O jogador uruguaio Segundo Villadoniga detém o recorde de mais gols marcados por um estrangeiro na história do Vasco. Com 83 gols em 116 partidas, o ex-atleta, no entanto, não é muito conhecido entre os torcedores.
Nesta matéria, o ge apresenta as origens em Montevidéu desse jogador histórico do clube durante as décadas de 1930 e 1940. “El Architecto”, apelido que recebeu devido à habilidade em criar jogadas, ou simplesmente “um craque esquecido”, como alguns uruguaios costumam dizer.
– Ele foi um grande craque esquecido. Segundo relatos, foi um dos melhores jogadores do Peñarol na década de 30. Não à toa, continuou sua carreira no Brasil, onde foi ídolo no Palmeiras, conquistou vários títulos, e teve uma passagem de sucesso pelo Vasco – declara Daniel Quintana, coordenador geral da comissão de história do Peñarol.
No Museu do Peñarol, onde Daniel trabalha, o ge encontrou outro Daniel. Uma entrevista com um tom de saudosismo. Daniel Villadoniga, sobrinho do craque uruguaio que, além de atuar pelo Vasco, brilhou no Peñarol e no Palmeiras, compartilhou curiosidades sobre o tio, que era irmão de sua mãe. O sobrinho o visitou algumas vezes no Brasil, país onde o ex-jogador, falecido em 2006, escolheu residir após encerrar a carreira.
– Ele escolheu viver em São Paulo, próximo ao Palestra Itália, o estádio do Palmeiras. Lembro-me muito bem da rua em que morava. Certa vez, quando ele já estava com quase 60 anos, jogamos bola. Apareceu uma bola, ele chutou, e eu fiquei chocado. Foi um verdadeiro petardo. Seus chutes assustavam, eram muito fortes, ele já havia me avisado sobre isso – recorda Daniel, hoje com 65 anos.
Após encerrar a carreira, Villadoniga passou a jogar bocha no clube paulista, um hobby que cultivava. Curiosamente, ele foi sepultado no túmulo oficial do Palmeiras em 2006, quando faleceu aos 90 anos de idade.
“El Architecto” atuou no Vasco de 1938 a 1942, período em que conquistou o Torneio Internacional Luiz Aranha 1940 e o Troféu da Paz 1942. Este último torneio marcou a estreia de Ademir de Menezes, um dos maiores ídolos da história do clube.
Segundo Daniel Villadoniga, seu tio nasceu em Villa del Cerro, um bairro humilde de Montevidéu, na época, e cresceu ao lado de nove irmãos. Filho de imigrantes espanhóis, ele foi o único que alcançou sucesso no futebol.
– Na família, apenas ele e um dos nove irmãos se tornaram jogadores. Ele, no Peñarol, e o irmão, no Nacional, mas devido a uma lesão, o irmão teve que abandonar a carreira. Villadoniga teve a sorte de se destacar no Penãrol, com histórias famosas dos três gols marcados em um clássico, e três Campeonatos Uruguaios – relata Daniel.
No Peñarol, foi campeão uruguaio por três vezes, em 1935, 1936 e 1937, durante as três temporadas em que atuou pelo clube. Em seguida, transferiu-se para o Vasco após se destacar na Copa América de 1937, onde marcou um gol contra o Brasil, em uma derrota por 3 a 2, no primeiro minuto de jogo.
– Esta é a taça do Campeonato Uruguaio de 1936, conquistado pelo Peñarol, e está aqui porque o clube foi campeão por cinco vezes. A participação de Villadoniga foi fundamental nas temporadas de 1935, 36 e 37, ano em que o clube se consagrou campeão – destaca Eduardo Cicala, integrante da comissão de história do Peñarol.
Além do tricampeonato uruguaio, o meio-campista conquistou a Copa Atlântico de 1947, torneio no qual o Vasco também participou. Esta foi a primeira excursão da equipe brasileira pela América do Sul, e o ge traz mais detalhes sobre a história dessa competição, que antecedeu o Sul-Americano de 1948, o primeiro título internacional do Vasco.
Em suas duas passagens pelo Peñarol, Villadoniga disputou 78 jogos e marcou 33 gols. Apesar de ter sido importante para o Penãrol na década de 30, quando o Uruguai conquistou a Copa do Mundo de 1930 e a Copa América de 1935, Villadoniga fez história e se identificou mais no Brasil.
– Ele era muito querido e admirado no Brasil. Ficava impressionado com a maneira como o tratavam. Chamavam-no de “Don Villa” quando ele passava – relembra o sobrinho Daniel, acrescentando:
– Sua passagem pelo futebol brasileiro, no Rio de Janeiro, pelo Vasco — onde é o estrangeiro com mais gols — e em São Paulo, pelo Palmeiras, onde atuou por cinco anos e encerrou a carreira, foi muito significativa.
– Na década de 1990, fui visitá-lo no conjunto habitacional situado no Parque Antártica, na cidade de São Paulo, onde hoje está localizado o Allianz Parque. Muito cortês e amigável, ele me recebeu, respondeu às minhas perguntas e esclareceu que seu sobrenome era com “g”, e não “Villadonica”, como era erroneamente divulgado na mídia naquela época – relata Richard Gutiérrez, da Comissão de História do Peñarol.
Villadoniga criou uma conexão maior com o Palmeiras do que com o Vasco, mas ficou marcado na história do clube carioca como seu principal goleador estrangeiro, com 40 gols a mais do que Cano, atualmente no Fluminense, o segundo colocado. Sua passagem por São Januário foi especial para Villadoniga, conforme relata o sobrinho Daniel.
– Ele me contou que viveu momentos maravilhosos no Rio de Janeiro. Nunca entendi por que ele deixou a cidade. Já tinha sua esposa, mas não sei o que aconteceu.
Conforme um artigo do Jornal dos Sports da época, disponível no Acervo Nacional da Biblioteca Nacional, Villadoniga foi afastado e saiu do Vasco porque o alto custo dos contratos “não compensava” mais.
Assim, Villadoniga deixou o Vasco e foi fazer história no Palmeiras, onde figura entre os cinco principais artilheiros estrangeiros, com mais jogos e títulos na história do clube paulista. Em São Januário, permanece como o estrangeiro com mais gols pelo clube de forma isolada.
Fonte: ge
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