Em novembro de 1999, o Vasco fechou contrato com Romário. Foi o começo de um semestre agitado para o clube, pois Baixinho e Edmundo, seu companheiro de ataque, eram inimigos declarados.
Os desentendimentos marcaram a passagem deles por São Januário, terminando em julho de 2000, quando o Animal foi para o Santos.
Os detalhes dessa história estão na série documental “A Mão do Eurico”, lançada na segunda-feira no Globoplay. Ao longo desta semana, serão exibidos cinco episódios diários, com o último indo ao ar na sexta-feira, abordando a trajetória de um dos dirigentes mais polêmicos do futebol brasileiro.
O documentário, com material de arquivo, revela os bastidores da confusão e traz depoimentos de Romário, ex-jogadores, funcionários do clube da época e jornalistas – Edmundo preferiu não falar.
Pedrinho, um dos meias da equipe de 2000 e o atual presidente eleito do Vasco, relembra na série que a rivalidade permeava até os dias de treino. Ele perdeu a conta das broncas que levou durante as atividades e jogos.
“Eu tentava tocar para Edmundo, e Romário gritava. Eu tocava para Romário, e Edmundo gritava. Chutava para o gol, os dois xingavam. O treino demorava três horas. Se o time de Romário estava vencendo, ficávamos três horas até o de Edmundo empatar. Se fosse o contrário, a mesma coisa. Era desconfortável”, conta.
Em 18 de março de 2000, na vitória do Vasco por 3 a 0 sobre o Bangu, no Campeonato Carioca, Romário perdeu um pênalti. Edmundo, que queria bater, ficou irritado na saída do campo.
“Quem manda é o cara lá, mas só eu que estava treinando os pênaltis. Mas quem manda é o cara. Se o cara quer que bata o príncipe, eu não tenho culpa”, disse.
Quando perguntado quem era o rei, Edmundo respondeu prontamente: “O Eurico”.
A resposta de Romário veio 11 dias depois, na goleada do Vasco por 4 a 1 sobre o Olaria. Autor de três gols nesse jogo, o Baixinho ultrapassou Edmundo na artilharia do Carioca e disparou.
“Agora a corte está toda feliz: o rei, o príncipe e o bobo.”
Questionado sobre a frase na série, Romário comenta: “A frase foi histórica, uma boa sacada… Serve até hoje, principalmente para ele (Edmundo)”.
O documentário aborda a dificuldade de Eurico em equilibrar a relação com os dois craques. O ex-assessor de imprensa do Vasco, Roberto Garofalo, explica a diferença de tratamento.
“Um exemplo simples: você tem dois filhos. Qual era o mais carinhoso? Romário era mais carinhoso com relação ao Eurico. Agora, e a torcida? Zero para Romário. A torcida era para Edmundo”, compara.
A série traz outros episódios marcantes, como o dia em que Edmundo descobriu que havia perdido a braçadeira de capitão para Romário. Ao ver a faixa no vestiário, antes de um jogo em São Paulo, o Animal tirou a roupa de aquecimento, pediu a passagem aérea e voltou imediatamente ao Rio de Janeiro.
Em sua entrevista na série, Romário deixa claro que a relação com Edmundo continua ruim. Ao falar sobre a derrota na final do Mundial de Clubes de 2000 para o Corinthians, ele critica Edmundo, que perdeu o pênalti decisivo.
“A responsabilidade é dele. Fizemos a nossa parte. Ele, que era o queridinho, se deu mal. Estava nervoso. Na hora em que precisava ter firmeza, errou. A culpa é toda dele”, dispara.
“A Mão de Eurico” tem a direção de Rafael Pirrho, roteiro de Rafael Pirrho e Chico Trigo, produção de Vanessa Santilli e Gabriel Rigoni, produção executiva de Gustavo Gomes, Gustavo Poli e Renato Ribeiro, direção de fotografia de Edu Bernardes, montagem de Eric Romar, Clarisse Dworschak e Gabriel Barata e apoio técnico de Raphael Cyrne.
Fonte: ge