Faz quase dois meses que São Januário não tem a presença da torcida nos jogos. Entre as punições do STJD e a proibição decretada pela Justiça do Rio, os comerciantes que estão perto do estádio do Vasco estão enfrentando dificuldades financeiras e estão ansiosos pela volta dos torcedores à Colina.
– As vendas despencaram. Nos dias de jogo, costumava ficar cheio aqui, e agora está um deserto. Pagamos as contas de menor valor, e deixamos as contas maiores para depois, não tem outra opção – afirmou Denize Coutinho, do Trailer do Vascão.
O que aconteceu
O Vasco foi proibido de receber a torcida após o ocorrido na partida contra o Goiás, pelo campeonato brasileiro.
O STJD determinou que os jogos em São Januário fossem disputados com portões fechados por 30 dias, além de proibir a presença da torcida em jogos fora de casa, pena semelhante à aplicada ao Santos.
Posteriormente, a Justiça do Rio de Janeiro, atendendo a um pedido do Ministério Público, mandou interditar o estádio.
”Tivemos uma queda significativa nas vendas, no mínimo uns 60%. Isso porque o movimento não se restringe apenas ao dia do jogo, já começa na semana anterior, com a troca de ingressos na bilheteria. Esperamos que a torcida possa voltar logo”, disse Thassio Santos, do Bar Caiau.
Desde então, o Vasco jogou como mandante em quatro partidas. Contra o Cuiabá, atuaram no estádio da Portuguesa-RJ, na Ilha do Governador.
Com São Januário liberado, mas sem a presença da torcida, o Vasco recebeu o Cruzeiro, Athletico-PR e Grêmio.
”Tivemos um prejuízo enorme, perdemos muito. Só quem está passando por isso sabe. Antes, esse lugar ficava lotado antes e depois dos jogos. E quem não conseguia ingresso, assistia aqui na TV”, relatou Cleo Barbosa, do Bar Pedro e Léo.
– Estamos procurando alternativas, mas nada se compara. Em julho, a perda de arrecadação foi cerca de R$ 60 mil. O esquenta de São Januário é uma tradição, e perdemos antes, durante e depois do jogo. Nos jogos sem torcida, também temos a queda de outros clientes porque o esquema de segurança continua, o que dificulta a chegada – afirmou Helio Martins, do Floriano Gourmet.
A queda nas vendas quase trouxe problemas maiores para Joyce e Ramon de Oliveira, ambulantes que ficam próximos à praça localizada na entrada da Barreira do Vasco. ”Sem torcida, não tem como vender. As vendas caíram tanto que quase ficamos no vermelho”, contou Joyce.
No caso de Raul Diogo, que possui um bar e um depósito na Barreira, o prejuízo foi duplo. ”O impacto foi total. A receita caiu aproximadamente 40%. Nós fornecemos para bares e ambulantes que trabalham nos dias de jogo. Então, isso pesa muito, está sendo muito ruim”.
”Rodeado pela comunidade”
Em um documento emitido em 23 de junho, ao falar sobre o incidente ocorrido no jogo entre Vasco e Goiás, Marcello Rubioli, Juiz Auxiliar da Corregedoria Geral da Justiça, utilizou como um dos argumentos para embasar o que considerou como ”total falta de condições para a operação do local” a proximidade de São Januário com a comunidade Barreira do Vasco.
”Observa-se que todo o complexo é rodeado pela comunidade da Barreira do Vasco, de onde frequentemente ocorrem disparos de armas de fogo ligados ao tráfico de drogas instalado lá, o que cria um clima de insegurança para chegar e sair do estádio”, diz trecho do documento.
”Vi esse argumento com tristeza, como se, mais uma vez, a favela tivesse que ser excluída do mapa. Temos que mostrar que na favela não há apenas tristeza. Aqueles que acham que a Barreira é perigosa devem nos visitar. Verão que a favela é acolhedora e não oferece perigo aos torcedores”, ressaltou Vania Rodrigues, presidente da Associação de Moradores da Barreira do Vasco.
”Hoje várias famílias estão sendo afetadas, pessoas que contam com o jogo para ganhar um dinheiro extra no final do mês, que ajuda a pagar o gás, a luz, um remédio”.
Vasco tenta reabertura
O Vasco está se esforçando para reabrir São Januário. Foram feitas movimentações jurídicas, mas ainda não há um prazo para um julgamento sobre o caso.
Paralelamente, a diretoria do clube procurou o MPRJ para alinhar o que é necessário para a liberação. No início da semana, houve uma inspeção no estádio e nas redondezas.
O Vasco também buscou apoio de órgãos como a Ferj, pois acredita que é vítima do desequilíbrio nos jogos do Campeonato Brasileiro. Atualmente, o clube é o único que não pode ter a presença de torcedores em casa.
Fonte: Uol
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