Essa declaração foi feita pelo presidente Pedrinho, durante uma coletiva na quinta-feira, onde ele mencionou figuras da antiga gestão do Vasco e políticos chave do período de formação e venda da SAF vascaína. O ge entrou em contato com todos os mencionados pelo presidente para esta matéria. Confira ao final do texto a posição de cada um.
A comissão de investigação mencionada por Pedrinho não é uma novidade no cenário. Em junho, o presidente do Conselho Deliberativo do Vasco, João Riche, revelou os sete nomes que compõem essa comissão de inquérito. O objetivo é “analisar o processo de escolha da empresa 777 Partners para a compra de 70% das cotas do Vasco da Gama SAF”, durante a administração do ex-presidente Jorge Salgado.
— A comissão foi estabelecida pelo presidente do Conselho Deliberativo João Riche e busca averiguar todo o processo de constituição da SAF e a venda para a 777 Carioca, procurando eventuais irregularidades, seja do ponto de vista administrativo, civil ou criminal. Não estamos realizando uma caça às bruxas; o que fazemos é um trabalho em prol do Vasco, buscando a verdade de forma transparente. Não há conduta política envolvida, já que a comissão conta com representantes de beneméritos, da minoria e da maioria, todos eleitos pelos associados do clube, que são os principais interessados no processo — afirmou José Henrique Gonçalves, que lidera a comissão de investigação, em contato com o ge.
O primeiro prazo dado aos membros da comissão era de 120 dias para analisar documentos e elaborar um relatório sobre o processo de formação da SAF do Vasco e sua venda, mas esse período já foi estendido por mais 120 dias. Conforme Henrique, existe a possibilidade de prazos serem novamente prorrogados, devido à dificuldade em agendar reuniões e na análise das informações disponíveis.
— É bem provável que precisemos solicitar mais 120 dias devido à dificuldade de agendar reuniões com alguns indivíduos que precisam ser ouvidos e para conseguir os documentos necessários do Club de Regatas Vasco da Gama — disse.
Quem são os citados por Pedrinho?
Na lista, estão figuras conhecidas e outras nem tanto para a torcida vascaína. Pedrinho mencionou cinco nomes que incluem:
- Jorge Salgado, ex-presidente do Vasco;
- Vitor Roma, ex-VP de marketing de Salgado;
- Luiz Mello, ex-CEO da SAF e do Vasco (associativo);
- Adriano Mendes, ex-VP de finanças de Salgado;
- Júlio Brant, ex-candidato à presidência do clube e ex-aliado de Pedrinho e da Sempre Vasco.
A comissão opera em sigilo, mas o ge confirmou que todos eles estão ou serão convocados para prestar esclarecimentos sobre o período em questão. A comissão não tem o papel de julgar, mas de investigar e convocar testemunhas. Além desses, outros nomes que foram mencionados e que já foram ou ainda serão convocados incluem:
- José Bulhões, ex-VP jurídico de Salgado;
- Roberto Duque Estrada, ex-segundo vice-geral de Salgado;
- Carlos Roberto Osório, ex-VP de Salgado.
Pedrinho, presidente do Vasco, em entrevista coletiva — Foto: Dikran Sahagian/Vasco
O ge descobriu que a investigação abrange todos que estiveram envolvidos na formação da SAF do Vasco, no processo de aprovação, na escolha da venda para a 777 Carioca ou em qualquer outro passo.
A comissão iniciou a investigação ouvindo 15 pessoas que analisaram os contratos; até agora, 11 delas compareceram. Após essa primeira fase, será a vez da gestão de Jorge Salgado, que elaborou a venda, ser ouvida.
Até meados de dezembro, a comissão planeja ouvir toda a gestão anterior, incluindo representantes dos diversos poderes, além de quatro pessoas que não atenderam aos convites, bem como representantes das empresas que prestaram serviços ao clube nesse período.
Como é a comissão?
A comissão é formada por sete pessoas. Três pertencem à situação, dois à oposição, e dois são beneméritos do Vasco. Com o propósito de investigar o período em análise, eles solicitam materiais e elaboram “dossiês” de cada pessoa ouvida, que são anexados ao processo. Caso identifiquem irregularidades, os casos são enviados ao Conselho Deliberativo ou à presidência do clube. A comissão é composta por:
- conselheiro José Henrique Carvalho Gonçalves – presidente;
- conselheiro Cláudio Pereira Gomes – relator;
- conselheiro Luiz Gustavo de Menezes Ribeiro;
- conselheiro Jorge Luiz Moraes;
- conselheiro José Pedro Mota de Souza Ferreira;
- benemérito André Luiz Vieira Afonso;
- grande benemérito Emmanoel Ursulino de França Filho.
O que dizem os citados por Pedrinho?*
Luiz Mello, ex-CEO da SAF e do Vasco (associativo)
Sobre a coletiva do presidente do Vasco da Gama, Pedrinho, gostaria de esclarecer alguns pontos:
- Desde o momento em que deixei a rotina do Clube há mais de um ano, nunca fui convocado a esclarecer nada em nenhuma Comissão. Importante destacar que a criação da SAF e a posterior venda à 777 seguiram todos os procedimentos estipulados no Estatuto, contando com a aprovação dos associados e das comissões específicas do Clube que validaram cada etapa, além do suporte de parceiros estratégicos experientes em transações dessa natureza, como KPMG, BDO, Grant Thornton e BMA Advogados;
- Quando assumi como CEO e mesmo antes da venda, o Clube iniciou uma profunda reestruturação administrativa e financeira, implementando normas claras de governança em diversos setores, e as melhorias nos números eram visíveis ao longo dos anos.
- De maneira concreta, em 2020, mesmo com o Clube na primeira divisão, suas dívidas, conforme demonstração financeira auditada, estavam em R$ 832 milhões (esse valor, em 2024, já superava R$ 1 Bilhão, atualizado pelo IPCA!) e as receitas naquele ano alcançaram R$ 235 milhões;
- Em 2023, essas mesmas demonstrações financeiras auditadas indicam que as dívidas foram reduzidas para R$ 696 milhões (R$ 740 milhões em 2024, considerando o IPCA) e a maior receita da história do Clube foi registrada, alcançando R$ 364 milhões, ainda abaixo do potencial do Clube, mas significativamente superior aos anos anteriores;
- Esses dados refletem o comprometimento da gestão da época em reduzir esse passivo expressivo, com acordos importantes com a PGFN, implementação do RCE, e melhorias consideráveis nas receitas do clube. Esse aumento é fundamental para a sustentabilidade a longo prazo, e fundamentado nas alterações propostas de governança e comerciais, esperava-se um novo recorde para 2024, dado a grandeza do Vasco;
- Por entender que o Vasco precisa de estabilidade para voos mais altos, não havia me manifestado até agora, mas algumas questões precisam ser esclarecidas para evitar que informações sem fundamentação se propaguem, incluindo o uso de medidas judiciais, quando necessário.
Luiz Mello, ex-CEO do Vasco — Foto: Daniel Ramalho/Vasco
Adriano Mendes, ex-VP de finanças de Salgado
Recebi com surpresa as declarações do presidente Pedrinho durante sua coletiva de imprensa, citando meu nome de forma negativa e no contexto de que devo prestar contas sobre algo.
Primeiramente, sempre prestei contas do que fiz durante minhas duas passagens pelo Vasco. A primeira foi de fevereiro de 2018 até dezembro de 2019, e a segunda de fevereiro de 2021 a outubro de 2022, quando fui Vice-Presidente de Finanças, tendo minhas contas sempre aprovadas pelo Clube. Além disso, sempre busquei transparência nas finanças do Vasco, evidenciada pela constante melhora do Balanço do Clube, que antes era caracterizado por falta de confiabilidade. No final de 2022, apresentamos balanços auditados e totalmente transparentes, sem ressalvas e aprovados por uma das cinco maiores empresas de auditoria do mundo. A melhor forma de prestar contas de uma gestão financeira é através de um balanço claro, informativo e validado por uma renomada empresa de auditoria; portanto, não faz sentido alegar, em qualquer contexto, que eu não prestei contas das minhas passagens pelo Clube.
Adriano Mendes, ex-vice de finanças do Vasco — Foto: João Pedro Isidro / Vasco
Vitor Roma, ex-VP de Marketing de Salgado
Sinto muito. Respeito o Pedrinho, que é um ídolo para mim, mas é de conhecimento público que eu não estive envolvido na venda da SAF. O próprio presidente Jorge (Salgado) reconheceu isso. Eu fui um dos signatários de uma carta que questionava a forma como a negociação estava sendo conduzida. Isso me surpreendeu, pois a questão era bem conhecida pelo segundo VP do Pedrinho, Renato Brito. Trocamos muitas ideias durante aquele período, e ele sabe que eu não participei de nada.
Deixei a administração do Vasco assim que foi oficializada a indicação do Luiz (Mello) como CEO, um erro inaceitável do clube. É sabido que eu nunca fui a favor da permanência do Luiz como CEO. Em relação à Comissão, não fui convocado para dar nenhum esclarecimento até agora. Gostaria de ser chamado, visto que o presidente me citou na coletiva. Estou à disposição para qualquer esclarecimento; meu coração está tranquilo.
Vitor Roma, ex-VP de marketing do Vasco — Foto: Reprodução
*Jorge Salgado e Júlio Brant não respondeu aos contatos da reportagem. A matéria será atualizada assim que tivermos suas respostas.
O que dizem os outros envolvidos na Comissão?**
Roberto Duque Estrada, ex-segundo vice-geral de Salgado
Estou tranquilo, pois não estive envolvido nas negociações de contratos. Eu e Osório não participamos. As negociações foram conduzidas por Jorge (Salgado), Adriano (Mendes) e (Luiz) Mello. Meu papel como vice-presidente e advogado foi presidir a comissão do Conselho Deliberativo, que examinou os contratos após a negociação já concluída, e essa comissão aprovou os contratos. Era uma comissão técnica, com representantes de todas as correntes políticas.
O contrato é excelente. Entre as SAFs, é o melhor que existe. R$ 700 milhões de aporte, R$ 700 milhões em dívidas, e o quinto maior orçamento. Não distribui dividendos se não houver desempenho. É preciso comparar duas fases da 777: a fase quando Juan Arciniegas era responsável pelo futebol e a fase após sua saída. Enquanto ele estava, tudo estava caminhando bem. Ele saiu por divergências com Josh sobre a compra de outros clubes. O contrato foi autorizado por quase 80% dos sócios. E não vejo o Pedrinho buscando aprovação para nada com os sócios.
Roberto Duque Estrada, ex-VP Geral do Vasco — Foto: Reprodução/VascoTV
**Carlos Roberto Osório e José Bulhões não responderam aos contatos da reportagem. A matéria será atualizada assim que tivermos suas respostas.
Fonte: ge