A Casa do Vasco, o estádio de São Januário continua fechado desde o dia 23 de junho, quando houve confusão e confronto entre torcedores e polícia na derrota do time por 1 a 0 para o Goiás. Desde então, o clube recebeu uma longa punição esportiva e ainda não pode permitir a entrada de torcedores na Colina. No meio dos protestos e insatisfações do clube e da torcida, uma parte do relato do juiz de plantão no Juizado Especial do Torcedor e Grandes Eventos naquele jogo voltou a causar polêmica: a alegação de que supostas condições de violência urbana estavam gerando insegurança nos jogos do Vasco. No entanto, uma pesquisa do aplicativo Fogo Cruzado, enviada ao GLOBO, mostra que a situação de violência afeta todos os principais estádios cariocas, incluindo o Maracanã.
De acordo com a pesquisa do aplicativo, que rastreia casos de tiroteios no Rio de Janeiro, houve 22 casos nos arredores de São Januário em 2023, exatamente o mesmo número do Maracanã. O Nilton Santos teve 16 casos nos arredores durante o mesmo período. A pesquisa considera uma área de 2 km ao redor de cada um dos estádios.
- Maracanã – 22
- São Januário – 22
- Nilton Santos – 16
“Para contextualizar a completa inoperância do local, desde a área externa até a interna, é importante observar que todo o complexo é cercado pela comunidade da barreira do Vasco, onde ocorrem frequentemente disparos de armas de fogo provenientes do tráfico de drogas local, gerando um clima de insegurança para chegar e sair do estádio. São ruas estreitas, sem saída, que sempre ficam lotadas de torcedores se embriagando antes de entrarem no estádio”, diz o relatório do juiz Marcelo Rubioli, que estava de plantão no Juizado Especial do Torcedor e Grandes Eventos durante uma partida contra o Goiás. O documento completo, que apresenta outros argumentos, foi usado como base para a ação do Ministério Público que resultou no fechamento do estádio pela Justiça do Rio.
Em outra pesquisa realizada pelo GLOBO na plataforma Fogo Cruzado, focada especificamente na comunidade da Barreira do Vasco, alvo do relatório, os dados mostram um número insignificante em meio ao cenário generalizado de violência urbana na cidade do Rio de Janeiro: desde 19 de setembro de 2021, quando o Vasco voltou a jogar na Colina após a pandemia de Covid-19, apenas 14 dos 4.057 relatos de tiroteios na cidade ocorreram na comunidade ao lado de São Januário. Ou seja, 0,35% dos relatos.
A Associação de Moradores da Barreira do Vasco (AMBV) emitiu uma nota de repúdio, na qual afirma que há uma “visão distorcida da realidade” e que o fechamento do estádio está prejudicando os comerciantes locais. No último sábado, Vânia Rodrigues, presidente da AMBV, esteve presente em uma homenagem ao centenário das Camisas Negras, quando foi homenageada com a distinção Pai Santana, e voltou a pedir pelo fim do fechamento do estádio.
“Somos punidos sem sermos ouvidos com base em uma visão distorcida da realidade que trata todas as comunidades do Rio de Janeiro da mesma maneira. Além disso, a AMBV entende que o fechamento injustificado do estádio de São Januário está causando prejuízos imediatos a todo o nosso comércio local, como bares, restaurantes e vendedores ambulantes localizados em nossa comunidade, pois todos dependem em grande parte dos jogos, que trazem mais de 20 mil torcedores por partida”, diz trecho da nota.
Fonte: O Globo