A Resposta Histórica, o feito mais emblemático do Club de Regatas Vasco da Gama, completa um século (07 de abril de 2024). Para celebrar esse marco na luta contra o racismo no futebol brasileiro, apresentamos nesta matéria detalhes da trajetória do homem que com sua assinatura na Carta que mudou o rumo do Vasco e do futebol do Brasil. Os relatos a seguir são baseados em uma entrevista com José Luís Prestes de Macedo Soares*, bisneto de José Augusto Prestes, enriquecidos com materiais bibliográficos.
A entrevista ocorreu em Petrópolis, no dia 23 de setembro de 2019. Zé Luís, como era chamado, compartilhou memórias preciosas da vida e legado de seu bisavô. Além disso, herdou o acervo de arte e a biblioteca de Prestes. Com base nessa fonte valiosa, temos o privilégio de contar essa história, detalhada no livro “Vasco: o clube do povo – uma polêmica com o flamenguismo (1923-1958)”.

Engajamento em Portugal na juventude
Nascido em Lisboa em 1875, José Augusto Prestes era um engenheiro com experiência internacional. Em sua juventude, estudou nos EUA e retornou a Portugal em um momento de turbulência política. Abraçando o ideal republicano em meio à crise da Monarquia Constitucional, Prestes participou de movimentos revolucionários em Portugal antes de se mudar para o Brasil no final do século XIX.
Em terras brasileiras, Prestes se destacou como engenheiro, realizando projetos inovadores. Sua contribuição mais marcante foi a inauguração da primeira fábrica de gelo do Brasil em 1906, mudando o cenário de consumo no país. A fábrica, localizada em frente à sede do Vasco, tornou-se um marco na história da tecnologia brasileira da época.
Após o sucesso com a fábrica de gelo, Prestes fundou uma metalúrgica e, posteriormente, construiu o primeiro veículo brasileiro totalmente produzido no país. Seu automóvel, o Bandeirante, conquistou reconhecimento internacional e simbolizou o pioneirismo de Prestes na indústria automotiva.
Presidência no Club de Regatas Vasco da Gama
Em 1924, José Augusto Prestes assumiu a presidência do Vasco da Gama, marcando uma era de transformações no clube. Sua gestão ficou eternizada pela histórica Resposta Histórica, um manifesto contra o racismo e a exclusão no futebol brasileiro. Prestes defendia a igualdade e a justiça social, princípios que guiaram sua atuação no Vasco.
O Vasco, sob a liderança de Prestes, se tornou um símbolo de resistência, abraçando causas antes negligenciadas pelos demais clubes. Sua coragem em confrontar a discriminação e tomar decisões firmes diante de pressões externas impulsionou o prestígio e a popularidade do clube.
Após seu mandato no Vasco, Prestes se afastou das atividades cotidianas do clube para focar em questões familiares e profissionais. No entanto, seu legado perdura como um exemplo de visão, coragem e comprometimento com valores democráticos e inclusivos.
* José Luís Prestes de Macedo Soares faleceu durante a pandemia.
Leandro Fontes
Professor de geografia, colunista da Revista Movimento, do Expresso Cascadura e autor do livro Vasco: o clube do povo – uma polêmica com o flamenguismo (1923-1958).
Fonte: Ludopédio