).
Qual foi o maior craque que