Aposentado desde 2020, após uma passagem discreta pelo São Caetano, atualmente ele atua na área de eventos e é proprietário de uma barbearia em Santos.
Para Madson, o grande obstáculo que levou ao fim precoce de sua trajetória no futebol foi a pandemia de Covid-19, que começou no Brasil em março de 2020 e o impediu de continuar no Azulão. Contudo, ele reconhece que, olhando para o todo, seu futuro poderia ter sido distinto se sua conduta fora de campo fosse mais disciplinada.
– Eu exagerava (risos), ultrapassava os limites. Às vezes chegava nos treinos debilitado. Isso vai minando a carreira. Eu era jovem, resistia, jogava… Tinha muito tempo de descanso. Mas as pessoas percebem e na primeira oportunidade que tiverem para te dispensar, vão dispensar. Foi o que aconteceu comigo. Não é que me arrependo, mas mudaria. Mudaria e com certeza acredito que teria prolongado minha carreira – avaliou.
Madson foi revelado pelo Volta Redonda, mas se destacou no Vasco, de onde foi emprestado para Duque de Caxias e América-RN antes de chegar ao Santos. Foi no time da Vila Belmiro, seu auge na carreira, que conquistou os títulos do Paulistão e da Copa do Brasil em 2010.
No entanto, seu comportamento fora de campo, do qual se arrepende, afastou-o do Peixe, que o emprestou ao Athletico-PR antes de negociá-lo com o Al-Kohr, do Catar. No clube do Oriente Médio, Madson atuou por sete temporadas, com 143 jogos e 67 gols.
Ao retornar ao Brasil, o início do fim.
A desavença com o técnico Rogério Ceni, que afirmou que o jogador estava acima do peso, resultou em apenas uma partida no Fortaleza. Já no CSA, onde foi criticado pelo técnico Argel em áudio vazado, uma dispensa após seis meses e apenas sete jogos.
E no São Caetano, seu último clube, quatro jogos e a aposentadoria em meio à pandemia. Sem propostas atrativas, segundo Madson, sua única intenção agora no futebol é poder ter uma despedida no Santos, clube onde viveu seu melhor momento na carreira.
Nesse bate-papo de aproximadamente uma hora e meia com o ge, Madson revisitou sua carreira, explicou a origem da famosa tatuagem e refletiu sobre a fama conquistada pelas festas ou, como ele mesmo diz, confusões.
Percurso pelo Rio de Janeiro
Madson cresceu em uma família apaixonada por futebol. Outros parentes tentaram seguir carreira no esporte, sem sucesso. Inspirado por essas experiências, o garoto de 12 anos começou a trilhar seu próprio caminho rumo ao sonho do futebol.
– Meu irmão jogava, meu tio também. Meu pai era jogador amador. Até hoje esse tio, que chegou a fazer testes no Fluminense, ainda joga no campeonato “Cinquentão” em Volta Redonda. Bate bem na bola, é habilidoso. Sempre ouvi elogios sobre ele. Desde que nasci, o futebol sempre esteve presente na minha vida por conta dessas pessoas. Porém, à medida que crescemos, tendemos a encarar isso como uma brincadeira. Até que chega um momento em que começam a surgir oportunidades. Amigos e familiares recomendam fazer testes, ingressar em clubes, escolinhas. Foi aí que tudo começou – compartilhou.
A partir desse momento, deu-se início à jornada de Madson pelo Rio de Janeiro.
Após passar por testes no Botafogo e Fluminense e ser aprovado nas categorias de base do Flamengo, ele despertou o interesse do principal clube de sua cidade, o Voltaço, ao se destacar em um campeonato por um clube menor.
– Tive uma ótima atuação, fiz gols, inclusive de falta, algo raro nos dias atuais. Há quanto tempo não vemos gols de falta? Saudades… Recebi o convite do Volta Redonda para realizar testes, permanecer uma semana treinando com eles. Nunca havia feito treinamento físico na minha vida. Não corria pelas ruas, só queria bater bola na quadra, na rua. Estava a cerca de dois meses do início do Campeonato Carioca juvenil e me disseram que, se quisesse, poderia me inscrever no clube e disputar o torneio por eles. Ao chegar em casa, comentei com meu pai e ele perguntou: “É isso que você quer?”. Respondi que sim. Então me inscrevi e disputei o Campeonato Carioca juvenil com 15 para 16 anos pelo Volta Redonda.
No tricolor de aço, Madson se profissionalizou e disputou a decisão do Campeonato Carioca de 2005, quando o Volta Redonda foi derrotado pelo Fluminense. Foi aí que chamou a atenção do Vasco.
– Tivemos uma excelente campanha em 2005 pelo Volta Redonda. No meu primeiro jogo profissional, disputamos a final do Carioca. Já havíamos conquistado a Taça Guanabara e fomos enfrentar o Fluminense na final. Tínhamos o Túlio Maravilha no time, inclusive. Dei um passe para ele, mas a pontaria falhou (risos). Mentira. Ele finalizou, o goleiro defendeu. Foi a partir desse jogo que o Vasco se interessou por mim, equipe contra a qual já havia jogado umas seis ou sete vezes. E sempre me destaquei.
O rebaixamento no Brasileirão com o Vasco
No Gigante da Colina, Madson iniciou nas categorias de base. Embora o treinador do time principal fosse Dário Lourenço, o mesmo que lhe deu a primeira oportunidade no Volta Redonda, a chance de atuar só veio após a saída do treinador e a chegada de Renato Gaúcho.
– Foi quando recebi a primeira oportunidade de atuar profissionalmente pelo Vasco, contra o Flamengo. Não esqueço desse dia, no Maracanã. O Vasco disputava a Copa do Brasil em 2006. O técnico escalou os reservas e precisava de opções no banco. Acabei sendo escolhido. Graças a Deus e ao Renato (risos), ele me inseriu na partida e eu fiz um passe para o Jean. Vencemos por 3 a 1. O Jean marcou um gol e comemoramos imitando o personagem Jajá, do humorista Welder Rodrigues. Eu tentei finalizar, o goleiro defendeu, o Jean aproveitou. Meu primeiro jogo profissional. Imagina se eu fizesse um gol no Maracanã? Incrível, né? A partir dali, minha trajetória no profissional começou.
O período turbulento de Madson no Vasco teve início em 2007.
Em abril, Renato Gaúcho foi demitido e Celso Roth assumiu o comando. Madson deixou de fazer parte dos planos do clube e passou a ser emprestado. Primeiro para o Duque de Caxias, para disputar a segunda divisão estadual. Depois, para o América-RN. O afastamento só chegou ao fim com a chegada de Antônio Lopes, em março de 2008, que questionava o paradeiro do jogador no elenco.
Com o ‘Delegado’, Madson começou atuando na lateral esquerda. Depois, passou para a equipe de apoio, mas não se saiu bem. Além disso, envolveu-se em um problema, o que levou o treinador a separá-lo do grupo.
– Fiquei afastado devido a uma desobediência minha. Ele disse: “Você só voltará a jogar na sua posição se fizer isso e aquilo”. Ele era exigente. Passei duas ou três semanas afastado, realizando treinamentos físicos, sem tocar na bola – relatou.
Antônio Lopes deixou o clube em agosto de 2008 e, no mês seguinte, Renato Gaúcho retornou. No entanto, nem o treinador nem o elenco evitaram o rebaixamento do Vasco para a Série B do Brasileiro.
– O Vasco passava por um momento semelhante ao do Santos do ano passado. O clube enfrentava três anos de uma gestão complicada. Mesmo que o Eurico fizesse o máximo pelo clube, as coisas já estavam difíceis. Quando Eurico saiu e entrou Dinamite, o panorama complicou de vez. Explodiu na mão dele, que não tinha culpa alguma, e acabou sendo rebaixado conosco. Acredito que questões fora de campo influenciaram dentro das quatro linhas e culminaram no rebaixamento.
Além do reconhecimento e gratidão ao Vasco, Madson destacou o apreço pelo técnico Renato Gaúcho, com quem desenvolveu uma relação próxima.
– Renato sempre foi uma figura paterna. Sou muito grato a ele. Sem puxar sardinha. Sempre priorizou ensinar, orientar. Acho isso incrível. Ele não vinha com críticas pesadas. Trouxe soluções, orientações que, quando seguidas, deram certo. Sempre foi o mestre da resenha, contava uma história ou outra. Sou extremamente grato. Sempre que surge a oportunidade de falar sobre ele, faço questão de expressar minha gratidão. Foi ele quem verdadeiramente me deu a chance de mostrar meu talento com a camisa do Vasco – declarou Madson.
O Foda
O ex-meia é reconhecido pela tatuagem no antebraço direito e até assina suas redes sociais como “Madson, o Foda”. Mas como surgiu essa ideia?
– Estava envolvido em um funk e as pessoas me chamavam de “A Fera”. Eu dizia “A fera do Vascão”. Iria tatuar “A Fera”. Porém, ao chegar ao tatuador, ele questionou: “Você vai tatuar ‘A Fera’? Não está encaixando. Entendo que você gosta, mas não se encaixa. Deixa eu tentar algo diferente”. Então ele pegou um lápis, escreveu algo e eu gostei. Sugeriu usar “O Foda”. Pensei: “Ah, isso mesmo. Vou tatuar ‘O Foda’. Minha mãe diz que sou foda, meu pai também, as pessoas também. Então será ‘O Foda’. E ele fez a tatuagem.
– É uma característica minha, tenho autoconfiança. Realmente, acredito que sou foda. Decidi tatuar e ficou. A ideia pegou, mas sem intenção de menosprezar alguém. Algo exclusivo que decidi incorporar. Quero ver quem será corajoso o suficiente para fazer o mesmo. É algo que ficará gravado para sempre. As pessoas curtiram.
Títulos, danças e passagem marcante no Santos
Madson ingressou no Santos em 2009 e, para superar as desconfianças da torcida, dava o máximo em campo. Apesar de integrar um elenco com jogadores experientes como Fábio Costa, Fabiano Eller, Kleber Pereira e Lúcio Flávio, a temporada teve altos e baixos, com eliminação precoce na Copa do Brasil, vice do Campeonato Paulista e um modesto 12º lugar no Brasileirão.
Nos treinos, Madson recorda a importância de não provocar a ira de Fábio Costa:
– Ele alertava: “Se estiver na minha frente, finalize. Se der mais um toque, acerto na sua cintura”. E ele cumpria! Poderia ser o jogador mais talentoso ou um jovem da base. Ele não fazia distinção. Estivesse à frente, a ordem era clara. Ele não tolerava brincadeiras, valorizava a seriedade. Se alguém desse bobeira, era melhor correr. E se não pegasse naquele momento, buscaria mais tarde, talvez no jantar, na concentração. Não dava para provocá-lo.
Na temporada seguinte, em 2010, Madson fez parte do time que encantou o Brasil ao conquistar o Paulistão e a Copa do Brasil, liderados por Paulo Henrique Ganso e Neymar.
– Vamos corrigir essa informação. Em 2009, eu já estava lá com o Neymar e o Paulo Henrique Ganso. Eu era ‘o cara’ (risos). Já era uma referência, havia jogado pelo Vasco. Quando os garotos chegaram, eu já estava lá, certo? Os peguei pela mão: “venham cá, o pai vai ensinar” (risos).
– Esse momento foi especial em minha carreira como atleta de futebol. Consagrou anos de bom desempenho. Em 2010, finalizei com um time sensacional, conquistando dois títulos, sendo um inédito para o clube. Presenciar a ascensão de Neymar… Em um ano, ele evoluiu absurdamente tecnicamente e fisicamente. Mudou sua forma, fisicalidade, tudo. Foi uma transição notável e fantástica de presenciar. Graças a Deus, pude fazer parte daquele elenco vitorioso do Santos em 2010, que encantou o Brasil. Isso contribuiu para que a torcida santista hoje tenha esse carinho e apreço por mim na cidade – comentou.
A equipe santista de 2010 ficou marcada pelo poder ofensivo, com 180 gols marcados, uma média de 2,31 por jogo. Além disso, ficou conhecida pelas celebrações. Madson, Neym…
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