O ge elaborou um FAQ (frequent asked questions ou perguntas frequentes) com 12 perguntas e respostas sobre a situação do atacante. Confira abaixo:
- Por que Bruno Henrique está sendo processado e que provas existem contra ele?
A Polícia Federal indiciou o atacante por supostamente ter matado tempo para receber um cartão amarelo em um jogo contra o Santos e, assim, beneficiado apostadores. Além de Bruno Henrique, foram indiciados seu irmão, Wander Nunes Pinto Júnior, sua cunhada, Ludymilla Araújo Lima, e sua prima, Poliana Ester Nunes Cardoso, que também fizeram apostas.
Nos telefones coletados durante a operação, a PF encontrou mensagens entre Bruno Henrique e os outros investigados. Uma delas mostra o irmão do jogador, Wander, perguntando quando ele receberia o terceiro cartão amarelo, e o atleta respondeu: “Contra o Santos”. Veja aqui os prints.
- Bruno Henrique recebeu alguma vantagem financeira por isso?
Atualmente, não há evidências de que Bruno Henrique tenha recebido dinheiro em razão de qualquer irregularidade com apostas. No entanto, seus familiares sim. Em uma troca de mensagens, Wander mencionou ter apostado R$ 3 mil, esperando um retorno de R$ 12 mil, mas o valor foi bloqueado por uma casa de apostas.
- Bruno Henrique já comentou sobre a situação? E o Flamengo?
Em contato com o ge, a assessoria do jogador informou que ele não fará comentários no momento. O Flamengo, por sua vez, divulgou a seguinte nota:
“O Flamengo ainda não foi notificado oficialmente por nenhuma autoridade a respeito dos eventos que têm sido noticiados na imprensa sobre o atleta Bruno Henrique. O clube se compromete a respeitar as normas do fair play esportivo, mas também defende o princípio constitucional da presunção de inocência e do devido processo legal, focando no contraditório e na ampla defesa, valores fundamentais do estado democrático de direito”.
- Quem denunciou e quem está investigando?
As investigações, conduzidas pela Polícia Federal, começaram em agosto do ano passado, após operadores de apostas reportarem atividades suspeitas relacionadas ao cartão amarelo que Bruno Henrique recebeu no jogo contra o Santos, na 31ª rodada do Brasileirão de 2023, que ocorreu em Brasília.
Três casas de apostas alertaram sobre o caso. Uma delas revelou que 98% das apostas em cartões naquela partida foram direcionadas para Bruno Henrique, enquanto outra empresa registrou um percentual de 95%.
- Quais serão os próximos passos da investigação?
O relatório de 84 páginas da Polícia Federal agora será analisado pelo Ministério Público do Distrito Federal, que decidirá se irá oferecer denúncia ou não. O MP está previsto para apresentar a denúncia nas próximas semanas.
Se isso acontecer, a Justiça do Distrito Federal decidirá se Bruno Henrique se tornará réu. Se for o caso, haverá um julgamento a respeito.
O atacante também pode enfrentar um julgamento na esfera esportiva. O caso já foi enviado ao STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) em agosto do ano passado, mas na época o órgão considerou que as informações não eram suficientes para abrir um inquérito. Com os novos dados, a abertura de um inquérito é uma possibilidade provável.
- Bruno Henrique pode ser suspenso de forma preventiva?
Sim, isso dependerá da decisão da Procuradoria do STJD, que avaliará o relatório e pode apresentar uma denúncia ao órgão. O CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva) permite a suspensão preventiva se a gravidade do ato justificar, desde que solicitada pela Procuradoria e aprovada pelo Presidente do Tribunal (STJD ou TJD) ou por lei. A suspensão preventiva pode durar 30 dias, podendo ser prorrogada.
Enquanto não houver essa solicitação, Bruno Henrique continua apto a jogar pelo Flamengo durante a investigação. Neste momento, não há previsão de suspensão preventiva.
- Quais sanções Bruno Henrique pode enfrentar se for condenado?
Ele foi indiciado conforme o artigo 200 da Lei Geral do Esporte – para fraudar, de qualquer forma, os resultados de competições esportivas –, com pena de dois a seis anos de prisão, além de estelionato, que pode resultar em um a cinco anos de reclusão.
Na esfera esportiva, as sanções podem incluir até dois anos de suspensão e banimento do futebol. A Operação Penalidade Máxima, que começou em 2023 e puniu jogadores envolvidos em fraudes de apostas, registrou suspensões de 360 a 720 dias, além de exclusões do esporte.
- A Fifa pode se envolver e, em caso de punição, Bruno Henrique pode ser impedido de jogar todas as competições, incluindo o Mundial de Clubes?
É usual que a federação local informe à Fifa, que avaliará se a questão merece uma punição internacional. Se tal punição ocorrer, Bruno Henrique ficaria proibido de disputar quaisquer competições organizadas pela Fifa ou por federações ligadas à entidade.
Dessa forma, o atacante do Flamengo somente poderá jogar em torneios organizados por entidades não filiadas à Fifa, o que reduz bastante suas opções.
- Qual é a duração do contrato de Bruno Henrique com o Flamengo? O clube pode rescindir o contrato se ele for julgado e condenado?
O contrato de Bruno Henrique com o Flamengo vai até dezembro de 2026. Se o jogador for considerado culpado e suspenso, ficando impossibilitado de jogar, o clube pode optar por rescindir seu contrato. Após a rescisão, o jogador cumpriria o restante do tempo.
Em dois casos recentes, quando Guerrero (por doping) e Gabigol (por tentativa de fraudar exame antidoping) foram suspensos, o Flamengo não rescindiu os contratos desses atletas.
- O Flamengo pode sofrer alguma punição?
Não. Durante a investigação, não foram encontrados indícios de que o Flamengo tenha tido conhecimento, conivência ou participação no caso. Se ficar evidente que um jogador agiu sozinho para manipular apostas, como é a situação de Bruno Henrique, a responsabilidade recaíra somente sobre ele.
O Flamengo só poderia ser punido se se provasse que teve ciência da irregularidade e nada fez para evitar, ou se participou ativamente do esquema, ou se a conduta do jogador estivesse repetidamente ligada à má gestão ou omissão do clube.
Bruno Henrique tem seis gols em 14 jogos pelo Flamengo em 2025 — Foto: Jhony Pinho/AGIF
- Quem é responsável pela defesa de Bruno Henrique, o Flamengo ou um advogado particular?
O advogado criminalista Ricardo Pieri Nunes será o responsável pela defesa de Bruno Henrique. Em 2019, ele trabalhou com o Flamengo em um contexto relacionado ao incêndio no Ninho, que resultou na morte de 10 jovens atletas. Ricardo também defendeu Bruno Henrique em 2020 quando o atacante foi acusado de falsificação de carteira de habilitação.
- Como funcionam os esquemas de apostas envolvendo cartões e outros eventos específicos?
Esses esquemas de apostas que focam em cartões, escanteios, laterais e outros eventos específicos diferem das apostas convencionais nos resultados dos jogos (vitória, empate e derrota), tornando-se mais suscetíveis à manipulação.
Os apostadores não se concentram no resultado final, mas em eventos específicos menos visíveis, como um jogador receber cartão amarelo ou vermelho, o número de escanteios ou um jogador prolongar uma falta. Um membro do esquema combina com o atleta para que ele realize uma ação que provoque o evento apostado.
Um aumento significativo no número de apostas em um evento específico, vindas de uma mesma região, geralmente levanta suspeitas e resulta em investigações por parte das casas de apostas. A obtenção de provas concretas de que um cartão foi resultado de uma combinação é difícil, sem elementos como mensagens trocadas.
Fonte: ge