O Vasco entrou com um pedido na Justiça hoje para tentar jogar no Maracanã contra o Atlético-MG no domingo. Mesmo se não tiver sucesso, o clube está proibido por uma decisão judicial de ter torcedores em seu estádio, São Januário.
Qual é a razão pela qual o Judiciário tomou essa decisão sobre a Colina? O ge explica a questão que irrita os torcedores e dirigentes vascaínos, como o vice-presidente Carlos Roberto Osório.
– Sem a renda dos ingressos, temos um prejuízo econômico. Além disso, toda a economia ao redor de São Januário é prejudicada. Toda a região depende da economia dos jogos do Vasco. Isso não podemos aceitar – disse Osório.
A polêmica começou no jogo contra o Goiás, no dia 22 de junho. Logo depois da derrota por 1 a 0, torcedores do Vasco lançaram sinalizadores no campo e foram contidos com spray de pimenta pela polícia. Poucos minutos depois, houve tumulto fora do estádio, com uma tentativa de invasão.
No relatório da partida, o árbitro Jean Pierre Gonçalves Lima relatou que o carro do assistente Marcelo Van Gasse, que estava estacionado em São Januário, “foi danificado por pedras sendo amassadas, arranhadas e quebradas”.
No dia seguinte ao jogo contra o Goiás, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva puniu o Vasco com o fechamento de São Januário por 30 dias. Mais tarde, no julgamento realizado em 5 de julho, o tribunal impôs uma punição de quatro jogos sem torcida, que já foi cumprida nos confrontos contra Cuiabá, Cruzeiro, Athletico-PR e Grêmio.
No entanto, o Vasco ainda não pode permitir a presença de torcedores em seu estádio, por decisão da Justiça do Rio de Janeiro. Em 23 de junho, no dia seguinte à derrota para o Goiás, o juiz Marcello Rubioli, que estava presente em São Januário durante o jogo, enviou seu relatório sobre os incidentes na partida.
O texto de Rubioli, que é do Juizado Especial do Torcedor e dos Grandes Eventos, contém trechos que geraram muita polêmica nos últimos dias. Em um deles, o juiz se refere da seguinte maneira à área ao redor do estádio.
– Para explicar a falta total de condições de operação do local, começando pela área externa e indo até a interna, pode-se notar que todo o complexo é cercado pela comunidade da barreira do vasco, de onde frequentemente são ouvidos disparos de armas de fogo provenientes do tráfico de drogas que ocorre lá, o que gera uma sensação de insegurança para chegar e sair do estádio. São ruas estreitas, sem espaço para escapar, que sempre ficam cheias de torcedores se embriagando antes de entrar no estádio.
– No dia em questão, uma multidão de torcedores furiosos causou uma verdadeira destruição do lado de fora e, depois de um tempo, arrombaram os portões para entrar no estádio e ajudar aqueles que estavam lá a causar devastação e agressões.
Após os relatos sobre a área ao redor de São Januário, Marcello Rubioli critica severamente a estrutura do estádio e diz que o local não está em condições de receber qualquer partida.
– O estádio é muito antigo, sem reformas e sem um plano de emergência. É importante destacar que ele não tem acessibilidade e, há algum tempo atrás, houve informações de que parte das arquibancadas precisava ser demolida, além da falta de um gerador. (…) A partir do que aconteceu, fica claro a incapacidade do local de receber partidas, não importa o tamanho, assim como a aceitação da organização esportiva em permitir uma quantidade de público muito superior ao que o local comporta, se é que ele comporta algum.
O estádio São Januário foi inaugurado em 1927 e passou por reformas e renovações em suas instalações desde então.
No mesmo dia, 23 de junho, o relatório do juiz Marcello Rubioli foi enviado pelo desembargador Agostinho Teixeira de Almeida Filho ao Ministério Público, que imediatamente pediu o fechamento do estádio. O juiz Bruno Arthur Mazza, do Juizado Especial do Torcedor e Grandes Eventos, atendeu à solicitação no próprio dia 23 e interditou o local.
O Vasco entrou com um recurso, que foi parcialmente aceito em 29 de junho. O desembargador José Roberto Portugal Compasso permitiu que a equipe voltasse a jogar em São Januário – a partida contra o Cuiabá precisou ser realizada no Estádio Luso-Brasileiro, mesmo sem torcedores – mas vetou a presença de público nos jogos na Colina.
Em julho, o STJD permitiu a presença de mulheres, crianças e pessoas com deficiência na partida contra o Grêmio, que aconteceu em 6 de agosto. Por isso, o Vasco entrou com um recurso na Justiça para permitir a abertura parcial do estádio na partida.
No entanto, a desembargadora Renata Machado Cotta negou o pedido, afirmando que “seria irresponsável concluir que a totalidade das mulheres ou pessoas portadoras de diferentes tipos de deficiência possam causar tumulto ou se envolver em confrontos violentos com torcedores do time adversário”.
Em um comunicado no dia 5, após a rejeição ao recurso, o Vasco criticou a interdição.
– Desde que ocorreram os lamentáveis incidentes na partida Vasco x Goiás em junho do ano passado, o Estádio de São Januário e as comunidades ao seu redor têm sido alvos de ataques preconceituosos e elitistas.
Nesta quinta-feira, o CEO da SAF vascaína, Lúcio Barbosa, também criticou a interdição.
– É claro que nos incomodamos quando dizem que São Januário é um lugar perigoso. O Vasco cresceu com a Barreira. Coisas acontecem? Claro, assim como no Rio de Janeiro e em todo o Brasil. Mas acabar com a presença de público em um estádio ou em qualquer lugar é muito delicado quando se diz que os arredores são perigosos.
A partida contra o Atlético-MG no próximo domingo marca o fim da punição do clube no STJD, permitindo a presença de público total. No entanto, o estádio do Vasco continua proibido de receber torcedores pela Justiça, que também vetou o confronto no Maracanã.
No dia 21 de junho, véspera do jogo entre Vasco e Goiás, o Santos perdeu para o Corinthians por 2 a 0 na Vila Belmiro, em uma partida que não foi concluída devido aos fogos de artifício lançados pela torcida santista no campo.
No caso do Santos, o STJD determinou uma punição de oito jogos sem torcida. Posteriormente, a suspensão foi reduzida para quatro jogos, e o Santos voltará a receber seus torcedores no próximo domingo, contra o Grêmio, na Vila Belmiro. Os ingressos estão esgotados.
Fonte: Globo Esportes