A Associação de Juízes de Futebol do Brasil (Ajufo) comunicou o Superior Tribunal de Justiça Desportiva contra Marcus Salum e Juninho, dirigente e jogador do América-MG, respectivamente. Ambos insinuaram que o Vasco está sendo privilegiado na luta contra o rebaixamento. As equipes se enfrentaram nesta segunda-feira, o time carioca ganhou por 1 a 0 e saiu da zona de rebaixamento do Brasileiro.
A informação foi confirmada ao ge por Marcelo Carvalho Van Gasse, presidente da Ajufo. Os dois serão julgados pelo STJD apenas se a Procuradoria do Tribunal decidir por acusá-los. O prazo para isso é de até 30 dias.
”Protocolamos uma notificação no Tribunal, tanto em relação ao dirigente como também em relação ao jogador”.
– Está protocolizado, mas o andamento é de responsabilidade do Tribunal. Enviamos uma notificação, assim como fizemos com outros clubes. Acompanhamos de perto todo o processo. Temos esse direito de protocolar porque somos uma associação reconhecida pela CBF, pelo Ministério dos Esportes – disse Van Gasse.
Ramon Abatti Abel foi o juiz da partida, auxiliado por Luanderson Lima dos Santos e Alex dos Santos. O quarto árbitro foi Maurício Francisco Misson Júnior. E o VAR, também alvo das críticas, estava sob responsabilidade de Daniel Nobre Bins.
Van Gasse relata ter conversado com Abatti Abel nesta terça-feira, antes da Ajufo protocolar a notificação no STJD contra Salum e Juninho. Eventuais medidas na justiça comum só poderão ser tomadas pelo juiz.
– Conversamos hoje de manhã com o Ramon. Ele até pode entrar com um processo individual, na Justiça civil. Estamos aqui para ajudar no que diz respeito à Justiça do desporto. Agora, a parte pessoal é com o Ramon. É direito dele, não interferimos.
Van Gasse ressalta que a intenção da Associação em buscar a punição dos envolvidos se dá pela forma com que as ofensas ocorreram.
– Imagine se o juiz xingasse tudo aquilo que foi direcionado ao dirigente ou ao jogador do América? Como eles se sentiriam? Nós temos família, responsabilidades, filhos na escola. Não podemos ser irresponsáveis. Não importa se estão certos ou errados. Quando alguém vai à imprensa e profere tais palavras… criticar faz parte do processo, mas a ofensa, difamar a arbitragem e chamar o juiz de ladrão? Que história é essa? É por isso que nossa associação está buscando espaço. Nosso futebol é uma totalidade. Não podemos descreditar o produto. Cada vez que descredito o produto, as crianças vão assistir futebol europeu. O mesmo acontece cada vez que eles fazem bullying com o juiz dentro de campo.
No início da tarde desta terça-feira, a Ajufo divulgou um comunicado sobre o caso por meio das redes sociais. A entidade classificou as declarações de Salum e Juninho como “inaceitáveis” e “lamentáveis”, citando que ambos exercem funções com grande visibilidade no meio do futebol (veja o pronunciamento completo no final da matéria).
As reclamações do América-MG estão principalmente relacionadas à expulsão do zagueiro Iago Maidana, que recebeu cartão vermelho direto, no final do primeiro tempo, após acertar o rosto de Pablo Vegetti com o braço. Nos minutos finais da segunda etapa, o Vasco venceu com um gol de Jair.
O protesto de Juninho, capitão do América-MG, ocorreu na saída do campo. Ele pediu a palavra e afirmou que “farão de tudo” para que o Vasco não seja rebaixado:
– Tenha certeza. Se eles tiverem que criar algo ou fazer algo para tirar, eles vão tirar o Vasco. Todo mundo conhece o futebol brasileiro – disse o volante.
Marcus Salum, por sua vez, xingou a equipe de arbitragem desde a saída do campo até a entrada no vestiário. Posteriormente, ele foi à sala de imprensa e fez um comunicado em tom semelhante ao de Juninho: “Hoje, vimos a operação salva Vasco. A camisa faz diferença novamente no futebol brasileiro. Foi uma vergonha o que foi feito com o América. Eles nem prestam atenção quando vamos reclamar. O critério não é igual”.
Além de Juninho e Salum, que falaram ao microfone criticando a equipe de arbitragem, Ramon Abatti Abel também relatou na súmula xingamentos por parte do atacante Felipe Azevedo e de Diogo Giacomini, auxiliar técnico da comissão permanente do América-MG. A tendência é de que os quatro sejam acusados pela Procuradoria e julgados pela Comissão Disciplinar do STJD.
O comunicado da Ajufo
”Embora a mesma cena abominável nos estádios de futebol continue acontecendo, a Ajufo estará constantemente atuando em defesa da arbitragem, da moral, da ética e da honra, trabalhando para que os maus exemplos em campo não afetem nossa sociedade.
No jogo de ontem, entre América-MG e Vasco, o dirigente do América, Marcus Salum, agiu de forma leviana, xingando de forma ostensiva o árbitro da partida, Ramon Abatti Abel, proferindo frases como: ‘Safado, safado. Vai lá vibrar, seu ladrão’; além de dizer: ‘Hoje vimos a operação salva Vasco’, ‘Ele fez um strike, fez um serviço completo’.
No mesmo cenário, o jogador Juninho também fez várias insinuações de que a arbitragem estava claramente favorecendo o time adversário: ‘É muito mais fácil tirar o Vasco do que o América (referindo-se ao rebaixamento)’, continua: ‘Isso é o que eles vão fazer, pode ter certeza. Se eles tiverem que criar algo ou fazer algo para tirar, eles vão tirar o Vasco. Todo mundo conhece o futebol brasileiro. O Vasco não vai cair, porque vão fazer de tudo para ele não cair’, sugerindo que o árbitro foi tendencioso.
Uma reflexão: como se sentiriam esses mesmos indivíduos do futebol que atacam a arbitragem de forma ofensiva fazendo acusações tão graves, estúpidas e mentirosas sobre caráter e moral, cometendo injúrias publicamente e causando prejuízos à sua reputação e abalo emocional, se fossem eles as vítimas desses ataques? Qual seria a reação dessas pessoas?
Deixe claro mais uma vez. O árbitro sai de casa para trabalhar, para acertar, para cumprir o seu papel em campo com honestidade, dignidade, assim como qualquer cidadão dentro da lei, respeitando as regras e cumprindo seu dever.
É inaceitável que essa conduta por parte de pessoas que pertencem a um quadro tão visível continuem propagando um exemplo execrável, como tem acontecido. Faremos uma ação judicial o mais breve possível contra os responsáveis por tal atitude”.
Fonte: ge