As frequentes mudanças de cidade para acompanhar a carreira do pai dificultaram a busca por uma equipe de basquete feminino, levando Manu a jogar em times masculinos até os 16 anos por falta de opções.
Ter Léo Figueiró como pai, técnico de clubes tradicionais como Corinthians, Botafogo e Vasco, trouxe orgulho, mas também pressão. Manu chegou a duvidar de si ao ouvir comentários desmerecendo seu trabalho como atleta.
– Conversei com meu pai: ‘Estou frustrada, acham que estou aqui só por causa de você’. Ele respondeu: ‘Quem está jogando na seleção sou eu ou você? Portanto, você não está aqui por minha causa’ – relembrou Manu.
Manu Alves na infância — Foto: Arquivo pessoal/Manuella Alves
Seu talento foi reconhecido ao assinar com a Universidade de Illinois, preparando-se para brilhar na Liga Universitária Americana no próximo ano – um passo crucial em sua carreira que pode levá-la à WNBA.
Primeira seleção
A trajetória de Manu até chegar à Illinois foi cheia de desafios. Ela começou na seleção sub-14 aos 12 anos. Léo recorda que não foi fácil para Manu competir com meninas mais velhas, mas ela sempre demonstrou coragem.
– Ela me disse: ‘Pai, precisa ir comigo, estou nervosa’. Fui a Limeira, preparado para ficar o dia todo. Enquanto ela estava almoçando, se enturmou rapidamente e voltou dizendo: ‘Pai, pode ir embora, já conheci geral’. Foi hilário.
Por ser tão nova, a diretora queria que Manu apenas se familiarizasse com o grupo. Entretanto, avisou Léo que ela seria o último corte por conta da idade.
– Dei a ela um cordão e, ao me contar que tinha sido cortada, disse: ‘Estou muito orgulhoso pela sua coragem de vir aqui aos 12 anos’. Ela respondeu: ‘Pai, estou orgulhosa de mim, nas próximas vou estar de volta’. Emocionou-se, mas também desabafou: ‘Mas eu queria ficar!’ – contou o pai.
Chegada aos EUA
Quando surgiu a oportunidade de ir para Kissimmee, na Flórida, Manu se assustou com a mudança, já que sequer falava inglês, mas com o apoio dos pais, começou a se adaptar ao novo ambiente.
Manu Alves pela seleção sub-18 na Copa América — Foto: Reprodução/Instagram
– Os primeiros meses foram complicados, não vou mentir que foi fácil. Aprender uma nova língua e ficar longe da família foi desafiador. Mas fui percebendo as diferenças do basquete nos EUA em comparação ao Brasil. Aqui, se enxergam talentos, realmente há investimento. Sinto-me sortuda por ter sido notada por várias universidades – contou, de forma calma.
Em dezembro de 2023, Manu conquistou seu primeiro título com a seleção sub-17 ao vencer o Sul-Americano. Na Copa América de 2024, já com o time sub-18, assegurou uma vaga no Mundial sub-19 de 2025 após terminar em 4º lugar.
Manu Alves com a taça do Campeonato Sul-Americano de basquete sub-18 — Foto: Reprodução/Instagram
Recrutamento para a NCAA
Durante o ensino médio nos EUA, suas atuações chamaram a atenção de mais de 20 universidades. Manu destacou cinco opções: Louisville, North Carolina, Illinois, Miami e Iowa. Para decidir, visitou cada uma e treinou com as possíveis companheiras.
Manu e Léo Figueiró em visita à Universidade de North Carolina — Foto: Reprodução/Instagram
– Durante essas visitas, tudo parece perfeito. Seu nome em destaque, comidas, doces, passeios pelos melhores lugares. É natural ficar maravilhada à primeira vista – relatou Manu.
Caitlin Clark
Mais sensata do que muitos de sua idade, nem mesmo o aviso da novata da WNBA, Caitlin Clark, foi suficiente para influenciar Manu. A atleta comentou uma postagem de Manu sobre sua visita à Universidade de Iowa, convidando-a a se juntar à equipe.
Caitlin Clark comenta publicação de Manu Alves sobre visita a Iowa — Foto: Reprodução/Instagram
Decisão por Illinois
Treinada pela campeã olímpica Kim Mulkey, a quem revelou seu desejo de se desenvolver ainda mais como jogadora, Manu ponderou os conselhos da técnica em sua escolha por Illinois.
– Estou focada no meu desenvolvimento. A jogadora que sou agora não será a mesma daqui a alguns anos. Quero aprimorar minhas habilidades. Kim me sugeriu pensar ‘por que não?’ ao invés de ‘por que sim’. Aí pensei: por que não escolher Illinois? E não encontrei uma resposta negativa. Eles têm tudo que preciso, mas dá um frio na barriga deixar as outras para trás – confessou.
Manu Alves será uma das estrelas brasileiras na NCAA em 2025 — Foto: Reprodução/Instagram
Com a escolha pela Universidade de Illinois, seu próximo destino será Champaign, uma cidade a cerca de duas horas de Chicago, onde outra brasileira, Kamilla Cardoso, já brilha na WNBA.
– Já nos falamos. Ela acompanhou a final da EIBL em Chicago, e quem sabe no futuro possamos jogar juntas pela seleção brasileira. Podemos até nos visitar, ainda não sei – comentou.
Família em quadra
Apenas a mãe, Joana, não segue a carreira no basquete, enquanto o restante da família se dedica ao esporte. O irmão, João Gabriel, joga na Espanha, em Madrid. Desde pequenos, eles costumavam brincar de basquete no quintal com Léo, que assistia, tomado pelo seu café. Esse ritual se mantém até hoje nas férias.
Manu Alves, Léo Figueiró e João Gabriel — Foto: Arquivo pessoal/Léo Figueiró
Léo relembra que Manu sempre reclamava por não receber tanta atenção quanto o irmão, já que ambos jogavam pelo Corinthians e os jogos dele eram mais próximos. Porém, em uma ocasião, ele decidiu ir ver Manu jogar em Osasco.
– Ao chegar, vi que ela não estava jogando bem. Após o jogo, perguntaram: ‘Como foi, pai?’. Eu respondi: ‘Você quer meu feedback sincero?’ E disse: ‘Jogou mole, com muita risada’. Ela respondeu: ‘Todo mundo disse que joguei bem, menos você. Fiz 22 pontos e peguei 17 rebotes’. Nesse momento percebi que ela estava pronta para desafios maiores – relembra Léo.
Los Angeles 2028 e WNBA
Apesar de optar por uma carreira fora do Brasil, o amor pelo seu país e o sonho de representá-lo em grandes competições estão presentes. Manu lamenta a falta de investimentos no basquete feminino e acredita que, se tivesse melhores oportunidades no Brasil, escolheria ficar.
– Estou na base há um tempo, mas ainda sonho em fazer parte da seleção adulta, quando estiver pronta. Quero continuar nesse ciclo. Vejo que temos muitos potenciais no basquete feminino que podem brilhar nas Olimpíadas de 2028 – avaliou.
Ela ressalta a crescente presença de brasileiras na NCAA e afirma seu objetivo de um dia entrar para a WNBA, sonhando com esses desafios.
– Todas estão focadas em alcançar esse nível e é incrível ver que as brasileiras chegaram lá, servindo de exemplo para as próximas gerações. Principalmente com tantas jogadoras competindo na NCAA como a Alexia (Dagba) em Georgetown, a Ayla (McDowell) indo para South Carolina, e Taissa (Queiroz) indo para North Carolina. O que parecia impossível, agora é realidade – finalizou Manu.
Fonte: ge