Os comitês que compõem a Liga Forte União (LFU) se reuniram em duas ocasiões, incluindo a mais recente na última segunda-feira, para debater as mudanças no contrato com os investidores liderados por Life Capital Partners (LCP) e XP Investimentos. A assinatura ainda está pendente, mas um consenso já foi alcançado entre as partes.
Os clubes decidiram baixar o percentual dos direitos comerciais que eram vendidos para esses investidores por um período de 50 anos referente ao Campeonato Brasileiro. Inicialmente, a proposta era que os investidores ficassem com 20% das receitas, mas agora este número será alterado.
Na Série A, os clubes vão passar a repassar apenas 10% desse percentual. Entre eles estão Athletico-PR, Cuiabá, Fluminense, Fortaleza e Internacional, que faziam parte do grupo Forte Futebol, além de Botafogo, Cruzeiro e Vasco, que pertenciam ao Grupo União e se juntaram ao grupo depois.
Em muitos casos, será preciso devolver parte do dinheiro aos investidores. A primeira parcela do acordo foi quitada em outubro do ano passado. Nos clubes da primeira divisão, os valores depositados corresponderam a 12% dos direitos para a maioria — exceto Botafogo e Cruzeiro, que ficaram com apenas 10%.
Agora, como decidiram rebaixar o percentual para 10% e já receberam 12% no último outubro, os demais times precisarão devolver 2% do valor recebido aos investidores.
Clube Valor equivalente a 20% Valor equivalente a 10% Internacional 218 milhões 109 milhões Cruzeiro 214 milhões 107 milhões Fluminense 213 milhões 106,5 milhões Vasco 212 milhões 106 milhões Athletico-PR 203 milhões 101,5 milhões Botafogo 184 milhões 92 milhões Fortaleza 121 milhões 60,5 milhões Cuiabá 57 milhões 29 milhõesNa Série B, as posturas entre os dirigentes variaram. Alguns acataram a redução, enquanto outros preferiram manter os valores inicialmente prometidos. Assim, as equipes se dividirão em faixas; com algumas recebendo 15%, outras 17% e uma minoria ficando com 20% de vendas.
Os cartolas justificaram a mudança do contrato em função da disparidade que surgiu com a Libra – um outro grupo de clubes que não vendeu seus direitos de forma alguma para investidores. Se a LFU permanecesse com os 20% vendidos, isso geraria uma distribuição desigual dos direitos de transmissão do Brasileirão.
Impacto no caixa e na contabilidade
A decisão de alterar o contrato irá refletir em duas frentes para os clubes da LFU. No que diz respeito ao fluxo de caixa, os dirigentes terão que se debruçar em soluções nas próximas semanas. Na contabilidade, os efeitos são mais emblemáticos do que práticos.
Primeiro, em termos de fluxo de caixa, os dirigentes precisarão ajustar o planejamento para 2024 e 2025. Os clubes esperavam os pagamentos das segunda e terceira parcelas dos investidores. Como esse recurso não aparecerá para aqueles que concordaram em reduzir o percentual, pode surgir um buraco nas contas para essas temporadas.
Para aqueles que precisarão reembolsar parte da primeira parcela, os parceiros da LFU facilitaram o pagamento, oferecendo um prazo de cinco anos.
Por fim, na contabilidade, o impacto da mudança será visto nas demonstrações financeiras que serão publicadas em abril de 2025, referentes ao ano de 2024. Nesse setor, os clubes vão precisar fazer uma reversão dos valores que haviam sido lançados no balanço anterior.
O Fluminense, por exemplo, havia registrado no balanço de 2023 uma receita de R$ 213 milhões pela venda de 20% dos direitos para os investidores da LFU. Embora a totalidade não tenha sido recebida no ano — apenas R$ 122 milhões entraram nos caixas —, a quantia foi contabilizada integralmente na mesma temporada, resultando em um superávit de R$ 79 milhões.
Agora, com o acordo cortado pela metade, no balanço de 2024, o clube das Laranjeiras terá que reverter metade da receita que já havia lançado, pois esse valor não será mais recebido. Assim como não entrou em caixa no ano passado, agora também não sairá, mas essa mudança afetará negativamente o resultado contábil.
Essa situação se aplica a todos os clubes da LFU, que podem registrar prejuízos coletivos nas demonstrações de 2024 devido às reversões.
Investidores recapitalizados
Enquanto os clubes discutiam as modificações no contrato, os investidores da LFU estavam em busca de recursos no mercado financeiro para cumprir os pagamentos. E o dinheiro foi encontrado no início de setembro, após mais uma rodada de captação.
A Sports Media Participações S.A, empresa criada pelos investidores da LFU para gerenciar os direitos comerciais dos clubes, conseguiu aproximadamente R$ 750 milhões por meio de um hedge fund brasileiro – um tipo de fundo de investimentos que normalmente é mais ousado e disposto a correr riscos.
Esse montante será utilizado pelos parceiros da LFU em diversas finalidades:
- Quitação de dívidas com sócios, como XP e Livemode;
- Pagamentos pendentes da primeira parcela da LFU;
- Quitação dos valores da segunda e terceira parcelas da LFU;
- Garantia de um empréstimo de R$ 150 milhões ao Corinthians;
- Antecipação de R$ 60 milhões aos clubes paulistas da Série B.
Fonte: ge
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